sábado, 22 de dezembro de 2012

O verdadeiro significado do Natal




Difícil é, num mundo marcado pelo laicismo, ter bem presentes o autêntico significado do Santo Natal e o benefício incomensurável que representou
para os homens a Encarnação da Segunda Pessoa da
Santíssima Trindade.


E o Verbo Se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14). Desse modo singelo resumiu o Discípulo Amado o maior acontecimento da História. Suas despretensiosas palavras sintetizam o rico e insondável conteúdo do grandioso mistério comemorado a cada 25 de dezembro: na obscuridade das trevas do paganismo, raiou a aurora de nossa salvação. Fez-Se homem o Esperado das nações, Aquele que tinha sido anunciado pelos profetas.


Cenário tomado pelo sobrenatural


Na noite em que Jesus veio ao mundo, pairava sobre Belém uma atmosfera de paz e alegria. A natureza parecia estar em júbilo enquanto, dentro de uma gruta inóspita, um santo casal contemplava seu Filho recém-nascido.

Ela é a Mãe das mães, concebida sem pecado original, criatura perfeita, na qual o Criador depositou toda a graça. Ao seu lado encontra-se São José, esposo castíssimo, varão justo cujo amor a Deus, integridade e sabedoria o tornam digno de tão augusta Esposa. E a Criança que ambos contemplam é o próprio Deus, que assume nossa natureza para dar a maior prova possível de seu amor à humanidade.

Quão sublime atmosfera envolvia aquele cenário paupérrimo! O ambiente no qual nasceu o Menino Deus devia estar tão tomado pelo sobrenatural que, se alguém tivesse a dita de entrar naquela gruta, ficaria imediatamente arrebatado por toda sorte de graças.

Foi o que ocorreu com os pastores. Após o aviso dos Anjos, correram em direção à gruta e lá encontraram o Rei do Universo deitado sobre palhas. Abismados pela grandeza dessa cena, que contemplavam também com os olhos da Fé, não tiveram outra atitude senão a da adoração. Que extraordinária dádiva receberam, sendo os primeiros a contemplar o Criador do Céu e da Terra feito homem, envolto em faixas, numa manjedoura!

Deus quis apresentar-Se de forma exemplarmente humilde

Considerando as imponentes manifestações da natureza que acompanhavam as intervenções de Deus no Antigo Testamento — o mar se abre, o monte fumega, o fogo cai do céu e reduz cidades a cinzas —, resulta surpreendente constatar a humildade e discrição com que Cristo veio ao mundo.

Não teria sido mais condizente com a grandeza divina que, na noite de Natal, sinais magníficos marcassem o acontecimento no Céu e na Terra? Não poderia, ao menos, ter nascido Jesus num magnífico palácio e convocado os maiores potentados da Terra para prestar-Lhe homenagens? Bastar-Lhe-ia um simples ato de vontade para que isso acontecesse...

Mas, não! O Verbo preferiu a gruta a um palácio; quis ser adorado por pobres pastores, ao invés de grandes senhores; aqueceu-Se com o bafo dos animais e a rudeza das palhas, em lugar de usar ricas vestes e dourados braseiros. Nem mesmo quis dar ordem ao frio para que não O atingisse. Num sublime paradoxo, desejava a Majestade infinita apresentar-Se de forma exemplarmente humilde.

Pois, apesar das pobres aparências, Aquele Menino era a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. NEle dava-se a união hipostática da natureza divina com a humana, conforme explica o renomado padre Boulenger: “União é o estado de duas coisas que se acham juntas. Ela pode realizar-se ora nas naturezas, por exemplo, quando o corpo e a alma unem-se para formar uma só natureza humana; e ora na pessoa, quando se unem duas naturezas na mesma pessoa. Esta última união chama-se hipostática, porque, em grego, os dois termos, hipóstase (suporte) e pessoa, têm igual significação teológica”.

E, depois da união, essas duas naturezas permaneceram perfeitamente íntegras e inconfundíveis na Pessoa de Cristo, que não é humana, mas divina. Por esse motivo é Ele chamado Homem-Deus.


