Fonte: Padre Antônio Steffen, S. J. (no
site Encontro de jovens com Cristo).
- Mas que
relógio miserável, Santidade! Um relógio destes não condiz de forma alguma com
a dignidade de um Papa.
Realmente, o
relógio era de níquel, pesadão e inteiramente fora de moda.
Na América
comprar-se-ia um relógio destes por um dólar - continuou sobranceiro o
visitante. Olhe, isto é que é relógio! E tirou do bolso do colete um relógio de
ouro, adornado com diamantes: custou mil dólares, Santidade. Apertou um
botãozinho revestido duma pérola preciosa e um sinalzinho deu a hora com som de
prata refinada.
- De fato, é um
relógio precioso - anuiu o Papa.
- Sabe? Eu
gostaria imensamente de ter uma lembrança de Vossa Santidade - continuou o
milionário. Dê-me o seu relógio de níquel e eu dou-lhe em troca o meu de ouro.
Acho que Vossa Santidade não deixará de aceitar esta troca, não é verdade?
- Não, meu caro
senhor - respondeu o Papa sorrindo. Seria uma péssima troca para mim, pois o
meu relógio é muito mais precioso do que o seu!
Extremamente admirado, o visitante perguntou
como era possível. Mais valioso que o seu de ouro?
- Vou dizer porque, respondeu-lhe o Papa, com
um sorriso fino nos lábios. Meus pais eram pessoas bem pobres. Meu pai era
carteiro rural. Com esta profissão duríssima, que exigia dele longas
caminhadas, mal ganhava o necessário para nos sustentar. Mas nós estávamos
contentes com o pouco que tínhamos e vivíamos felizes.
E ficou um momento em silêncio. Parecia estar
ausente, na sua longínqua casa paterna. Depois, como que refazendo-se de uma
emoção interna, continuou:
- Nós, os
meninos, tínhamos que ajudar a economizar o mais que podíamos. Fazíamos a pé a
longa caminhada de casa para a escola, descalços levando aos ombros os nossos
sapatos, para poupá-los, calçando-os apenas quando chegávamos na escola. Depois
de voltarmos para casa, procurávamos pastagem para a nossa cabra, que era o
nosso único tesouro e que era mimada por todos, porque nos dava o leite que tomávamos
com o pão.
- Ao completar
treze anos - continuou sério o Papa - pude ir pela primeira vez à mesa do
Senhor. Como a nossa mãe teve de se esfalfar para que pudéssemos celebrar uma
pequenina festa! Quando saí da igreja, disse-me:
- “Filho, tu sabes como somos pobres, desde
que morreu o pai. Contudo, quero dar-te uma pequena lembrança deste grande dia,
em que Jesus entrou pela primeira vez no teu coração”.
- E dizendo
isto, tirou de um lencinho de seda este pobre relógio de níquel. Este presente
alegrou-me tanto, como se me tivessem dado muitos tesouros do mundo. Lancei-me
ao colo de minha mãe, beijando-a de alegria e gratidão. Que sacrifício terá
custado para ela desfazer-se deste relógio!
- Por isso este
relógio é para mim um objeto sagrado, do qual me separarei só na hora da morte.
E ele parece recompensar-me a estima que sempre lhe votei. Até hoje não foi
preciso levá-lo a um relojoeiro e durante todos estes anos cumpriu a sua tarefa
com perfeição. Compreende agora porque não lhe posso ceder e porque é mais
precioso para mim do que o relógio mais caro que possa existir em todo o mundo?
- Sim, agora
compreendo - concordou o embaixador e, meio envergonhado, embolsou novamente o
seu relógio de ouro e concluiu:
- Como deve ter
sido feliz a mãe de Vossa Santidade, por ter um filho assim!
- Diga antes -
respondeu São Pio X - como é feliz o filho que teve uma mãe tão santa!
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