quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Os primeiros discípulos de Jesus


Enquanto Jesus, retirado no deserto, se preparava com a penitência e oração para a conquista das almas, trabalhava João em formar-lhe discípulos capazes de o compreenderem. Com efeito, haviam-se colocado sob a sua direção alguns generosos penitentes, a fim de se aproveitar melhor dos ensinamentos do anacoreta e de se iniciar na pratica das virtudes. A gruta do Batista tornou-se uma escola de santidade.

Neste escol, não contava o austero pregador nem escribas, nem doutores, nem fariseus, nem saduceus. A sua doutrina enfurecia a estes orgulhosos e efeminados, mais cativos do luxo pagão, que da rude simplicidade dos patriarcas. Deus guiava para a escola do profeta pobres, operários, pescadores galileus, sobre os quais tais planos formava que ninguém então podia sequer suspeitar.
Entre eles salientavam-se mais André e Simão, filhos de Jonas; Tiago e João, filhos de Zebedeu; os quais ganhavam a vida lançando as redes ao lago de Genesaré. Originários da modesta cidade de Betsaida, situada na costa setentrional do lago, tinham todos a mesma fé, os mesmos gostos, os mesmos desejos e a mesma admiração para com o santo precursor.
Foram dos primeiros a receber-lhe o batismo, e dedicaram-se-lhe de alma e coração. Retidos pelas suas ocupações passavam muitos dias longe do Mestre; porém mal se viam livres, largavam barcas e redes, costeavam as margens do rio, e chegavam à gruta para ser instruídos pelo homem de Deus.
Cheio de ternura para com os seus discípulos, elevava-os João gradualmente à vida sobrenatural que ele próprio praticava.
Desapegava-os da terra, inspirava-lhes o amor da solidão, voltava-lhes o coração para Deus soberano, que deve ser o único objeto das nossas aspirações. Para ajudá-los a subir até Ele, ensinava-lhes formulas de oração, que o Espírito-Santo lhe ditava, e que eles cuidadosamente gravavam na memória. Falava-lhes sobretudo, com amor, do Reino de Deus, do seu estabelecimento, e do Cristo, seu futuro fundador.
Um dia, entretinha-se o santo precursor, como de costume, com alguns dos seus privilegiados, quando, num momento, lhes atraiu a atenção um caminhante que para eles se dirigia. Era Jesus, que descendo da montanha onde fora tentado, chegava às margens do Jordão. Logo que o avistou, sentiu-se João impelido pelo Espírito-Santo a dar a conhecer aos seus discípulos aquele Cristo, de quem tantas vezes lhes havia falado. Apontando para o caminhante, exclamou em santo transporte: AEis o Cordeiro de Deus, eis o que tira os pecados do mundo.
Designava assim claramente o Messias, a quem os doutores aplicavam estas palavras de Isaías: Tomou sobre si as nossas iniquidades; sacrificou-se, porque assim o quis; como um cordeiro que não bala diante de quem o tosquia, não abriu a sua boca. De resto, todos os dias, o Cordeiro de propiciação, imolado no templo pelos pecados de Israel, lembrava aos Judeus o verdadeiro Cordeiro de Deus, que, segundo o profeta, carregaria um dia com todas as nossas iniquidades.
Para não deixar ressaibo de dúvida no espírito dos discípulos, João acrescentou:
Era de Jesus de Nazaré, que eu vos dizia: Depois de mim vem Aquele que existia antes de mim. Eu não o conhecia, e contudo foi para o dar o conhecer em Israel que vim conferir o batismo d'água. E em prova do que afirmava contou os fatos maravilhosos que aconteceram no batismo de Jesus. Vi, disse, ao Espírito-Santo que descia do Céu na forma duma pomba e repousava sobre ele. Ora, quando eu ainda o não conhecia, Aquele que me enviara a batizar com água, tinha-me dito: Aquele sobre quem vires descer o Espírito-Santo e pousar sobre ele, esse é quem batiza no Espírito-Santo. Eu vi este sinal, e é por isso que dou testemunho de que Jesus é o Filho de Deus.
