«Era
de tardinha na leprosaria de Fontilles, Espanha. Depois de atender os
meus leprosos, saí da enfermaria para espairecer um pouco. E rezar o
terço. O meu caminho passava diante da capela. Entrei e ajoelhei-me num
dos bancos.
Na
penumbra do santuário percebi que lá na frente junto ao presbitério
havia alguma coisa, alguma figura que se movia pouco. Os contornos
foram-se definindo e, finalmente, não havia dúvida: era uma mulher
ajoelhada e com os braços em cruz.
Aquela
cena mexeu comigo, me chamou a atenção e fiquei a olhar aquele
espetáculo, sobre o qual todo o céu devia estar debruçado. Os dois
braços pareciam terminar em mãos fechadas.
Observando
melhor percebi que eram mãos sem dedos! Eram mãos leprosas. E estavam
em cruz! Como se a lepra não fosse já uma cruz e a pobre mulher não
estivesse já crucificada. De vez em quando, os braços caíam para um
breve descanso; depois subiam de novo...
A mulher estava absorta em oração diante do crucificado, alheia ao que se passava em torno de si.
Lembrei-me
aí de Moisés no alto do monte a rezar. Só que o velho patriarca tinha
dois homens a segurar-lhe os braços, e aquela mulher estava só,
crucificada na sua lepra.
Senti
uma vontade enorme de trazer o mundo inteiro para dentro daquele
pequeno templo. Especialmente o mundo elegante e vazio, que vende a alma
ao conforto e à preocupação com o corpo.
Depois
da comoção, comecei a sentir vergonha. Vergonha por mim mesmo e pelo
mundo, pelos homens e mulheres do meu tempo. Vergonha por ver que nós,
pecadores, não fazemos a penitência de que precisamos...»
O
mês de julho nos traz uma data muito importante: a festa de Nossa Senhora do
Carmo.
Esta
invocação está intimamente ligada à primeira manifestação de Maria na história
da humanidade.
O
Monte Carmelo fica na Galileia e foi lá que o profeta Elias estava rezando após
três anos e meio de seca que afligia todo o povo de Israel.
Uma
pequena nuvem, do tamanho da palma de uma mão apareceu por cima do mar e o
profeta mandou avisar ao rei que a chuva cairia sobre o país, salvando o povo
da miséria e da seca.
Aquela
nuvem era um sinal da Virgem Maria, pois assim como ela anunciava a chuva
salvadora, a humilde Maria anunciou e trouxe em si mesma a grande chuva de
graças de nossa Redenção que foi Nosso Senhor Jesus Cristo.
Uma
antiga tradição diz que os discípulos de Elias, em lembrança daquela visão,
fundaram uma congregação no próprio Monte Carmelo para homenagear a Mãe do
Messias que viria para salvar a humanidade.
Segundo
a mesma tradição, esta Congregação no dia de Pentecostes, eles abraçaram o
cristianismo e erigiram no Monte Carmelo um santuário à Santíssima Virgem,
naquele mesmo lugar, onde Elias vira aparecer a nuvenzinha. Adotaram eles o
nome de Irmãos da Bem-Aventurada Maria do “Monte Carmelo”.
Em
1225, o inglês Simão Stock tornou-se carmelita e no ano seguinte viajou a Roma
onde a Ordem foi oficialmente reconhecida em 1.226, depois de uma aparição da Santíssima
Virgem ao Papa Honório III.
Os
carmelitas sofreram terríveis perseguições, mas a Virgem Santíssima sempre teve
uma predileção especial pela primeira Ordem erigida em seu louvor e por isso,
em 16 de julho de 1251, enquanto São
Simão Stock, já superior geral, rezava, diante dele apareceu Maria Santíssima,
rodeada de uma multidão de anjos, e trazendo, em suas mãos, o Escapulário da
Ordem, dizendo essas palavras: “Meu
filho, eis o meu escapulário, que será o distintivo de minha Ordem. Aceita-o
como um penhor de privilégio, que alcancei para ti e para todos os membros da
Ordem do Carmo. Todo aquele que morrer revestido deste santo Escapulário, não
arderá nas chamas do Inferno. Este hábito é um sinal de salvação, uma segurança
de paz e aliança eterna”.
Em
pouco tempo o Escapulário de Nossa Senhora do Carmo já cobria desde os mais
humildes camponeses até Papas, Cardeais e Bispos.
Em
1314, Nossa Senhora aparecendo ao Papa João XXII e prometeu especial proteção
aos que trouxessem o Escapulário, acrescentando que os livraria do purgatório,
no primeiro sábado após sua morte. Este Papa publicou a Bula Sabatina,
estabelecendo os privilégios e condições do uso do Santo Escapulário.
