sábado, 24 de agosto de 2013

À sombra da guilhotina

Vida do Padre José Coudrin

Paris, 4 de março de 1792. A capela do seminário irlandês está ocupada por jacobinos. O santuário há meses está transformado em clube. Os “heróis” da revolução, sentados diante do altar, de gorros vermelhos, arremessam cartas de jogar sobre a mesa sagrada da comunhão e agitam os copos com os dados. Furiosos e vociferando pragas, passam as cédulas de dinheiro de mão em mão. Origina-se uma contenda. Desembainham os punhais. Um bêbado cambaleia por entre os altercantes. Na mão vacilante tem um cálice sagrado que contém aguardente. A um canto está um indivíduo acocorado, com um arenque numa patena.
- Comportai-vos, cidadãos! Comportai-vos! Balbucia o embriagado.
Não alterqueis por causa de dinheiro. Ainda há que chega a Paris. Cantai! Cantai cidadãos! E com voz animalesca, berra:
- Ah, ça ira, ça ira, ça ira! ...
Todos entram em côro. A matinada que levantam faz estremecer os vitrais da capela com os seus santos.
- A, ça ira, ça ira, ça ira! Les aristocrates à la lanterne! (À forca os aristocratas!).
Enquanto esta cena se passa, na biblioteca da mesma casa está ajoelhado, aos pés do Bispo preso, um jovem com vestes seculares.
No silêncio, o venerando Príncipe eclesiástico impõe-lhe as mãos trêmulas. De leve se movem os seus lábios em oração fervorosa. Em seguida, toma as mãos do recém ungido sacerdote e pergunta com voz trêmula: - Prometes-me a mim e a meus sucessores reverência e obediência?
- Prometo! Responde o ordenado com voz firme.
O Bispo inclina-se então para ele e dá· lhe um ósculo na testa, proferindo as palavras: A paz do Senhor esteja sempre contigo!
Da capela ecoam gritos esganiçados e infernais: - Ah, ça ira, ça ira, ç"a, ira! Les aristocrates à la lanterne! Les prêtres à la lanterne!
- À forca os sacerdotes! Ruge uma voz de permeio e todo o bando repete aos gritos e gargalhadas: - Les prêtres à la lanterne!
- A paz do Senhor seja sempre contigo diz mais urna vez o Bispo.  O neo-sacerdote responde: Amém!
Em seguida, o Bispo fá-lo levantar-se, dizendo-lhe: - José Coudrin, foste ordenado à borda do inferno!
- E, contudo, temos aqui o Céu, volve o sacerdote; e eram sinceras as suas palavras.
- A forca os padres! Uiva a corja de embriagados.
Meio ano mais tarde, as ruas de Paris tingem-se de rubro com o sangue dos mártires. Em França, o inferno está solto. A guilhotina escolhe as suas vítimas de quase todas as aldeias. Como animais, farejam os sacerdotes e arrastam-nos ao cadafalso.
Atrás de um destes, os esbirros e patriotas dão caça especial; invisível, nunca se deixa apanhar e sempre de novo surge por toda parte, nas cidades e aldeias das Dioceses de Tours e Poitiers.
Lá vai andrajoso mendigo pela estrada da aldeia. Em cada porta, estende a mão, pedindo esmolas. Por vezes lhe é concedida a entrada, e, momentos depois, ele profere as palavras da absolvição junto a um moribundo, administrando-lhe os Santos Óleos.
Na praça do mercado ergue-se a guilhotina, que projeta longas e negras sombras sobre a terra. Junto da guilhotina se acha um soldado, que lê um manifesto pregado ao poste dela: "Mil francos de gratificação para aquele que denunciar ao tribunal revolucionário o sacerdote Pe. José Coudrin. Patriotas, cumpri o vosso dever. À forca o sedutor do povo!" Aproxima-se um segundo soldado.
- Boa soma essa, mil Francos! Murmurou o primeiro. Isso eu gostaria de ganhar.