Abismo intransponível


Mas, por que quis a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade encarnar-Se em uma tão inferior natureza? Os nossos primeiros pais foram criados no Paraíso Terrestre em estado de inocência original, portanto em justiça e santidade. Além disso, na sua infinita bondade, Deus conferiu a Adão dons de três qualidades: naturais, estando todas as propriedades do corpo e da alma perfeitamente ordenadas para alcançar o seu fim natural; sobrenaturais, a graça santificante, ou seja, a participação na própria vida de Deus, e a predestinação à visão de Deus na eterna bem-aventurança; e preternaturais, tais como a ciência infusa, o domínio das paixões e a imortalidade, que constituem o dom de integridade.

Como contrapartida a esses imensos benefícios, foi apresentada ao homem uma prova.

Devia ele cumprir de modo exímio a lei divina, guiando-se pelas exigências da lei natural gravada no seu coração, e respeitar uma única norma concreta que Deus lhe dera: a proibição de comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, plantada no centro do Jardim do Éden (cf. Gn 2, 9-17).

Narra-nos a Sagrada Escritura como a serpente tentou Eva, como caíram nossos primeiros pais e como foram expulsos do Paraíso (cf. Gn 3, 1-23). Em consequência do pecado, boa parte desses privilégios lhes foram retirados. Mas Deus, em sua infinita misericórdia, manteve-lhes os privilégios naturais, como descreve o douto padre Tanquerey: “Contentou-Se de os despojar dos privilégios especiais que lhes tinha conferido, isto é, do dom de integridade e da graça habitual: conservam pois, a natureza e os seus privilégios naturais. É certo que a vontade ficou enfraquecida, se a compararmos ao que era com o dom de integridade; mas não está provado que seja mais fraca do que teria sido no estado de natureza”.

O Pecado Original abriu entre Deus e os homens um abismo intransponível. As portas do Céu se fecharam e o homem contingente só podia oferecer a Deus uma reparação imperfeita da ofensa cometida. E o Filho ofereceu-Se ao Pai para, “fazendo-Se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2, 8), restituir ao homem a graça perdida com o pecado. O próprio Criador fazia-Se criatura para, com uma generosidade inefável, saldar nossa dívida.


O caminho da glória passa pela Cruz


Entretanto, por que quis Jesus sofrer o desprezo dos seus coetâneos e os tormentos da Paixão? Estando hipostaticamente unido à Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, qualquer gesto da Sua natureza humana poderia ter redimido a humanidade inteira. Um simples ato de vontade de Cristo teria bastado para obter de Deus o perdão de todos os nossos pecados.

Mais uma vez, deparamo-nos com um sublime paradoxo. Com o exemplo de Sua Vida e Paixão, queria Jesus ensinar-nos que, neste vale de lágrimas, a verdadeira glória só vem da dor. E como o Pai desejava para Seu Filho o máximo grau de glória, permitiu que Ele passasse pelo extremo limite do sofrimento.

“O Filho do homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate de muitos” (Mt 20, 28). Já na manjedoura em Belém, nosso Salvador estava ciente de ter vindo ao mundo para expiar nossos pecados. É esse o motivo pelo qual em muitos presépios o Menino Deus nos é apresentado com os braços abertos em cruz. Durante toda a sua vida, de Belém ao Gólgota, Jesus não fez outra coisa senão avançar ao encontro do Sacrifício Supremo que Lhe acarretaria o fastígio da glória.


A Terra toda foi renovada


Pode haver ser humano mais frágil do que uma criança, habitação mais simples do que uma gruta e berço mais precário do que uma manjedoura? Entretanto, a Criança que contemplamos deitada sobre palhas na gruta de Belém haveria de alterar completamente o rumo dos acontecimentos terrenos.

Afirma o historiador austríaco João Batista Weiss: “Cristo é o centro dos acontecimentos da História. O mundo antigo O esperou; o mundo moderno e todo o porvir descansam sobre Ele. A Redenção da humanidade por Cristo é a maior façanha da História universal; sua Vida, a memória mais alta e bela que possui a humanidade; sua doutrina, a medida com que se há de apreciar todas as coisas”.

