Fonte: publicado no blog do
Apostolado do Oratório, com pequenas adaptações, baseado em artigo da Revista
Arautos do Evangelho, Maio/2006, n. 53, p. 24-25.
Bolonha – norte da Itália
Assim que os olhos de sua
filha abriram-se para este mundo, Castora tomou-a nos braços e ofereceu-a à
Santíssima Virgem: “Ó Senhora, uma filha mais bela Vós não podíeis ter-me dado!
Eu Vo-la ofereço, tomai-a por inteiro”. A Virgem Maria aceitou com agrado esse
oferecimento. A pequena Imelda cresceu em idade e virtude sob os cuidados de
sua piedosa mãe que lhe dispensou uma esmerada formação religiosa.
As recreações próprias à
infância não a atraíam. Do que ela gostava mesmo era conversar sobre Deus e as
coisas sobrenaturais. Passava longas horas ajoelhada diante de um pequeno altar
que ela mesma adornava e floria. A voz de Deus não tardou a inspirar- lhe no
fundo da alma o desejo de abandonar o mundo e consagrar-se totalmente ao seu
serviço.
Monja exemplar, com apenas dez anos!
Naquela época era comum a
admissão de crianças em conventos, seja por vontade própria, seja por
iniciativa da família. Assim, aos oito anos de idade, Imelda Lambertini foi
admitida como oblata no mosteiro dominicano de Santa Maria Madalena di Val di
Pietra, onde se preparava para ingressar no noviciado.
Dois anos depois, numa singela
cerimônia, teve a felicidade de receber o Hábito de São Domingos. Bem sabia a
santa menina que esse inapreciável dom lhe pedia, em contrapartida, um
redobramento de fervor. Tomando aquele ato com profunda seriedade, Imelda
tornou-se modelo para todas as irmãs. Só pelo fato de vê-la passar com alegria,
modéstia e humildade, as religiosas sentiam-se confirmadas em sua vocação.
O que ela mais amava era Jesus
Sacramentado. Sua alma inocente exultava de gozo ao considerar que no sacrário
estava presente aquele mesmo Jesus nascido da Virgem Maria, que em Belém fora
colocado numa manjedoura, e por amor a nós fora crucificado e morto, mas
triunfante ressuscitara ao terceiro dia!
A monja-menina passava horas junto ao Sacrário.
Apenas surgia uma oportunidade, lá estava ela imóvel, com os olhos fixos no Tabernáculo,
a fisionomia iluminada por uma intensa claridade. As religiosas se admiravam do
fervor e piedade de sua infantil companheira e, maravilhadas, concluíram que
sobre aquela alma pairava um especial desígnio da Providência.
Quando poderei comungar?
Sempre que a comunidade
reunia-se na capela para a Missa conventual, Imelda contemplava, extasiada,
todas aquelas que se aproximavam da Mesa Eucarística para a Comunhão. Surgia-lhe
interiormente esta interrogação: “Como se pode continuar vivendo nesta terra
após ter recebido o próprio Deus? Meu Jesus, quando poderei também eu ter a
alegria de Vos receber?”
Naquele tempo, não era
permitido às crianças comungar, mas nem por isso era menos ardoroso seu desejo
de receber a Eucaristia. Encontrando- se com o confessor ou com a Madre
Superiora, repetia sempre a mesma pergunta:
– Quando poderei comungar?
Mostrava-se obediente e
resignada ante a resposta invariável de que era preciso “esperar ainda um ano”,
mas suspirava cada vez mais pelo raiar do dia que seria para ela, sem qualquer
dúvida, o dia mais feliz de sua vida, o da Primeira Comunhão.
Morreu de felicidade
Na madrugada de 12 de maio de 1333, véspera da festa da Ascensão do Senhor, os sinos tocaram alegremente, chamando as religiosas para o cântico do Ofício Divino. Acabada a salmódia, o Sacerdote iniciou a celebração da Santa Missa. Na hora da Comunhão, de joelhos no fundo da igreja, Imelda acompanhava com ardorosos desejos a movimentação das monjas que recebiam a sagrada Hóstia e retornavam recolhidas a seus lugares. De seu coração brotou a mais ardente súplica:
– Meu Jesus, dizem-me que,
pelo fato de ser criança, não posso ainda comungar… Mas Vós mesmo dissestes:
“Deixai vir a Mim os pequeninos”. Eis que Vos peço, Senhor: vinde a mim!
Jesus, em seu terno amor aos
inocentes e humildes de coração, não resistiu a esse apelo: uma Hóstia
destacou-Se do cibório, elevou-se no ar e, traçando um rastro luminoso por onde
passava, foi pousar sobre a cabeça de Imelda! O ministro de Deus, vendo nesse
prodigioso fato uma clara manifestação da vontade divina, tomou a Hóstia e
deu-lhe a Comunhão.
Ela fechou os olhos, inclinou
suavemente a cabeça e permaneceu absorta num profundo recolhimento. Terminou a
Missa, passou-se longo tempo, mas a pequena religiosa não fazia o menor
movimento, e ninguém se atrevia a perturbar aquela paz beatífica, aquele êxtase
em que ela se encontrava, convertida num tabernáculo vivo de Deus. Por fim, a
Madre Superiora tomou a decisão de chamá-la, e qual não foi a surpresa de todos
ao verificar que a menina não respondia… Imelda estava morta, seu coração não
resistira a tanta felicidade!
Em 1826 o Papa Leão XII
confirmou e estendeu para toda a Igreja o culto que havia séculos se prestava a
ela em Bolonha. E São Pio X a proclamou, em 1908, padroeira das crianças que
vão fazer a Primeira Comunhão. Seu corpo virginal permanece incorrupto e pode
ser venerado na capela de São Sigismundo, em Bolonha. Sua memória litúrgica é celebrada
no dia 12 de maio.
Ó Beata Imelda, morrestes no
Senhor! Concedei a nós, peregrinos nesta terra, que vosso luminoso exemplo de
amor faça nascer em nossos corações uma fome eucarística inextinguível e que,
saciados com o Pão dos Anjos, possamos um dia cantar eternamente convosco a
glória de Jesus que morreu por nós na Cruz e Se fez nosso alimento espiritual
até a consumação dos séculos.
Beati
mortui qui in Domino moriuntur
(Bem-aventurados os que morrem no Senhor).
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