- Tens razão, camarada, concordou o segundo.
- O carrasco saberá onde está escondido o padre.
- Precisamente não o sabe, disse, brusco, o primeiro.
- Como? Ah! Sim! Tens razão, camarada!
E cada qual seguiu o seu caminho. O segundo entrou numa taverna, o primeiro numa casa qualquer, perto do mercado. Breve sua mão benfazeja derramava água batismal sobre a fronte de uma criança. Mais uma vez escapou à guilhotina. Mas algum rasto os esbirros sempre tinham, e, aonde quer que se dirigisse o sacerdote, ameaçava-o a guilhotina.
Um vendilhão vai de casa em casa com uma cesta cheia de ratoeiras.
Nas casas onde entra, depõe as bugigangas, tira do bolso sobre o peito uma patena brilhante e diz: "Ecce Agnus Dei! Eis o Cordeiro de Deus". Reverentes, os homens ajoelham-se e recebem o Pão dos fortes.
José Coudrin, o sacerdote, continua caminhando à sombra da guilhotina. Certa vez, descobrem lhe o rasto. Cercam a casa em que se acha. O sacerdote refugia-se, subindo uma escada, num quarto escondido, situado mais alto. Os revolucionários penetram na casa. Um deles descobre a escada. Já punha o pé no primeiro degrau, quando seu camarada o chamou:
- Cidadão, és um macaco. Julgas que ele teria deixado a escada se tivesse subido por aí?
Momentos depois, os perseguidores, que passam revista em toda a casa, até nos últimos recantos, retiram-se.
Em Paris todos os demônios andam soltos. A cabeça do Rei rola no pó. A Rainha sobe ao cadafalso. Por toda parte se degolam sacerdotes. As igrejas são profanadas. O sacerdote José Coudrin, entretanto, continua andando a sombra da guilhotina. Muitas vezes, precisa descansar durante o dia em cavernas, paióis e touceiras. Não raro, só de noite pode realizar as suas visitas. Os patriotas de Poitiers já o condenam à morte em sessão judicial. Falta, porém, o acusado. De novo pensam tê-lo seguro. Os esbirros já tiram a sorte com colmos de capim a ver quem dentre eles o deveria conduzir à guilhotina. Mais uma vez, porém, Coudrin lhes escapa.
Até nos cárceres penetra, e, confundido com os presos, celebra a Santa Missa, ministrando-lhes o Santo Viático. Ainda desta vez consegue subtrair-se aos seus inimigos. Mas anda sempre à sombra da guilhotina. Os “heróis” da revolução apunhalam-se uns aos outros. Um monstro devora outro. Chega o tempo do Diretório.
Vêm os dias do Bonaparte. Passa o tempo dos horrores. A Igreja ressurge das catacumbas [pensam os ingênuos]. A guilhotina não chegou a pegar José Coudrin.
Seguem-se, contudo, novas e graves perseguições. Napoleão, o corso, engana a Igreja. O Papa é feito prisioneiro em Fontainebleau.
Mas, num recanto de França, o sacerdote José Coudrin levanta altaneiro nova bandeira, que leva como sagrado símbolo os Corações de Cristo e da Mãe de Deus, Corações esses que receberam indizíveis opróbrios nos dias dos jacobinos, Corações a que os mártires se consagravam no patíbulo da morte. E o derradeiro grito das vítimas: Viva o Sagrado Coração de Jesus! Tornou-se um brado de combate.
José Coudrin funda a Ordem dos Sagrados Corações. A Condessa Henriette Aymer de Ia Chevalerie funda, sob o mesmo nome, uma congregação para mulheres. Também ela passava pelo inferno da revolução, chegando a conhecer de perto os horrores da prisão, em que a todo o momento esperava o carro fatal, até que, por fim, a morte de Robespierre lhe abriu a porta da liberdade.