Um
costume muito salutar é beijar o Escapulário todo dia, e rezar 3 Ave-Marias,
pedindo a graça de não cair em pecado grave.
A
morte, por dolorosa que seja, é inevitável. Todos nós passaremos por ela. Por
isso, é preciso nos prepararmos, pois será nossa última e principal batalha.
O
Escapulário que Deus nos entrega pelas mãos de Maria será a melhor arma para
esse momento tão difícil, porque Ela prometeu estar presente para acompanhar
seus devotos nessa hora em que disputamos a posse eterna do céu.
Às
vezes somos tendentes a empobrecer a devoção a Nossa Senhora do Carmo
imaginando que o Escapulário é uma espécie de amuleto que dá sorte. Entretanto,
ele é um símbolo de algo que precisamos viver em profundidade: sermos devotos
de Maria Santíssima e imitar suas virtudes, sendo verdadeiros cristãos.
A
principal condição que Nossa Senhora colocou foi a guarda da castidade, segundo
o estado de cada um. Além disso, desapegar-se das coisas materiais, guardando a
pureza da alma e do corpo.
As
condições estabelecidas pela Igreja para a utilização do Escapulário, são as
seguintes:
-
Receber
o escapulário das mãos de um sacerdote habilitado para fazer a imposição e
usá-lo com devoção. Quando precisar mudar o escapulário, aí já não é mais
necessária a bênção.
- Convém rezar
diariamente algumas orações marianas, normalmente um terço ou, pelo menos sete
Pai-Nossos, sete Ave-Marias e sete Glória ao Pai.
Os
decretos pontifícios não estabelecem uma oração específica. Geralmente o
sacerdote indica no momento em que faz a imposição do escapulário.
- A pessoa deve conservar
a castidade própria ao seu estado e rezar as horas marianas. Quem não puder
cumprir esta segunda condição, observe a abstinência de carne nas
quartas-feiras e sábados. As duas obrigações de recitar o ofício mariano e a
abstinência de carne podem, se houver razões suficientes, ser comutadas em
outras equivalentes.
São
inúmeros os casos de milagres operados pela devoção ao Santo Escapulário:
1
- A revista americana THE SCAPULAR transcreve o seguinte episódio: “Há pouco
tempo, um capelão militar entrou em um vagão de trem onde se achava um soldado.
Este, não percebendo que o capelão era protestante, cumprimentou-o e entabulou
conversa, apresentando-se:
“Padre,
eu sou Billy Rive, o soldado que foi atingido pela bala que se achatou no Escapulário”.
E tirou do bolso o bentinho rasgado. A bala atravessou a roupa e eu caí.
Julguei que tivesse chegado o último momento. Quando voltei a mim, o capelão estava
curvado sobre mim: ele não era católico e quando viu o ocorrido, chamou o
sacerdote. Tiraram do bentinho a bala achatada e a única consequência foi uma
leve contusão”.
O
ministro tomou o bentinho das mãos do soldado e estudou cuidadosamente. Depois
de prolongado silêncio disse: “Não sou católico, mas será que eu poderia usar o
escapulário também?”. Billy Rice antes de ir para a guerra tinha abandonado sua
fé católica. Foi somente por insistência de sua mãe que prometera usar o
Escapulário do Carmo.
Nas
histórias de Santos, normalmente se contam casos que aconteceram com pessoas
que não conhecemos. Mas eu tenho um caso em que eu mesmo sou testemunha. Eu
tive um aluno, um rapazinho aqui em São Paulo que estudava, em regime de
semi-internato, num colégio católico e recebeu o escapulário. Pouco a pouco o
rapaz, iludido com os atrativos do mundo estava se afastando da Religião e se
percebia que, dentro alguns anos, sobretudo quando viessem as solicitações
próprias da adolescência, ele provavelmente se afastaria totalmente de Deus.
O
pai e a mãe dele rezavam sempre pedindo a proteção de Nossa Senhora para seu
filho. Ele ficava toda a semana no colégio e nos fins de semana ia para a casa
dos pais, de trem. Certa vez ele despediu-se do diretor do colégio e foi para
casa. Quatro dias depois o pai telefona para o colégio perguntando por que o
filho não foi para casa naquele final de semana.
-
Mas ele saiu daqui na sexta-feira à tarde! - Disse o diretor.
-
Até hoje não chegou em casa, disse o pai, já com a voz embargada.
O
diretor do colégio foi com o pai a várias delegacias e hospitais, mas nada.
Restava apenas um lugar: o IML.
Chegam
lá, perguntamao funcionário se tinha dado entrada o corpo de algum jovem falecido.
