Juliane Campos
Santa Mônica nasceu de uma família cristã ema Tagaste, na África, em 322. Rezava e chorava angustiada por um filho transviado. Enquanto rezava sentiu interiormente uma voz grave do bispo que lhe dizia: “Vai em paz e continua a viver assim, porque é impossível que pereça o filho de tantas lágrimas.”
A grande preocupação de sua vida era seu primogênito, Agostinho. Os dois filhos mais novos já se haviam feito católicos e seguiam o caminho da virtude. Mas Agostinho, extraordinariamente inteligente, era rebelde e caprichoso, não se preocupando com a prática do bem.
O jovem havia se entregado ao jogo, à vida dissoluta e, pior de tudo, tinha se tornado membro da seita maniqueísta.
A aflita mãe redobrou as orações e a vigilância para com aquele que não dava o menor sinal de arrependimento e ainda demoraria muitos anos para converter-se.
Uma noite ela teve um sonho: Viu-se num bosque, chorando pela perda espiritual de seu filho, quando se aproximou dela um personagem luminoso e resplandecente, que lhe disse: “Teu filho voltará para ti”.
Agostinho decidiu mudar-se para Roma para lá exercer o magistério. Santa Mônica se dispôs a acompanhá-lo, desejosa de ajudá-lo a livrar-se das desordens morais que retardavam cada dia mais sua conversão.
A mãe foi ao seu encalço e o encontrou em Milão onde soube que ele havia deixado a heresia maniqueísta. O futuro Doutor da Igreja travava forte luta interior para aceitar inteiramente a Religião Católica. Fizera uma análise de sua vida, olhando de frente para todas as suas misérias. Gemia sob o peso de seus pecados, chorava e perguntava-se: “Por quanto tempo, por quanto tempo andarei a clamar: Amanhã, amanhã? Por que não há de ser agora?
De repente começou a ouvir a voz de uma criança, vinda de uma casa próxima, que repetia sem cessar: “Toma e lê; toma e lê”. Pressuroso, tomou o livro das Epístolas de São Paulo, abriu ao acaso e leu: “Não caminheis em glutonarias e embriaguez, nem em desonestidades e dissoluções, nem em contendas e rixas; mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não procureis a satisfação da carne com seus apetites.” (Rom. 13, 13). Aquelas palavras lhe penetraram no coração como uma luz que dissipava todas as trevas das dúvidas. Santa Mônica teve, afinal, a ventura de ver o filho convertido.
Estavam coroados os heróicos esforços dessa mãe que nunca desanimou e seguiu os passos do filho rebelde por todos os cantos, até ver a graça de Deus vencer em sua alma.
O próprio Santo Agostinho narra nas “Confissões” (VIII-12) a reação de sua mãe quando lhe contou a decisiva conversão: “Ela rejubila. Contamos-lhe como o caso se passou. Exulta e triunfa, bendizendo-Vos, Senhor, ‘que sois poderoso para fazer todas as coisas mais superabundantemente do que pedimos ou entendemos’.
Santa Mônica participava das conversas espirituais e filosóficas com extraordinária penetração e um conhecimento da Sagrada Escritura pouco comum.
Na Páscoa de 387, de volta a Milão, Santo Agostinho e seus amigos foram batizados por Santo Ambrósio, para júbilo e gáudio de Santa Mônica.
Decidindo voltar para a África, dirigiu-se com sua mãe para o porto de Óstia, onde embarcariam. Estando mãe e filho sozinhos, conversavam apoiados a uma janela, discorrendo sobre as mais altas cogitações. Neste colóquio sobrenatural, entraram os dois em êxtase.
Ao final dessa conversa, Santa Mônica disse as seguintes palavras, que Santo Agostinho eternizou em suas “Confissões” (IX-11) : “Meu filho, quanto a mim, já nenhuma coisa me dá gosto, nesta vida. Não sei o que faço ainda aqui, nem por que ainda cá esteja, esvanecidas já as esperanças deste mundo. Por um só motivo desejava prolongar um pouco mais a vida: ver-te católico antes de morrer. Deus concedeu-me esta graça superabundantemente, pois vejo que já desprezas a felicidade terrena para servires ao Senhor.
Que faço eu, pois, aqui?”
Era a despedida deste mundo daquela extremosa mãe. Cinco dias depois, acometeu-a uma febre que a levaria à morte. Totalmente desapegada de tudo e feliz por ver sua família inteira dentro da Igreja que tanto amava, Santa Mônica expressou assim seu último desejo aos seus filhos: “Enterrai este corpo em qualquer parte e não vos preocupeis com ele. Só vos peço que vos lembreis de mim diante do altar do Senhor, onde quer que estejais.” (Confissões; IX-11)
Ao cabo de 9 dias, partiu para a eternidade, aos 55 anos de idade. Santo Agostinho conteve suas lágrimas durante os funerais, mas não as controlou depois que tudo havia passado. Chorou copiosamente por aquela que havia chorado por ele a vida inteira.
Modelo de esposa e mãe cristã, proclamada pela Igreja padroeira das mulheres casadas, Santa Mônica, ao longo dos séculos, tem ajudado na conversão das famílias de milhares de mães e esposas que se encomendaram a ela. Fica para nós um modelo de mãe que soube estar junto de seu filho a cada momento, nunca deixando de pedir a Deus por ele. De seus sofrimentos e suas lágrimas dependeu a salvação do grande Doutor da Igreja. Este deixou para os séculos futuros as seguintes palavras de gratidão e reconhecimento a sua tão querida mãe: “Pela carne, me concebeu para a vida temporal, e pelo coração me fez nascer para a eterna.” (“Confissões” ; IX-8) ²
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