Homens agrupavam-se, decididos a tentar o extremo, possuídos daquele mesmo ardor indômito que enchia o sacerdote que vagava pela França à sombra da guilhotina. Brancas eram as suas vestes. Um manto como o dos Cavaleiros do Sepulcro descia-Ihes dos ombros. Sobre o peito traziam a divisa - os Sagrados Corações, cercados da Coroa de Espinhos e de chamas. Nos dias do terror, todo aquele que trouxesse tal imagem era levado ao cadafalso. Em culto blasfemo, os jacobinos veneravam o coração de Marat para escarnecer do Coração de Jesus. Agora era chegado o tempo da reparação. Reparações queriam prestar os homens e mulheres da nova congregação. Reparação pelas igrejas profanadas, pelos altares derrubados, pelos cálices calcados aos pés e pelas Hóstias profanadas. Aonde chegavam os sacerdotes e irmãos de hábito branco, acendiam-se novamente as velas do Tabernáculo; ali Cristo, em ostensório precioso, sobe novamente ao trono mais alto. Lá não se apaga a chama eucarística da Hora Santa.
No centro de Paris, na Rua Picpus, pulsa o coração da nova grei. Lá está a casa-mãe. É o lugar onde se acham sepultadas as 1307 vítimas de junho de 1794, executadas na Barriere du Trône. Sobre as catacumbas dos mártires queima novamente a chama da caridade e do sacrifício. A toda parte envia José Coudrin a sua milícia branca. Onde quer que a indigência e a miséria clamem por auxílio, pode-se encontrá-la, e, de fato, após os anos do terror, não é preciso procurá-Ia, pois em todas as ruas e caminhos de França se encontra a miséria. Mas por toda parte também se curvam, cheios de compaixão, os samaritanos, enquanto a misericórdia traça o seu caminho ao encalço da miséria. A caridade palmilha as ruas pelas quais se esgueiravam o terror e o desespero.
Crianças andrajosas e abandonadas, que já não sabem benzer-se, encontram mestres carinhosos. Os asilos e as escolas que a chama da revolução reduziu a cinzas são reconstruídos. De povoado em povoado, vão os padres. Em muitas igrejas pregam, prescrevem exercícios espirituais e missões. Vida nova e forte surge dos abismos. Um homem, porém, nem agora encontra descanso. Também nesses anos é insultado, escarnecido, perseguido, expulso de cidade em cidade o grande sacerdote que não temeu os revolucionários, que também não se curva ante o conquistador - José Coudrin, o caminhante à sombra da guilhotina.
O grande [sic!!!] imperador [sic!!!, refere-se a napoleão] passa pelo mundo. Por toda parte marcham os seus exércitos e tremulam as suas bandeiras. Outro personagem, porém, envia os seus soldados muito mais longe que Napoleão os seus exércitos. Também ele é conquistador. Para Coudrin as fronteiras da França são estreitas demais. A maldade no Velho Mundo é demasiada. Dirige o seu olhar para novas terras. Envia os seus discípulos através de todos os mares.
No arquipélago de Havaí, na ilha abandonada da Páscoa, em todas as ilhas do Mar do Sul, implantam o sinal de campanha do Grande Rei. Na América do Sul, no Chile e no Peru pregam esses arautos de Deus o do Evangelho.
Também os soldados da paz vertem o seu sangue. Sangue de mártires derrama-se em todo o mundo. O Padre Aleixo Bachelot é escorraçado das ilhas de Sandwiche. O Padre Claro Fouqué é apunhalado nas ilhas Tuamoto.
No arquipélago do Marechal, dão suas vidas por Cristo um Bispo, sete padres e dez irmãos. Um vagalhão arrebata o Padre Paulo Terlyn do altar onde estava dizendo Missa sobre uma ilha baixa. O vasto oceano tornou-se a sua sepultura, mas todo o rebanho pelo qual o sacerdote reza à vista da morte fica ileso.