Imaginem
a aflição daquele pai, enquanto o funcionário procurava nas fichas...
Tem
aqui um rapaz de uns 14 ou 15 anos, mas não temos nenhum documento pois estava
sem nada nos bolsos.
O
pai, muito católico e também um homem de muita fibra, muito decidido estava
percebendo que tinha perdido seu filho, mas preocupava-se, sobretudo, como o
destino eterno do menino. Ele teria se salvado? Pedia a Deus um sinal.
Enquanto
o funcionário puxava a gaveta, comentava com o pai: “Não sei se o Sr. vai
conseguir reconhecer, foi atropelado por um trem...
Apareceram
primeiro as pernas, totalmente despedaçadas, o abdome, o peito... e aí o pai
viu o escapulário que o menino segurava com uma das mãos!
Entre
lágrimas o pai dizia. Perdi o meu filho, mas graças a Deus ele está no céu.
Nossa Senhora me deu o sinal!
Um
outro jovem, de 16 anos, também conhecido meu, que morava em Itaquera, São
Paulo, afogou-se na praia de Bertioga e foi levado pelo mar. Os bombeiros
encontraram seu corpo, três dias depois em uma ilha, segurando, com as duas
mãos o escapulário!
É
impressionante o fato narrado na vida de São João Batista Vianey, conhecido como
o Santo Cura D´Ars: Ele confessava uma moça. Em certo momento ele olhou para
ela e perguntou: “Não te lembras daquele baile em que entrou um rapaz muito
elegante e começou a dançar com as outras moças”
-
Como o Sr. sabe?
Sem
responder, continuou o santo: “Lembras como ele não te convidou, te sentiste
desprezada?” - Lembras que ao se retirar ele do salão, parecia saírem faíscas
de seus sapatos? - “Pois bem, aquele rapaz estava possuído pelo demônio, e não
se aproximou de ti porque trazias o Escapulário.
Em
Fátima, coroando todas as aparições, que foi o acontecimento mais importante do
século XX, Nossa Senhora quis mostrar-se a Lúcia vestida com o hábito dos
carmelitas, com o seu Escapulário, mostrando que o principal simbolismo do
escapulário é ser a veste da própria Virgem Maria.
Usemos o escapulário com toda a
devoção, com todo o amor e, sobretudo, sejamos fervorosos devotos de Nossa
Senhora, pois Ela é o caminho pelo qual Jesus veio até nós e Ela é o caminho
certo, pelo qual nós iremos a Jesus.
'Ao
terminar a costumada visita aos paroquianos doentes, quando entrava na
igreja o jovem padre vê uma senhora vir ao seu encontro:
-- Senhor Prior, venha a casa de um homem que está muito doente!
Ele retornou da África há pouco tempo. É contra a Religião e até diz que
não o receberá, mas venha! Ninguém me pediu para o chamar, mas o senhor
é sacerdote e ele é uma alma para salvar.
Um paroquiano que ouviu a conversa intrometeu-se: -- Ora, Senhor
Padre, lá o senhor não vai conseguir fazer nada. Não vale a pena
incomodar-se, pois já é quase noite e está a cair neve. Vá para a casa
paroquial descansar.
Ao padre nem pareceu ter ouvido a sugestão do paroquiano. E disse:
-- Eu vou agora mesmo, pois receio não dar tempo de atender o pobre
homem. Vou cumprir meu dever! – respondeu prontamente o sacerdote, que
pôs toda a confiança em Deus.
Depois de dura caminhada noturna chegou e entrou numa casa
miserável. O ar era irrespirável. Numa cama perto da lareira o doente
tossia forte e quase ao desespero. A seu lado, a idosa mãe lhe fazia
companhia, agasalhada num cobertor.
Ao ver o sacerdote a mulher levantou-se muito surpreendida e o
homem doente, ainda com ar de rapagão, muito zangado, gritou-lhe:
-- Que veio fazer aqui? Vá-se embora, eu não preciso de você. E deu-lhe as costas.
-- Meu amigo, -- respondeu calmamente o Pároco – acabo de visitar
todos os meus doentes e como soube que estava de cama, vim vê-lo também.
Venho com muito gosto e sem más intenções. Vejo que ficou um pouco
aborrecido, mas apesar de tudo, voltarei amanhã. Virei todos os dias
rezar com você enquanto estiver doente. Muito boa noite!
A mãe saiu com o jovem sacerdote e disse-lhe:
-- Senhor Padre, não se zangue. Ele não é tão mau como parece. Isto
foram as más companhias em África. E agora com essa doença...
compreende? Por favor, não o abandone.