Difícil é, num mundo marcado pelo relativismo e pelo laicismo — quando não pelo ateísmo —, ter bem presentes o verdadeiro significado do Santo Natal e o benefício incomensurável que representou para os homens a Encarnação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

Cristo era o varão prometido a Adão logo depois de sua queda, o Messias anunciado durante séculos pelos profetas. Mas a realidade transcendeu qualquer imaginação humana: quem poderia excogitar que Ele seria o próprio Deus encarnado? A vinda de Jesus ao mundo não só abriu-nos as portas do Céu e nos trouxe a Salvação, mas também renovou toda a Terra. Diz São Tomás que Nosso Senhor quis ser batizado, entre outras razões, para santificar as águas. E o mesmo aconteceu com todos os outros elementos: a terra foi santificada porque seus divinos pés a pisaram; o ar, porque Ele o respirou; o fogo ardeu com maior vigor e pureza. Podemos sem dúvida dizer que este nosso mundo nunca mais foi o mesmo depois de nele ter vivido, feito homem, o próprio Criador.

Não é por acaso que se contam os anos a partir do nascimento de Cristo, pois Ele, realmente, divide a História em duas vertentes. Antes dEle a humanidade era uma, e depois passou a ser diametralmente outra. São duas histórias. Quase poderíamos afirmar serem dois universos! (Revista Arautos do Evangelho, Dez/2009, n. 96, p. 19 à 21)


segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Fatos prodigiosos do dia de Natal






          São Boaventura, frade franciscano que viveu no século XIII, recebeu o título de Doutor Seráfico devido à elevação e clareza de sua doutrina. É de sua autoria o Sermão XXI  No nascimento do Senhor , pronunciado na igreja de Santa Maria de Porciúncula, o qual se baseia, segundo atesta o próprio santo, em diversas descrições antigas.
 
Apresentamos abaixo uma tradução do texto original latino.
“São estes, segundo diversas descrições, os milagres manifestados ao povo pecador no dia da natividade de Cristo:
Primeiro:  Uma estrela brilhantíssima apareceu no céu, do lado do Oriente, e nela se via a figura de um belíssimo Menino em cuja cabeça refulgia uma Cruz, para manifestar que nascia Aquele que vinha iluminar o mundo com sua doutrina, sua vida e sua morte.
Segundo:  Em Roma, ao meio-dia apareceu sobre o Capitólio, junto ao sol, um círculo dourado  visto pelo imperador e pela Sibila  tendo ao centro uma Virgem belíssima, portando um Menino, a fim de manifestar que Aquele que nascia era o Rei do mundo, que Se dava a conhecer como o «resplendor da glória do Pai e a figura da sua própria Substância» (Hebr. 1,3). Vendo este sinal, o prudente imperador ofereceu incenso ao Menino, e recusou desde então ser chamado deus.
Terceiro:  Em Roma desmoronou o templo da paz, a respeito do qual, ao ser construído, os demônios se perguntavam quanto tempo duraria; tendo-lhes sido respondido: até o momento em que uma Virgem dê a luz. Este foi um sinal de que nascia Aquele que haveria de destruir os edifícios e as obras da vaidade.
Quarto:  Uma fonte de azeite de oliveira irrompeu em Roma e fluiu abundantemente, por muito tempo, até o rio Tibre, para ficar patente haver nascido a fonte da piedade e da misericórdia.
Quinto:  Na noite da Natividade, as vinhas da Engadda, que produzem bálsamo, floresceram, cobriram-se de folhas e produziram licor, para significar que nascia Aquele que faria o mundo florescer, reverdecer e frutificar espiritualmente, e atrair com seus odores o mundo inteiro.
Sexto:  Cerca de trinta mil rebeldes foram mortos pelo imperador, a fim de manifestar o nascimento d'Aquele que sujeitaria o mundo inteiro à sua Fé e arremessaria os rebeldes no inferno.
Sétimo:  Todos os sodomitas, homens e mulheres, morreram por toda a terra, conforme disse São Jerônimo, comentando o salmo «a luz nasceu para o justo», para evidenciar que Aquele que nascia vinha reformar a natureza e promover a castidade.
Oitavo:  Na Judéia um animal falou, como também dois bois, para que se compreendesse que nascia Aquele que aos bestiais transformaria em racionais.
Nono:  No momento em que a Virgem deu a luz, todos os ídolos do Egito se espatifaram, segundo o sinal que Jeremias dera aos egípcios quando esteve entre eles, para que se entendesse que nascia Aquele que era verdadeiro Deus, único a ser adorado com o Pai e o Espírito Santo.
Décimo:  Logo que o Menino nasceu e foi reclinado no presépio, um boi e um asno ajoelharam-se e, como se fossem dotados de razão, O adoraram, para que se compreendesse que nascia Aquele que a seu culto chamava o povo judeu e os gentios.
 
