Jean Martin Charcot, famoso líder do positivismo “religioso” do século XIX, certa vez comentou: “Ao consultar o catálogo de curas chamadas milagrosas, nunca se tem podido comprovar que a fé tenha feito reaparecer um membro amputado”.
Pois
bem, foi isso exatamente o que aconteceu em Calanda: uma perna amputada foi
reimplantada miraculosamente depois de mais de dois anos de enterrada. Este
acontecimento extraordinário, sobrenatural, foi estudado exaustivamente, com
todo o rigor científico, por Messori no seu livro “O grande milagre”.
Cirurgiões
e enfermeiros realizaram sucessivamente a cauterização do toco da perna com um
ferro em brasa. O processo e a investigação foram abertos 68 dias depois e se
prolongaram por muitos meses, sendo presidido pelo Arcebispo de Zaragoza,
assistido por nove juízes, com dezenas de testemunhos e um rigoroso respeito às
normas prescritas pelo Direito Canônico.
A
sentença do processo declarou que a perna reimplantada de maneira tão repentina
era a mesma que fora cortada e em seguida enterrada. Este fato foi certificado
apenas 3 dias depois de que ocorrera e no mesmo lugar do acontecimento, por um
notário (de outra cidade e, portanto, sem relação com o caso), por meio do
habitual instrumento legal, garantido igualmente pelo juramento de muitas
testemunhas oculares.
A
partir do testemunho do protagonista e de outros testemunhos, se chegou à
conclusão de que o milagre foi devido à intercessão de Nossa Senhora do Pilar,
a quem o jovem sempre fora particularmente devoto, à qual se havia encomendado
antes e depois da amputação de sua perna, e em cujo santuário de Zaragoza tinha
pedido e obtido autorização para pedir esmola.
Quando
pode enfim sair do hospital com uma perna de madeira e duas muletas, untava
diariamente o seu toco de perna com o azeite das lâmpadas acesas na Santa
Capela do Pilar. Isto é precisamente o que sonhou que estava fazendo, em
Calanda, na noite em que adormeceu com uma única perna e foi despertado por
seus pais poucos minutos depois, possuindo outra vez as duas pernas.
Sobre
a verdade do fato nunca se levantou voz alguma de dúvida, nem na ocasião, nem
depois, nem no povoado, nem em nenhum outro lugar. Após a conclusão positiva do
processo, o próprio Rei da Espanha, Felipe IV, ordenou que chamassem ao seu
palácio de Madrid o jovem do milagre, ajoelhando-se em sua presença para
beijar-lhe a perna milagrosamente “restituída”.
A
forma como aconteceu o acidente, em julho de 1637, está assentado no livro de
registros do Hospital Real de Valência, no dia 3 de agosto do mesmo ano,
detalhando como ia vestido, e autenticado com a assinatura do encarregado do
registro (Pedro Torrosellas). A constatação do processo avançado de gangrena no
Real Hospital de Nuesta Senora de Gracia, em Zaragoza, consignado na consulta
médica presidida pelo professor Juan de Estanga, diretor daquele departamento
da universidade de Zaragoza; a amputação da perna direita feita pelos
cirurgiões Estanga e Millarnelo; a maneira como foi depositada a perna pelo
praticante Juan Lorenzo Carcia na capela do hospital e mostrada ao capelão e
administrador do mesmo hospital, Pascual do Cacho, etc., etc…
O
médico lhe advertia que, além da possível infecção, o óleo mantinha uma umidade
que retardava a completa cicatrização da ferida. Durante toda sua estadia em
Zaragoza, Miguel Juan Pellicer passava o dia pedindo esmola na porta da
Basílica do Pilar. À noite ia dormir no “Mesón de las Tablas” quando tinha
dinheiro para pagar ao proprietário; se não, dormia num banco do hospital. Em
marco de 1640, Miguel Juan Pellicer, esgotado pela vida miserável que levava,
decidiu voltar a Calanda apesar do seu desejo de ficar junto à Basílica de “La
Virgen del Pilar.”
Todos
em Calanda e nas vilas limítrofes por onde Miguel Juan Pellicer, montado num
jumento, ia pedindo esmola, conheciam o jovem sem a perna direita.
Dois
anos e quase cinco meses após a amputação da perna direita, precisamente no dia
do 16º centenário da visão que teve de Nossa Senhora, ainda viva, o Apóstolo
Santiago e do aparecimento do Pilar na quinta feira 29 de marco de 1640, por
volta das dez horas da noite, Miguel Juan Pellicer abandonou a conversa e, foi
deitar, pois se encontrava especialmente cansado.
Pouco
depois, Dona Maria Blasco, a mãe, foi ver se o filho mutilado estava bem
coberto. Deu um grito de estupor, e acudiu o pai. Por baixo das cobertas
apareciam dois pés! Após os primeiros instantes de surpresa, levantou as
cobertas: aí estava de novo, inteira e sadia, a perna direita, da qual até
momentos antes lhe faltava a metade. Miguel Juan só sabia explicar que se havia
encomendado, como todas as noites, à Virgem do Pilar, e que sonhara que estava
na Basílica untando a ferida uma vez mais com o óleo das lâmpadas.