Meus filhos serão sempre filhos da Cruz, disse uma vez José Coudrin.
Em toda parte, pelo mundo afora, esta profecia se está realizando. Sobre os túmulos dos mártires levanta-se o reino do Rei eterno. Houve conquistadores que sobre o sangue dos trucidados, sobre montes de caveiras erigiram o seu trono. A tempestade da história varreu-os. O Reino de Deus, que nasceu do Sangue de Cristo e dos seus mártires, é invencível.
Após longo exílio, volta José Coudrin em 1833 para a casa-mãe na Rua Picpus. Aqui o perseguido sem tréguas, o caluniado caminhante à sombra da guilhotina, encontra, após três anos, morte tranquila. O semblante do moribundo encrespa-se num sorriso. Como dissera o Bispo no dia da sua ordenação no seminário irlandês?
- A paz do Senhor seja sempre contigo!
Da capela gritavam então os jacobinos - À forca os sacerdotes! Agora, enfim, tinha a paz, a última e grande paz, para morrer. A primeira luz primaveril espalhava-se sobre os tetos de Paris, mandando um clarão para dentro da cela do convento. Eis que se desenha sobre a cama do doente uma grande cruz. É a sombra da cruz da janela. O doente vê-a. A sua mão mirrada estende-se para agarrar a sombra.
- À Cruz, fala com voz fraca: "Eu morro à sombra da Cruz!"
Ou serão mastro e verga que ali se desenham? Os pensamentos do moribundo transpõem o oceano, procurando os irmãos nas missões.
- Trazei-me um mapa, diz o superior geral. Algo hesitantes, os irmãos desdobram diante do moribundo um grande mapa-múndi. Os dedos brancos deslizam sobre os países e mares. Em alguns lugares se detém:
- Aqui estão os meus filhos e ali também! Senhor, tomai-os sob a vossa proteção!
E os dedos indicam novos países e mares. Erguendo-se um pouco no leito, o moribundo diz:
- A messe é grande, mas os ceifeiros são poucos! Pedi ao Senhor que mande operários para a sua messe.
A sombra da Cruz cai agora sobre o mapa. José Coudrin, pensativo, olha para ela:
- A Cruz se estende sobre todo o mundo, diz. Mas olhai o ponto em que os dois braços se cortam, onde estão as ilhas de Sandwich. A Cruz cai sobre o Mar do Sul.
Será que os seus cuidados mais uma vez querem aproximar-se do leito mortuário? Quererão roubar-lhe a paz da última hora os cuidados pela congregação? Será a sua obra duradoura? Onde estão os recrutas que cerrem fileiras sob a sua bandeira? Onde crescem os homens de que ele, o general moribundo, necessita? Homens com força indestrutível e valor a toda prova? Novamente deslizam os dedos do moribundo pelo mapa. Agora encontraram.
- Irmãos, chama o doente com voz prestes a extinguir-se. Vede cá, irmãos! Aí deveis construir um convento, em Flandres. Lá moram os homens por quem outrora São Francisco Xavier tanto clamava. Lá estão, os novos soldados.
Cansado, reclina-se para trás sobre os travesseiros. Em seguida, mais uma vez se ergue na cama. Sua voz soa não como o balbuciar de um moribundo, mas como a de um general em chefe que dá sua última ordem.
- Erigi um mosteiro em Flandres! É a minha última vontade. O rosto do moribundo ilumina-se.
- A paz de Deus seja convosco! Diz com voz muito sumida e com um sorriso.
A paz de Deus! Amém!
Os irmãos de ordem fecham-lhe os olhos para o sono eterno. A sombra da janela avançou mais, desenhando um retângulo bem definido sobre a coberta.
- Como uma guilhotina, dizem entre si os irmãos.