Undécimo:  Todo o mundo gozou da paz e se colocou em ordem, para que ficasse manifesto que nascia Aquele que amaria e promoveria a paz universal e marcaria os seus eleitos para a eternidade.
Duodécimo:  No Oriente três sóis apareceram, e aos poucos se transformaram em um só corpo solar, pelo que se mostrava que se aproximava do mundo o conhecimento da Unidade e Trindade de Deus, e também que a Divindade, a Alma e a Carne em uma só Pessoa convergiram.
 

  Por tudo isto, nossa alma deve bendizer a Deus e venerá-Lo porque nos libertou e sua Majestade, com tão grandes milagres, se manifestou a nós, povo pecador”.


terça-feira, 16 de outubro de 2012

Santa Edwiges, apoio certo nos momentos difíceis


Ela nasceu em plena Idade Média, no ano de 1174 numa região chamada Silésia, que ficava entre a Alemanha e a Polônia.
Seus pais eram nobres e deram à pequena Edwiges uma cuidadosa educação, baseada na Fé e no amor a Deus e ao próximo.
Naquela época as moças casavam-se muito cedo e, com apenas 12 anos, Edwiges casou-se com o Duque da Silésia, Henrique, que depois foi também Duque da Polônia.
Esposa exemplar, a Duquesa Edwiges em pouco tempo conquistou todos os que estavam sobre suas ordens, através da forma carinhosa de tratá-los. Transformou seu lar num grande templo de Deus. Fiel ao Mandamento divino, ela foi mãe pela primeira vez aos treze anos e teve, no total, seis filhos. Aos 32 anos, com o consentimento de seu marido, fez o voto de castidade.
Seu espírito de oração e sua profunda intimidade com o sobrenatural robusteciam sua fé e seu vigor nas dificuldades. Para alcançar a conversão dos pecadores, submetia-se ao sacrifício de jejuns diários, limitando-se a comer alguns legumes secos nos Domingos, Terças, Quintas e Sábados. Nas Quartas e Sextas-feiras somente pão e água.
No tempo do Advento e da Quaresma, Edwiges se alimentava só para não cair sem sentidos. O esposo não aceitava aquela austeridade. Numa Quarta-feira de Quaresma ele esbravejou por não haver vinho à mesa, mas somente água. Edwiges então ofereceu-lhe uma taça com água e ao entregá-la ao marido, estava transformada em vinho. Este foi um dos muitos milagres que ela realizou.
Algum tempo depois Edwiges caiu vítima de uma grave enfermidade. Foi preciso que Guilherme, Bispo de Módena, representante do Papa para aquelas regiões, exigisse com uma severa ordem a interrupção de seu jejum. A Santa obedeceu, mas ela mesma dizia que isto era mais mortificante do que a sua própria doença.
Com o passar do tempo Edwiges desapegou-se das coisas materiais e foi morar com seus amigos nas dependências do Mosteiro.
A Duquesa Edwiges rezava diariamente o Ofício Divino na Capela do Castelo, nunca o abandonando mesmo diante das maiores dificuldades. Era comum os nobres assistirem a Santa Missa em seu próprio castelo, mas ela fazia questão de ir à Igreja assistir o Santo Sacrifício junto com o povo.
Seu amor ao Santíssimo Sacramento era algo admirável. Isto a levava a assistir não apenas uma Missa ao dia, mas todas as Missas que pudesse se fazer presente.
Grande admiradora de São Bernardo de Claraval. Ela fazia a constante meditação da Paixão e Morte de Jesus e levava as pessoas da corte a fazerem o mesmo.