Esta afirmação do profeta impressionou profundamente o espírito dos ouvintes. Estupefatos perante esta súbita aparição do Libertador de Israel, ficaram silenciosos, e Jesus desapareceu sem que lhe dirigissem uma palavra. Como se tinham entregado ao precursor, nem sequer pensaram em seguir o novo Mestre.
No dia seguinte, encontrava se João ainda com dois dos seus discípulos, João e André, pescadores de Betsaida, quando Jesus passou de novo por diante deles. Como de véspera, apontou João para ele e exclamou outra vez: AEis ali o Cordeiro de Deus! Mas agora foi tão expressivo o seu olhar, e o seu brado saiu-lhe tanto do coração que os dois discípulos sentiram-se comovidos até o mais fundo da alma. Não precisou Jesus de dizer-lhes:
Segui-me!
Arrastados por uma força irresistível, lançaram-se por si mesmos a seguir os passos de Jesus.
E Jesus ia continuando a sua derrota ao longo do Jordão. Reparando que o seguiam, voltou-se para os dois mancebos e disse-lhes com ar bondoso: Que procurais?
Mestre, responderam os dois, onde morais? mostrando bem que era seu desejo o conversar mais detidamente com ele.
Vinde e vede, disse Jesus. E levou-os à gruta que lhe servia de asilo desde há uns dias.
Era isto pela décima hora, e a tarde aproximava-se. A conversa entrou muito pela noite dentro; os dois mancebos expandiram os seus corações no de Jesus, e quando o deixaram, não só o tinham tomado já por Mestre, mas ardiam no desejo de lhe recrutar discípulos.
Simão, irmão de André, encontrava-se também por aquelas paragens. André correu a toda a pressa a ter com ele, e diz-lhe cheio de gozo: AEncontramos o Messias.
Simão deixa logo tudo e segue ao irmão. Mal que chegaram aonde estava Jesus, fixando o Senhor o olhar no recém-vindo, diz-lhe: ATu és Simão, filho de Jonas, doravante ficar-te-hás chamando Cefas, que significa Pedro. Simão, o pescador, não compreendeu o que viria a ser esta mudança; mas dando-lhe este novo nome, assinalava já o Mestre neste homem a pedra fundamental do edifício que pretendia construir.
No dia seguinte, seguido dos seus três companheiros, dirigiu-se Jesus para a Galileia. No caminho encontraram um certo Filipe, natural de Betsaida, como Pedro e André.
Segue-me, disse-lhe Jesus, e esta só palavra penetrando-lhe o coração como um dardo de fogo, acendeu nele o zelo mais ardente.
Tinha Filipe um amigo, por nome Natanael: correu logo a anunciar-lhe a boa nova. Natanael, à sombra duma figueira, meditava nesse momento sobre os grandes acontecimentos que se estavam dando em Israel. Mal que Filipe o avistou de longe, gritou-lhe:
Nazaré.
Encontramos Aquele a quem Moisés e os profetas anunciaram: é o filho de José, o carpinteiro de
De Nazaré? - respondeu Natanael sorrindo-se. Que pode vir de bom lá desse burgo da Galileia?
Vem comigo, retorquiu Filipe, e verás. Natanael seguiu ao seu amigo. Ao vê-lo vir para si, estendeu Jesus os braços para ele, com estas palavras: «Eis um verdadeiro Israelita, singelo e sem fingimento».
Senhor, observou Natanael, e como podeis sabê-lo? - Antes de Filipe te chamar, respondeu Jesus, vi-te eu debaixo da figueira. Por este dito compreendeu Natanael que tinha diante de si Aquele Senhor que tudo vê. E não podendo conter a sua emoção, arrancou do peito esta exclamação de fé e amor: «Mestre, vós sois em verdade o Filho de Deus, o rei de Israel». Tu crês em mim, tornou-lhe Jesus, por ouvir-me dizer que te vi debaixo da figueira: serás testemunha de prodígios mais assombrosos. Em verdade, em verdade, eu vô-lo digo a todos: Vereis abrirem-se os céus, e aos anjos subindo e descendo sobre o Filho do homem.
Três dias depois, chegaram a Galileia, onde, com o seu primeiro ato, mostrou Jesus aos cinco discípulos que ele dispunha, não somente dos anjos, mas até da onipotência de Deus.
Fonte: JESUS CRISTO. SUA VIDA, SUA PAIXÃO, SEU TRIUNFO - R. Pe. Berthe da Congregação do Ssmo. Redentor.

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