Três anos após a sua morte, em 1840, a congregação dos Sagrados Corações fundou um convento em Lovaina. A três de janeiro de 1859, dia do seu aniversário, José de Veuster [futuro São Damião] tocou a sineta na portaria desse claustro.
Fonte: Wilhelm Huenermann, "Vida de São Damião". Tradução de Aloysio Sehnem, SJ. Trecho sobre a vida do Padre José Coudrin, Fundador da Ordem à qual pertence São Damião de Veuster. Com pequenas adaptações.


sábado, 18 de maio de 2013

Por que tem sempre água benta nas portas das Igrejas?


Muitas vezes as pessoas se queixam de que se distraem muito na igreja, sobretudo durante as leituras na Missa. O demônio tem grande interesse em nos distrair justamente quando vamos estar em contato com as realidades sagradas. Por isso é tão útil a Água Benta na entrada das igrejas e capelas. Mesmo usando a Água Benta pode acontecer que nos distraiamos, porém teremos a segurança de que as distrações procedem de nós mesmos e não do demônio.
Se uma pessoa se bendize com Água Benta com devoção, isso produz três efeitos: atrai a graça divina, purifica a alma e afasta ao demônio. Este gesto de persignar-se com esta água nos atrai as graças divinas pela oração da Igreja. A Igreja rezou sobre essa água com o poder da Cruz de Cristo. O poder sacerdotal deixou uma influência sobre essa água. Ao mesmo tempo purifica parte de nossos pecados, tanto os veniais, como o reato que tenha permanecido em nossas almas. O terceiro poder da Água Benta é afastar o demônio. O Maligno pode entrar perfeitamente em uma igreja, seus muros e paredes não o impedem, o solo sagrado não o freia. Sem embargo, a Água Benta o afasta.  
Ainda que nós com os olhos do corpo não alcancemos ver a cruz que forma a Água Benta em nosso corpo ao nos persignar com ela, o demônio a vê perfeitamente. Para ele essa cruz é de fogo, é uma couraça que não consegue ultrapassar. Insisto em que persignar-se com a Água Benta ao entrar em uma igreja não é um mero símbolo. É um símbolo, porém esta água tem um poder, um poder que Cristo ganhou com os sofrimentos na Cruz e que o Sacerdote administra com toda facilidade.

Fonte: Padre José Antonio Fortea, Suma daemoniaca. Tratado de demonología y manual de exorcistas.

sábado, 4 de maio de 2013

NOSSA SENHORA DE FÁTIMA EM RECIFE




Não Perca!

     Preparamos para você e sua família uma linda cerimônia. Venha participar conosco no próximo dia 13 de maio, domingo, dessa ação de graças e pedir também a Nossa Senhora todos os dons e bênçãos de que precise.


Data: 13 de maio (Segunda-Feira)Horário: 19:30End.: Rua Dom Bosco, 551 – Boa Vista (ver mapa)Local: Basílica Sagrado Coração de Jesus (Salesiano)

Esperamos por você!

Para maiores informações ligue:
(81) 3267-5332







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Missas em outras cidades: Clique aqui

quarta-feira, 20 de março de 2013

Domingo de Ramos




Ramos bentos no Domingo de Ramos


              
Os ramos bentos no Domingo de Ramos devem ser guardados com respeito, e colocados em algum lugar decente do lar.  Servem  para proteger os cristãos contra raios e incêndios, e para afugentar o demônio.

               Em alguns países fazem-se com eles cruzes pequenas, que se cravam nos vinhedos, olivais, hortas e sementeiras, para preservá-los das pestes e saraivadas miúdas.

               Efetivamente, podem-se usar para todos estes fins, uma vez que são coisas bentas e, como tais, veículos de celestial proteção, como bem indica a Liturgia no Cerimonial da Bênção:

               " Ó Senhor Jesus Cristo, Rei e Redentor nosso, concedei propício que, aonde quer que forem levados estes ramos, aí desça a graça de vossa benção, E que, desbaratada toda iniquidade e ilusão diabólica, protejeis com vosso poder aqueles a quem redimistes ".

       ( Cfr. Missal Diário para América, Don Andrés Azcarate, OSO Editorial ).

quarta-feira, 13 de março de 2013

Excelente curso de Mariologia por Internet


O Curso de Mariologia tem por finalidade ajudar os cristãos a conhecer os mecanismos de estudo da figura de Maria de Nazaré, utilizando os pilares da doutrina Católica: Bíblia, Tradição e Magistério.
Recomendo vivamente que conheçam este curso, pois é necessário nestas épocas de dificuldades e dúvidas, conhecermos melhor nossa fé e recorrermos ao auxílio de Maria, único caminho escolhido por Cristo para entrar em nossa história e em nossas vidas.
Prof. Dom Rafael Maria, OSB, doutor em Mariologia pela Pontificia Facoltà Teologica MARIANUM de Roma, sócio da Pontifícia Academia Mariana Internacional e da Academia Marial de Aparecida, preparou um curso que aborda a História da Mariologia, do culto e devoção, a Mariologia Bíblica, Patrística, Dogmática, Litúrgica, as Aparições e revelações particulares entre outros.
INSCREVA-SE! Clique aqui