Nessa
mesma noite acudiram a ver o incrível milagre o soldado Bartolomé Ximeno, e os
vizinhos Miguel Barraxina e esposa Úrsula Means. Os três, minutos antes, estiveram conversando com o coxo e
vendo como tirara a perna de madeira e os panos antes de retirar-se a dormir.
Naquela mesma noite foi chamado e veio o Pároco, Pe. José Herrera.
No
dia seguinte de manhã a Igreja estava cheia de pessoas que viram e agradeceram
a Deus a recuperação da perna direita de quem todos conheciam privado dela até
a véspera. Reconhecimentos posteriores mostraram que a perna direita,
milagrosamente recuperada, conservou sempre cicatrizes perfeitamente fechadas
das feridas que tivera antes de ser amputada, principalmente a da grande ferida
provocada pela carreta e que ocasionara a gangrena. Havia também a cicatriz,
perfeitamente fechada como todas as outras, onde se havia feito a amputação.
Tratava-se da mesma perna que havia sido amputada!
A
mesma perna que havia sido enterrada quase três anos antes! Ficara “a marca”, a
conhecida condescendência divina para uma insuperável observação científica.
Quando
a notícia do milagre chegou a Zaragoza, mandou-se verificar no Cemitério do
Hospital Real. Sob a direção do
Dr. Juan Lorenzo García comprovou-se que a perna, ou os ossos que deveriam
ficar dela, havia desaparecido, sem que ninguém antes tivesse mexido na terra!
A
recuperação de Miguel Juan Pellicer, como em todo milagre, foi instantânea, e
também “por etapas”. A perna direita, durante os três primeiros dias após a
recuperação instantânea, estava fria. Sua cor era apagada, algo roxa. E os
dedos do pé estavam permanentemente curvados, os nervos contraídos, de forma
que durante estes três dias Miguel Juan Pellicer, perante todas as autoridades
e numeroso povo que o visitava, não podia apoiar a perna firmemente no chão,
nem podia prescindir da muleta que usava.
Passados
esses três dias, as mesmas autoridades e o povo puderam constatar que Miguel
Juan Pellicer agora caminhava perfeitamente, o pé ficara normal. Mas faltava
ainda outra etapa? A largura ou espessura da perna direita, a recuperada, era
claramente menor que a grossura da perna esquerda. Miguel Juan Pellicer, a 25
de abril, viajou com seus pais a Zaragoza para agradecer à Virgem do Pilar.
Durante
o trajeto, um cirurgião lancetou o talão nas suas pesquisas, fato que obrigou
Miguel Juan Pellicer a mancar um pouco novamente. Mas logo passou. Miguel Juan
quis permanecer em Zaragoza por algum tempo. Ia com frequência à Basílica do
Pilar, onde confessava e comungava cada sete dias, e comprazia-se em continuar
ungindo sua perna direita, mais débil, com o óleo das lâmpadas.
“Pouco
a pouco a perna direita ficou igual à esquerda (…). Quando voltou a Calanda, os
vizinhos maravilharam-se de vê-lo caminhar e correr alegremente. Como deram
testemunho (…). Notaram também que o jovem podia realizar movimentos de
esticamento até levantar o pé à altura da cabeça. Assim completara-se o milagre
até a perfeição total”(48).
A
Prefeitura de Zaragoza, a 8 de maio de 1640, reuniu-se em conselho
extraordinário e plenário, e nomeou três procuradores para pesquisar o caso,
além de solicitar do Sr. Arcebispo que instaurasse um acurado processo
canônico, a expensas da Prefeitura. Conservam-se todas as atas de ambos os
inquéritos.
O
inquérito da Prefeitura começou só dois meses depois do milagre. O canônico, só
após três meses. Bem contemporâneos dos fatos. Inquéritos detalhadíssimos.
Muitas comprovações. Depoimentos de multidão de pessoas que conheceram e
conviveram com Miguel Juan Pellicer, antes e depois do acidente, antes e depois
da amputação.
Vi
um grande tapete que há no Palácio Real de Madri, representa o Rei Felipe IV
beijando a perna regenerada de Miguel Juan Pellicer. Lord Hopton, embaixador da
Inglaterra na Espanha, certificou independentemente que esteve presente quando
El-Rei se ajoelhou, descobriu a perna recuperada e beijou a cicatriz da
amputação.
Foram
realizadas recentemente novas pesquisas históricas a respeito, com levantamento
abundante e irrefutável de documentos.
