São Pedro Julião Eymard
“Nosso Senhor Jesus Cristo quer estabelecer em nós um amor apaixonado por Ele.
Toda virtude, todo pensamento que não termina numa paixão, que não acaba por tornar-se uma paixão, nada de grande produzirá jamais. (...)
O amor só triunfa quando é em nós uma paixão vital. Sem isso, podem produzir-se atos isolados de amor, mais ou menos freqüentes; a vida não é tomada, não é nada (...).
Nosso amor, para ser uma paixão, deve sofrer as leis das paixões humanas. Falo das paixões honestas, naturalmente boas; pois as paixões são diferentes em si mesmas; nós as tornamos más quando as dirigimos para o mal, mas só de nós depende utilizá-las para o bem.
Ora, a paixão que domina o homem, concentra-o.
Tal homem quer chegar a uma determinada posição honrosa e elevada. Só para isso trabalhará dez, vinte anos, não importa. Chegarei, diz ele; faz unidade: tudo se acha reduzido a servir esse pensamento, esse desejo, deixa de lado tudo quanto não o conduzir a seu objetivo.
Eis como se chega no mundo ao que se deseja; essas paixões podem tornar-se más, e ai! Muitas vezes não são mais que um crime contínuo; mas enfim podem ser e são ainda honoríficas.
Sem uma paixão, nada se alcança: a vida carece de objetivo; arrasta-se uma vida inútil.
Pois bem, na ordem da salvação, é preciso ter também uma paixão que nos domine a vida e a faça produzir, para a glória de Deus, todos os frutos que o Senhor espera.
Amai tal virtude, tal verdade, tal ministério apaixonadamente. Devotai-lhe a vossa vida, consagrai-lhes os vossos pensamentos e trabalhos; sem isso, nada alcançareis jamais, sereis apenas um assalariado, jamais um herói (...)
Ah! no Juízo, não serão tanto os nossos pecados que nos aterrorizarão e nos serão censurados; estão irrevogavelmente perdoados.
Mas Nosso Senhor nos censurará por seu amor!
Vós me amastes menos que às criaturas! Vós não fizestes de Mim a felicidade de vossa vida! Vós me amastes bastante para não me ofender mortalmente; mas não para viver de Mim! (...)
Dizem: Mas é exagero tudo isso.
Mas que é o amor, senão exagero? Exagerar é ultrapassar a lei; pois bem, o amor deve exagerar! (...)
Vamos! Entremos em Nosso Senhor! Amemo-Lo um pouco por Ele; saibamos esquecer-nos e dar-nos a esse bom Salvador! Imolemo-nos um pouco! Considerai estes círios, esta lâmpada, que se consomem sem deixar vestígios, nada reservar”.
São Pedro Julião Eymard, “O Santíssimo Sacramento”, Coleção “Os grandes autores espirituais”, nº 24, Ed. Paulinas, São Paulo, 1956, pp. 27 a 32.
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