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Senhor, eu não sou digno


Há muito tempo, em Roma, para além da Porta Nomentana, erguia-se um amontado de míseros casebres, onde viviam centenas de escravos foragidos, comediantes arruinados, mendigos, traficantes e gladiadores estropiados, que pareciam mais ameaçadores com seus andrajos do que os arrogantes vigias do Emporium com suas pesadas lanças rebrilhantes.
Aquele perigoso refúgio, raramente visitados pelos agentes de César, era apelidado a “Pequena Salária”, ou melhor “A Salária”.
Por entre as vielas sórdidas e sombrias da Salária, um dos tipos mais populares era o velho Flaminius, o Sereno. Pela manhã, muito cedo ainda, arrastando-se lentamente, deixava o seu miserável tugúrio e dirigia-se para o pátio da Semita, em busca de sol, sob as árvores ferrugentas.
Era um homem alto, magro, de faces amortecidas e olhar distraído. A sua cabeleira, inteiramente branca, sempre revolta, dava-lhe uma estranha aparência de profeta gaulês.
Usava, habitualmente, uma espécie de túnica palmata, avermelhada, suja, esfarrapada, que mal lhe chegava até os joelhos.
De que vivia? Onde ia buscar recursos aquele ancião que não esmolava na Praça doMercado nem era visto a tirar sortes nas escadarias dos templos?
Repontava aí a sombra de um mistério, que o tempo jamais conseguiria esclarecer.
Garantiam alguns que o velho Flaminius era amparado por um antigo senador, íntimo de Augusto, que ele conhecera muitos anos antes, em Nápoles, quando trabalhava no porto, carregando as galeras de Tibério.
E, na verdade, Flaminius, que agora arrastava a sua triste decrepitude na Salária, tivera, em sua vida, um período de prosperidade e alegria. Casara-se com uma camponesa da Sicília e tivera dois filhos. Um deles — Cláudio, o Belo — fizera-se poeta. Tornara-se popular na corte. As suas poesias eram declamadas pelos nobres e elogiadas pelo imperador. Até os cônsules, altivos, com prestígio entre os senadores, invejavam os triunfos do jovem Cláudio.
Flaminius orgulhava-se daquele filho, que os seus “deuses” haviam cumulado de talento.
Mas Cláudio era ambicioso. Ligou-se a um certo Marcus Lúcius, político sem escrúpulos, que Tibério escolhera, no período mais agitado de seu governo, para pacificar uma província grega. Lúcius partiu e levou o poeta. E, de Atenas, Cláudio jamais regressou.
O desaparecimento do filho amado navalhou o coração de Flaminius. Abandonou o trabalho em Nápoles e passou a viver em Roma, entre aventureiros da pior espécie, sem pão, sem conforto, sem esperança. Sua esposa abandonou-o e partiu para a Espanha, com alguns parentes ricos. O filho mais moço fez-se soldado e alistou-se nas legiões de César.
E no entanto, Flaminius, no meio de tanta desgraça, sentia-se feliz.
As palavras, que ele ouvira de um oráculo do Templo de Vesta, enchiam o seu coração de esperanças.
Passara-se o caso num dos últimos dias de setembro, quando os fiéis traziam suas oferendas aos seus “deuses”. Cruzava Flaminius o átrio do Templo, quando ouviu que o chamavam. Era um dos oráculos. Trajava uma túnica branca, muito alva, vistosamente recamada de franjas. Na manga direita, que se abria em leque, aparecia, desenhada, uma figura estranha: dragão, esfinge, serpente ou coisa parecida.
— Não se lembras de mim, Flaminius?
O ancião aproximou-se, desconfiado. Surpreendia-a, além do mais, o tom amistoso daquele profeta de olhos mortiços e rosto pálido.
— Quero recordar-te — prosseguiu o oráculo — olhando fito no velho. Há vários anos passados (reinava Augusto), em Nápoles, certa noite, socorreste um viajante que fôra assaltado no porto. Graças a teu auxílio, ele conseguiu livrar-se do sicário. Esse viajante era precisamente eu. Devo-te, portanto, a vida. Quero agora prestar-te igualmente um benefício.
Vou ler o teu futuro.
