Tradução: Alexandre de Hollanda Cavalcanti
O personagem gordo, alegre, vestido de vermelho e branco, com suas barbas longas a descer simpaticamente em contraste com o cetim do traje, que todos os anos faz sua aparição na publicidade comercial no período que antecede o natal, é conhecido com vários nomes. No Brasil é o simpático e de origem desconhecida, Papai Noel, na Europa é São Nicolau, nos Estados Unidos e outros Países Santa Claus. Este Papai Noel que está sempre nas portas das lojas, aumentando o faturamento natalino tem sua origem não em um escritório de marketing, mas em uma história bem real e verdadeira: São Nicolau, Bispo de Mira na Turquia e conhecido no Ocidente como São Nicolau de Bari.
São Nicolau de Mira
Este grande santo nasceu em Lícia, uma antiga província da Ásia Menor (Turquia). Ainda muito jovem perdeu seus pais, tornando-se um órfão saudoso e rico, pois herdara uma imensa fortuna que repartiu entre os pobres. Jovem, Nicolau disse «sim» ao chamado de Deus e foi viver em um mosteiro, sendo ordenado por seu próprio tio, que era Bispo.
Depois de visitar a Terra Santa, chegou à cidade de Mira, capital de Lícia, na Turquia, onde os bispos e sacerdotes, de acordo com o costume da época, estavam reunidos na Igreja deliberando para eleger um novo Bispo para a cidade, depois da morte do antigo Bispo diocesano. Depois de vários escrutínios, os reunidos haviam decidido, em comum acordo, nomear como bispo o primeiro sacerdote que no dia seguinte entrasse na igreja. Caiu serena a noite e quando o galo cantou saudando a aurora do dia seguinte, já os Bispos e sacerdotes estavam postos no coro da Igreja, espreitando, curiosos, quem seria o enviado de Deus. Cada vez que se abria a porta da Igreja, os olhares corriam para ver quem entrava... Junto com os raios dourados do amanhecer, uma velha senhora entrava para rezar, depois uma jovem, em seguida um menino... Seria este? Perguntaram-se alguns... Um dos mais anciãos recordou: combinamos que seria o primeiro sacerdote que entrasse...
Enquanto isso, cansado pela longa viagem, sacudia a poeira e limpava um pouco a roupa para entrar no templo sagrado o sacerdote Nicolau, a fim de rezar suas orações matutinas. A porta abriu-se, o sol antecedeu novamente o visitante e todos se levantaram com um estrondoso e súbito aplauso: o Espírito Santo havia enviado o novo Bispo para Mira. Nicolau não entendeu nada do que estava acontecendo, ajoelhou-se para rezar e viu-se rodeado por todo o clero que se aproximava reverente, como diante de uma aparição divina. O decano dos Bispos dirigiu-lhe a palavra e comunicou-lhe o acontecido. Nicolau hesitou. Mas percebendo que era o próprio Deus que lhe traçara o caminho, não seria esta a primeira vez que diria «não» para Deus. Seu «sim» era como o «fiat» de Maria: perpétuo e fiel. Poucos dias depois deu-se a solene cerimônia de sagração episcopal e o báculo de Pastor era posto nas mãos puras de Nicolau.
Nesta época já haviam cessado as perseguições aos cristãos e Constantino havia outorgado plena liberdade à Igreja mediante o Edito de Milão, do ano 313 d.C.. Sem embargo, Licínio, um dos que assinou o tratado, não foi fiel ao que decreto e iniciou uma perseguição contra os cristãos na região governada por ele. Os soldados chegaram ao palácio episcopal e prenderam Nicolau, levando-o para o cárcere central, em meio a ladrões e bandidos de toda ordem. A notícia chegou ao Imperador Constantino e depois de uma acirrada guerra, Licínio foi vencido e libertou todos os cristãos prisioneiros.
O primeiro milagre que se conheceu de São Nicolau foi sua intervenção para libertar a três jovens, o que ocorreu quando o governador Eustácio foi subornado para condenar a três inocentes. Nicolau se apresentou no momento da execução, deteve o carrasco, pôs em liberdade os prisioneiros e repreendeu publicamente a Eustácio, até que este reconheceu seu crime e se arrependeu.
Nessa ocasião estavam presentes três oficiais que mais tarde, ao ver-se eles mesmos em perigo de morte, se encomendaram a Nicolau através da oração. Essa mesma noite Nicolau apareceu em sonhos ao Imperador Constantino e lhe ordenou que pusesse em liberdade aos três oficiais.
Constantino interrogou aos três e ao conhecer que haviam invocado a Nicolau, lhes enviou livres ao santo Bispo com uma carta na qual rogava que orasse pela paz do mundo. Durante muito tempo este foi o milagre mais famoso de São Nicolau e praticamente o único que se sabia dele na época de São Metódio, que havia escrito sobre a vida de São Nicolau.