Começou então para o sacerdote outra grande prova da sua vida. A
salvação dessa alma. Anos mais tarde ele recordaria tudo isso com muita
alegria, pois as provas mais duras são as que deixam recordações mais
consoladoras.
Visitar o pobre doente todos os dias, percorrer o mesmo trajeto,
longo, alguns dias debaixo de chuva e trovoadas, para só ouvir insultos
daquela boca doentia, sem uma palavra de agradecimento. . . Que
tormento! Que escola de paciência!
Depois de ouvir sabe lá o quê, o sacerdote descia a
encosta, pedindo à Virgem Maria, Refúgio dos Pecadores, que tivesse pena
daquela alma. Quantas vezes ele soluçava a meia voz e repetia: “Ó Maria, Vós
sois a melhor das mães, que socorre sempre os seus filhos tão
necessitados. Desde que estou no mundo, quando minha mãe me ensinou a
pronunciar vosso nome nas horas difíceis, eu tenho recorrido com
confiança a Vós, e sempre fui atendido. Peço-vos então por esta alma
endurecida pelo orgulho, não para mim, mas para Jesus e para Vós. E
como sou vosso instrumento, farei a vossa vontade. Amem.”
Depois de rezar esta oração sentia grande paz e compreendia que aquelas palavras de Jesus a Pedro: “Vai, meu filho, vai. Compreenderás tudo mais tarde” eram também para si.
Já tinha feito vinte e cinco visitas, algumas sem conseguir entrar na casa. Neste dia quando chegou à aldeia disseram-lhe:
-- Senhor Padre, ele está muito mal, está mesmo a morrer!
O sacerdote, confuso, quase nem tinha coragem de bater à porta, onde
parou, indeciso. Mas resolveu-se a cumprir seu dever de pastor das
almas. Bateu, entrou e aproximou-se do leito. Como sempre, o doente
virou-se de costas em sinal de desprezo pela presença dele. O Pároco não
desistiu e disse-lhe pertinho com um tom carinhoso:
-- Meu amigo, chegou a hora final de pensar na sua alma. Estou aqui para ajudá-lo!
Cena horrorizante: o moribundo começa a estrebuchar e insulta-o aos gritos. Depois de uma pausa, acrescentou:
-- Estou mesmo morrendo. Mas ainda tenho forças para pegar um pau e dar-lhe uma pancada na cabeça!
O sacerdote aproximou-se do rapaz, senta-se junto aos pés dele e diz:
-- Aqui você me tem mais de jeito para bater. Faça como quiser.
O homem calou-se, espantado, e o pároco continuou:
-- Amanhã a esta hora estarei aqui para o confessar e você há de fazê-lo.
Saiu pedindo a Nossa Senhora que não abandonasse aquela alma. No dia seguinte, pela vigésima sétima vez entrou na casa.
Maravilha! Encontrou o doente completamente mudado. O padre sentou-se
a seu lado e começou a rezar alto e lentamente, despertando nele
sentimentos de verdadeira contrição e depois disse:
-- Deus Nosso Senhor e a Virgem Maria estão aqui no meio de nós. Não
tenha receio, será muito simples. Eu vou fazer perguntas às quais
responderá apenas sim ou não.
À medida que a confissão avançava, as lágrimas do penitente
aumentavam. O padre pediu a Deus que lhe desse um sinal comprovativo das
boas disposições desta alma. Neste momento o homem começou a falar:
-- Senhor Padre, quero pedir-lhe uma coisa, Deus vai perdoar-me, mas o
senhor perdoe-me também. Tratei-o como se trata um cão. Quis bater-lhe,
matá-lo e apesar de tudo o senhor sempre voltou. Percorreu mais de 300
quilômetros para me ver todos esses dias. Eu fiz a conta. A sua
caridade me fez pensar. É um homem sério que acredita no que diz. O
senhor perdoa-me?
Cheio de compaixão o sacerdote respondeu:
-- Cem vezes, se for preciso! Agora diga comigo o Ato de Contrição.
No fim da confissão e com um esforço enorme o moribundo conseguiu
pôr-se de pé e abraçou o pároco. Meia hora depois recebeu Unção dos
Enfermos e o Sagrado Viático. No dia seguinte à noite partiu para a casa
do Pai. Morreu tranqüilo.
Quando o franzino sacerdote desceu a encosta, a sua alma cantava como
nunca. Agradecia a Nossa Senhora e aprendia por experiência duas
verdades:
-- que só Deus converte;
-- que Nossa Senhora é toda-poderosa quando suplica a Deus.
Este caso, acontecido há mais de cem anos em França, veio traduzido e relatado na revista “Irmã Maria”, órgão da Causa de Beatificação e Canonização da Beata Maria do Divino Coração.