Flaminius parou diante do oráculo. Cruzou os braços sobre o peito e aguardou impassível a terrível e arrebatadora sentença. Curiosos que perambulavam entre as colunas, aproximaram-se em silêncio.
— O teu nome será esquecido. A tua memória será apagada por completo e desaparecerá como as cinzas levadas pelo vento. Mas as palavras admiráveis de teu filho jamais serão olvidadas. Milhões e milhões de homens, no desenrolar dos séculos, repetirão por todos os recantos do mundo as palavras de teu filho! Que júbilo, que glória imensa para o teu coração de pai!
Ao retornar ao seu casebre de Salária, o velho Flaminius assim meditava:
— Vivi sempre obscuro; morrei esquecido e obscuro. Não importa! Mas a glória perpetuará, sobre a terra, o nome de Cláudio, meu filho. Os seus versos “adoráveis”, que César não se cansava de repetir, serão lembrados pelos homens, no desenrolar dos séculos! E aquele êxito do filho poeta trazia infinita alegria e tranqüilidade ao coração do velho romano.
— Que importa a pobreza em que vivo! Consola-me a certeza de que meu filho Cláudio terá por prêmio a imortalidade!
E o velho Flaminius, a quem as palavras do oráculo deram alento para resistir a todas as amarguras e vicissitudes de sua negra existência, teve um fim trágico. Ao regressar, um dia, de um visita ao templo de Júpiter, avistou, num recanto da praça Salutis, um soldado espancando cruelmente uma pobre menina. O agressor, irritado com a intervenção inesperada daquele desconhecido, não hesitou em atravessá-lo com uma punhalada.
Flaminius pereceu heroicamente. E no dia seguinte, um mendigo sem rumo, no seu andar bamboleante, avistou casualmente a miserável mansarda em completo abandono na Salária. Apoderou-se dela, atirou para ali seus troços, sem indagar do destino que levava o primitivo dono.
E assim como previra o oráculo, como a cinza que o vento espalha, apagou-se entre os homens a lembrança daquele que fora em vida Flaminius, o Sereno.
Após a morte, viu Flaminius surgir diante dele a figura radiosa de um Anjo.
— Flaminius — disse o Enviado de Deus, em tom mavioso de paciência — a tua morte gloriosa mereceu-te uma recompensa no Céu. Fala, meu bom amigo, e o Eterno ouvirá a tua voz.
— Nada fiz, estou certo, para merecer a menor recompensa da misericórdia de Deus.
Confesso, porém, que tenho o coração torturado por uma grande angústia. Gostaria de retornar ao mundo, no fim de alguns séculos, a fim de verificar se os homens (conforme me garantiu o oráculo) conservam, na memória, os versos de meu filho. Que indizível alegria para mim certificar-me de que meu filho, por seu gênio incomparável, se tornou imortal!
Deus, na sua infinita misericórdia, atendeu ao pedido daquele pai. E, decorridos dezenove séculos, Flaminius, conduzido por um Anjo, retornou a Roma.
Por todos os recantos da terra erguiam-se cruzes. A religião que César havia desprezado, a princípio, e perseguido mais tarde, vencera, afinal, e dominava o mundo.Flaminius, o Sereno, guiado pelo Anjo, entrou num grande Templo cristão. Milhares de fiéis achavam-se em oração; um jovem sacerdote, revestido de riquíssima paramenta, debruada com fios de ouro, junto a um belíssimo altar, adorava o verdadeiro Deus, Jesus, Nosso Senhor! Flaminius não cabia em si de deslumbramento! Tudo ali era para ele motivo de indescritível assombro! E balbuciou muito humilde (e suas palavras só eram ouvidas pelo Anjo):
— E os versos de meu filho? Poderei ouvi-los aqui, neste Templo, cheio de cristãos, que erguem para o Céu as suas preces lamuriantes?
— Sim — confirmou o Anjo — dentro de alguns instantes! Rejubila-te! Todos os cristãos, aqui reunidos, repetirão as palavras de teu filho!
Decorridos alguns minutos cessaram os cânticos. Fez-se profundo silêncio. E o sacerdote, batendo no peito três vezes, suplicou cheio de humildade e confiança:

— Domine, non sum dignos ut intres sub tectum meum...
(Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa...)