Depois de sua morte, em 06 de dezembro de 345, cresceu a devoção a São Nicolau aumentando as notícias de seus milagres. Converteu-se em patrono das crianças e dos marinheiros. O Imperador Justiniano construiu uma igreja em Constantinopla em sua honra. Foi nomeado patrono da Rússia e as igrejas dedicadas a seu nome eram mais que as de qualquer outro santo. No oriente o santo é conhecido como São Nicolau de Mira, pela cidade onde esteve como Bispo, porém no ocidente se chama São Nicolau de Bari, porque quando os muçulmanos invadiram a Turquia, os cristãos levaram as relíquias do santo à cidade de Bari, na Itália, onde repousam até nossos dias.
As três donzelas
Tratando-se de um santo muito popular não faltaram as maravilhosas histórias que se acumularam através dos séculos. Entre elas está a das três donzelas. Conta-se que na Diocese de Mira, um vizinho de São Nicolau se encontrava em tal pobreza que decidiu expor suas três filhas virgens à prostituição para encontrar o sustento para ele e para elas, já que não tinha dineiro para pagar o dote, exigido naquele tempo, para casar uma moça. Para evitar esta catástrofe ao pobre homem e às suas virtuosas filhas, São Nicolau tomou uma bolsa com moedas e ouro e, sob a escuridão da noite, a lançou pela chaminé da casa daquele aflito pai de família, que com isso pôde casar sua filha maior.
Dias depois, o bondoso Bispo repetiu a façanha, possibilitando o casamento das outras duas donzelas. Porém, na segunda ocasião, depois de lançar a bolsa sobre a parede do pátio da casa do pobre, esta se enredou na roupa que estava pendurada para secar. O pai correu para a janela e viu seu benfeitor que se afastava, agradecendo-lhe carinhosamente sua caridade.
A transformação de São Nicolau em «Santa Claus»
As antigas lendas das crianças e dos presentes pela chaminé e as meias deram lugar na Alemanha, Suíça e nos Países Baixos à lenda do «Menino Bispo» e sobretudo ao costume de que São Nicolau trazia secretamente presentes para as crianças.
Corria o ano de 1624, quando os imigrantes holandeses fundaram a cidade de Nova Amsterdan, hoje Nova York, e levaram consigo a tradição de Sinterklass, seu patrono, cuja festividade se celebra na Holanda entre 5 e 6 de dezembro.
Em 1809 o escritor Washington Irving, escreveu uma sátira, História de Nova York, na qual deformou o nome do santo holandês, Sinterklaas, com a pronúncia anglo-saxã Santa Claus. Mais tarde o poeta Clement C. Moore, em 1823, publicou um poema onde, baseando-se no personagem de Washington Irving, deu corpo ao atual mito de Santa Claus.
Posteriormente, por volta de 1863, adquiriu a fisionomia do gordo barbudo e bonachão, com a qual é conhecido atualmente. Nisto teve grande influência o desenhista sueco Thomas Nast, que tomou este personagem para suas ilustrações de Natal em Harper¡s Weekly. Ali adquiriu sua vestimenta vermelha, com altas botas e o gorro característico.
A meados do século XIX, o Santa Claus americano passou à Inglaterra e dali à França, onde se fundiu com o Bonhomme Noël, dando origem ao nosso Papai Noel. Em 1931, a empresa Coca-Cola encarregou ao pintor Habdon Sundblom que remodelasse a figura de Santa Claus-Papai Noel para fazê-lo mais humano e crível.
O mito atual
A princípios do século XX se difundiu a ideia de que Santa Claus vive no Pólo Norte; ainda que existem também outros lugares assinalados como possíveis para sua vivenda, como a Lapônia sueca, a Lapônia filandesa e a Groelandia. Desta maneira, o mito atual sustenta que Santa Calus vive no Pólo Norte junto com a Senhora Claus e uma grande quantidade de anões, chamados bendegums, que lhes ajudam na fabricação de brinquedos e outros presentes que as crianças lhes pedem em suas cartas.
Para poder transportar os presentes, Santa Claus os guarda em um saco mágico e os reparte na noite do 24 para 25 de dezembro, em um trenó mágico voador, puxado por míticas renas. Santa Claus pode entrar nas casas das crianças pela chaminé, transformando-se em uma espécie de fumaça mágica. Para saber se as crianças merecem os presentes, Santa Claus dispõe de um telescópio capaz de ver a todas as crianças do mundo, ajudados por outros seres mágicos que vigiam a conduta das crianças. Assim, se uma criança se comportou mal, como castigo não vira visitá-lo Papai Noel e o presente recebido será um saco de carvão.
Hoje em dia a imagem de Papai Noel é utilizado como estratégia de marketing para vender toda classe de coisas e quase ninguém conhece a história original de São Nicolau de Bari, Bispo de Mira. A publicidade comercial conseguiu impôr um mito pagão a um personagem real, cuja santidade serviu de inspiração a crianças e adultos por seu grande amor aos pobres e sobretudo às crianças.
Ensinemos às nossas crianças, fundamentos da sociedade de amanhã, que a santidade é o verdadeiro caminho para a vida. Contemos a história verdadeira de São Nicolau, que do alto dos céus abençoa as crianças para que cumpram seus deveres e inspirem seus pais a tratá-los com amor, responsabilidade e carinho, ensinando-lhes sempre os caminhos do bem e da caridade.
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