O
milagre com “O coxo de Calanda” ocorreu em 1640. Somente em 1959 se realizou
com sucesso a primeira operação de recolocar uma perna cortada. Os cirurgiões
do Hospital Mont-Eden, de Hayward (Califórnia – USA), conseguiram recolocar uma
perna, mas imediatamente ao acidente (não quase três anos depois), sadia (não
gangrenada) e que ficara ainda unida ao corpo por consideráveis partes de carne
(não uma perna enterrada!). E o maravilhoso êxito da cirurgia humana precisou
meses de cuidados médicos antes de o paciente receber alta.
Miguel
Juan e seus pais examinaram a perna amputada descobrindo imediatamente sinais
inconfundíveis que permaneciam nela. “O mais notório e principal, a cicatriz
originada pela roda do carro que lhe fraturara a tíbia; outra cicatriz, menor,
ocasionada pela extirpação, na adolescência, de um abcesso; e, por último, dois
profundos sinais de cortes provocados por um arbusto de espinhos, e as marcas
da mordida de um cachorro”.
Quando
amanheceu o 30 de março, e se difundiu a notícia por todo o povoado, Pe. Jusepe
se aproximou da casa dos Pellicer com muita gente. Entre estas o primeiro
magistrado, o juiz que era ao mesmo tempo o responsável da ordem pública,
Martín Corellano. Acorreram também o jurado maior, o prefeito Miguel Escobedo,
o “jurado segundo”, Martín Galindo, e o notário real Lázaro Macario Gomez.
Encontravam-se também os dois cirurgiões locais, que certificaram o fato de
maneira profissional. Ambos declarariam ter que render-se à evidência, que
havia deixado por terra sua instintiva incredulidade. O notário lavrou uma ata
notarial constatando o fato ocorrido.
Tratava-se
de uma expedição inesperada à que devemos um documento extraordinário, para não
dizer único, como único é o caso que aparece neste documento legal. Estamos
ante uma intervenção divina testemunhada por uma ata notarial, diante de um
milagre com a garantia de um documento ajustado à normativa vigente e
corroborado por dez testemunhas oculares, escolhidos entre os de maior
confiança e melhor informados dos muitíssimos disponíveis. E como se não
bastasse, a ata notarial milagre foi
escrita e autenticada, passadas algo mais de 70 horas depois do sucedido e no
próprio lugar onde ocorrera.
Observou
o historiador Leandro Aína Naval: “trata-se de um Ato Público (ata notarial,
diríamos hoje) documento de máxima autoridade em todo tempo, que se aproxima ao
ideal exigido por alguns racionalistas para a comprovação dos milagres na sua
vertente histórica”.
Mais
tarde em outubro de 1641, Felipe IV, rei de Espanha, no meio da corte
espanhola, rodeado de todo o corpo diplomático interrogou publicamente a Miguel
e aos relatores do processo. Verificou ele próprio a reimplantação miraculosa
da perna, e, diante do assombro de todos, ajoelhou-se e beijou a perna, fazendo
com isso um verdadeiro ato de Fé.
A
homenagem de Felipe IV naquela manhã de outubro foi como o selo definitivo que
a autoridade civil pode dar a um acontecimento. O rei da Inglaterra, Carlos I,
(cabeça da seita anglicana, inimiga da Espanha), informado pelo seu embaixador,
ficou convencido do milagre, até o ponto de defendê-lo perante os “teólogos” da
sua corte, que ficaram escandalizados.
Não
consegui descobrir nenhum argumento para dar um mínimo de credibilidade à
suspeita ou à dúvida do milagre. Quem rejeitasse a verdade do acontecido em
Calanda teria que pôr também em dúvida toda a História, incluindo os fatos
certos que estão mais comprovados. Quantos fatos existem que possam
fundamentar-se numa ata notarial outorgada de imediato? Quantos com um processo
levado com todo rigor com dezenas de testemunhos sob juramento e, além disso,
com a total exclusão de qualquer tipo de interesse pessoal dos envolvidos na
causa? [Este comentário parece ser de Messori, pelo que deveria vir entre
aspas. Como, entretanto, estas faltam no original, o texto foi copiado aqui tal
como se encontra no mesmo. A frase seguinte reforça essa impressão].
Messori
assim termina o seu estudo: “Se Calanda nos apresenta como o cume do poder da
intercessão e da misericórdia mariana, não é sem dúvida o único. Em outras
muitas pequenas e grandes “Calandas” de todos os tempos e países, um povo fiel
e confiante experimentou, e experimenta, que não iam dirigidas apenas a João as
palavras de Jesus agonizante na Cruz: “Mulher, eis ai teu filho… eis ai tua Mãe”
(Jo 19, 26-27). Este povo sabe que Maria é a Mãe benigna e amável para todos
que filialmente solicitam a sua intercessão.”
Fonte: Texto disponível em diversos sites na
internet, baseado num estudo de Vittorio Messori, escritor italiano, jornalista
e historiador, publicado em 1998, sobre o Milagre, oficialmente reconhecido
pela Igreja, ocorrido no ano de 1640 em Calanda, um vilarejo de Zaragoza, na
Espanha.
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