— Eis aí — acudiu o Anjo — Acabaste de ouvir! Foram estas palavras proferidas, há muitos séculos por teu filho e, até hoje, os homens as repetem diante de Deus! Sinto dizer-te, porém, que não são versos de Cláudio, o poeta; são simples palavras proferidas por Marcelo, teu filho mais moço... Flaminius quedou um momento perplexo e replicou, esboçando um sorriso pálido:
— Aquele que se fez soldado?
— Sim — confirmou o Anjo, num tom de absoluta confiança — aquele que se alistou nas legiões de César! Marcelo era um homem bom e caridoso: apiedava-se dos sofrimentos alheios; socorria os pobres; consolava os aflitos. Quando servia às ordens de Herodes, tetrarca da Galiléia, um dos seus servos adoeceu com uma grave paralisia. Marcelo, neste tempo, fora promovido; já era centurião. E todos os homens de sua centúria o estimavam.
Inspirado pela delicadeza de sua sensibilidade, cuidou Marcelo de acudir, com desvelo, ao servo enfermo. Todos os remédios, aconselhados por amigos e vizinhos, ele experimentava, sem resultado. Alguém sugeriu:
— Chefe! Por que não apelas para Jesus de Nazaré? Dizem que o Rabi faz milagres!
Marcelo era puro de coração e, muito embora fosse romano, acreditava naquele Rabi, cheio de simplicidade e candura, que sorria para as crianças e curava os enfermos com o simples estender suave de suas divinas mãos.
Não se atreveu, porém a ir procurar Jesus e pediu a alguns israelitas, fossem em busca do Mestre, de cujo amparo o infeliz servo tanto necessitava.
Jesus, Nosso Senhor, com seus discípulos, dirigiam-se para Cafarnaum, quando recebeu o pedido de dois anciãos, amigos de Marcelo. E disse aos que o acompanhavam:
— Irei até lá!
Quando o centurião romano foi informado de que Jesus de Nazaré, em Pessoa, se dirigia para a sua morada, levantou-se imediatamente a passos rápidos, seguido de alguns ajudantes e servos e foi ter, muito respeitoso, ao encontro do Mestre. E disse-lhe, com extrema humildade:


— Senhor! Eu não sou digno de que entreis na minha morada! (Domine, non sum dignus...) Basta que digais uma só palavra e, estou certo, meu servo estará para sempre curado!
E, como Cristo o fitasse surpreendido, ajuntou:
— Porque eu, Senhor, sou militar e sei muito bem o que é obedecer e o que é mandar!
Estou sujeito à autoridade de meus chefes, e tenho soldados às minhas ordens! Digo a um:“Vai!” E ele segue o rumo que indiquei. Digo a outro: “Vem cá!” E ele se aproxima de mim!
Basta, pois, Senhor, uma só palavra Vossa, e meu servo será salvo.
Ouvindo isto, Jesus se admirou; e, voltando-se para o povo que o seguia, disse:
— Em verdade, em verdade eu vos digo que nem em Israel achei tão grande fé.
E disse ao bom centurião:
— Vai, e faça-se como tu crês!
E, naquela mesma hora, ficou curado o servo!Que restam dos versos famosos de Cláudio, o festejado poeta? Não! Os homens não se lembram mais das odes admiráveis que César elogiava e que os comediantes mais ilustres declamavam nos festins romanos.
Mas as palavras do bom-soldado são repetidas todos os dias, com profunda veneração, por milhares de lábios humildes!
— E por quê?
— Porque as palavras do poeta eram despidas de sinceridade, ao passo que as palavras do soldado foram proferidas com fé!
Escuta, meu filho, as palavras ditas com fé, para a salvação de uma alma, ficarão na lembrança dos homens per omnia saecula saeculorum!
Glória a Deus! Glória a Deus no mais alto dos Céus e paz, na terra, aos homens de boa vontade! Amém!

Fonte: Malba Tahan, Novas Lendas Orientais. Com adaptações.