sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A Confiança em Deus


Pe. Alonso Rodríguez, S.I.

Um excelente meio para aproveitar aos próximos, que é desconfiar de nós mesmos e por toda nossa confiança em Deus.


Tem confiança em Deus de todo teu coração, e não estribes em tua prudência. Outro meio muito principal, que nos ajudará muito para conseguir o fim de nosso instituto, é o que disse o Sábio nestas palavras, e nos põe também nosso Santo Padre, e a bula b de nosso instituto, naquelas duas breves palavras: Diffidens suis viribus, et divinis fratus. Sabeis, diz, como fazeis muita fazenda e muito fruto nas almas?
Desconfiando de vós mesmos, de vossas forças, prudência e indústria, e de todos os meios humanos, e pondo toda vossa confiança em Deus: esse é um dos mais principais e eficazes meios necessários para alcançar muito fruto nas almas; e assim esta é uma das melhores disposições que pode ter um obreiro de Deus, que entenda, que ele de si mesmo não é para fazer coisa que valha de algo, senão que toda sua confiança a ponha em Deus: porque a estes toma este Soberano Senhor por instrumentos para fazer por seu meio grandes coisas, grandes conversões e maravilhas: assim o disse o Apóstolo São Paulo: c Fiduciam autem talem habemus per Christum ai Deum: non qubd suficientes simus cogitare aliquid á nobis, quzsi ex nobis; sed sufficientia nostra ex Deo est, qui et idoneos nos fecit ministros novi Testamenti:
Temos uma tal confiança em Deus, que entendemos que de nossa parte não somos suficientes, nem mesmo para ter um bom pensamento; senão que toda nossa suficiência nos tem que vir de Deus. Por isso, diz São Paulo, faz Deus ministros de seu Evangelho.
Santo Agostinho g, tratando dos louvores de Natanael, a quem elogia o mesmo Cristo no Evangelho, dizendo: Ecce vere Israelita, in quo dolus non est: Vês aqui um israelita no qual não há duplicidade ou engano nenhum, disse: Parece que um homem como este tinha que ser chamado ao apostolado primeiro que todos, pois tal testemunho dá dele o Filho de Deus; e vemos que não somente não é chamado o primeiro, porém nem ao meio, nem ao fim; qual será a causa disso? Sabe qual é? Diz Santo Agostinho: Natanael era homem douto, era letrado da lei; e por isso não o escolheu Cristo entre seus apóstolos; porque não quis escolher letrados para a pregação de seu Evangelho, e converter o mundo, senão uns pobres pescadores, ignorantes e sem letras, como disse São Paulo. e
São Gregório f traz a este propósito aquela história do livros dos Reis, quando os amalecitas encenderam a Siceleg, e haviam levado cativas as mulheres de Davi e de seus companheiros, e suas crianças. Um deles deixando-se no caminho um criado egípcio, porque caiu doente, e não lhe pode seguir: encontra-se Davi com este pobre enfermo, já quase para expirar, porque havia três dias e três noites que não comia nem bebia: dá-lhe de comer, e volta a si, e o toma por guia de seu caminho, e com esse guia vai atrás dos amalecitas, e encontrados comendo e banqueteando-se com grande festa e regozijo; e dá sobre eles, mata-os, e lhes tira a presa que levavam. Pois esta, diz São Gregório, é a condição do verdadeiro Davi, Cristo nosso Redentor, que escolhe os rechaçados e desprezados do mundo, e com o manjar de sua palavra os faz voltar em si, e que sejam guias suas, fazendo-os pregadores de seu Evangelho, para vencer e destruir os amalecitas, que são os mundanos que estão ociosos, banqueteando-se e entretendo-se nos deleites e passatempos do mundo.

aProc. c. 3, v. 5
bBula de Julio III
c2 ad Cor. 3, v. 4
gAugus. Tradct. 7. sup. Joan. I, v. 47.
eI ad Cor. I, 17.
fGreg. I. 5 mor. Cap. 29. 1 Reg. 30.

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