Como Duquesa da Silésia e da Polônia, ela espalhou por toda a parte a devoção à Santíssima Virgem. Costumava levar consigo uma pequena Imagem de Nossa Senhora, e, de vez em quando a colocava diante de si para rezar. Com esta imagem ela abençoava os doentes e necessitados, alcançando-lhes a cura.
No momento de sua morte, Santa Edwiges segurava com tanta força esta imagem, que não a conseguiram tirar de sua mão e assim ela foi sepultada com a Imagem de Nossa Sernhora na mão esquerda. Anos depois, quando foi exumada, os três dedos que seguravam a imagem estavam intactos.
Edwiges dedicou toda sua vida na construção do Reino de Deus. Exerceu fortes influências nas decisões políticas tomadas pelo marido, interferindo na elaboração de leis mais justas para o povo. Junto com o marido construiu Igrejas, Mosteiros, Hospitais, Conventos e Escolas. Por isto, em algumas representações a Santa aparece com uma Igreja entre as mãos.
Além da oração e da penitência, a Duquesa destacava-se por seu amor aos pobres e sofredores. Encontrando duas mulheres desempregadas, convidou-as a cozinhar para os pobres em seu castelo. Na realidade a própria duquesa alimentava-se da comida preparada para os indigentes.
Nobre e de finíssima educação, Santa Edwiges era, entretanto, modelo de humildade. Além do jejum, ela usava a disciplina e o cílício, privava-se do sono e andava muitas vezes descalça nas regiões nevadas de seu país.
Ela tinha um carinho especial pelas mulheres e crianças abandonadas. Encaminhava as viúvas para os conventos onde estariam abrigadas em casos de guerra e as crianças para escolas, onde aprendiam um ofício. Era misericordiosa e socorria também os endividados. Em certa ocasião, quando visitava um presídio, ela descobriu que muitos ali se encontravam porque não tinham como pagar as suas dívidas. Desde então, Edwiges saldava as dívidas de muitos e devolvia-lhes a liberdade. Procurava também para eles um emprego. Com isto eles recomeçavam a vida com dignidade, evitando a destruição das famílias em uma época tão difícil como era aquela do século 13.
Assim, Santa Edwiges, é considerada a Padroeira dos pobres e endividados e protetora das famílias.
Depois da morte do marido e tendo perdido quase todos os filhos, Santa Edwiges foi morar no convento cirterciense, dedicando inteiramente sua vida para ajudar os pobres e necessitados, além de libertar os prisioneiros e unir as famílias.
Pouco tempo depois, os mongóis invadiram a Polônia. Seu filho Henrique II preparou-se para enfrentar os inimigos. Porém, Santa Edwiges pediu que ele esperasse a chegada dos reforços de seu exército. Não dando ouvidos aos conselhos da mãe, Henrique partiu para o combate e morreu no campo de batalha em abril de 1241
Ao saber da notícia da morte do filho, Edwiges, voltou os olhos ao céu e disse: “Agradeço a ti, Senhor, por teres sido tão bom para comigo e ter-me dado um filho que sempre me amou, respeitou nunca deu motivo de tristeza. Embora eu desejasse tê-lo vivo, sei que ele está unido ao Salvador e com ele eu me uno também. Humildemente recomendo a Ti, Senhor, a sua alma”.
No ano seguinte, 1243, Edwiges adoeceu várias vezes e em uma delas encontrou-se realmente muito debilitada. Pediu ao Padre Mateus, monge cisterciense, que lhe administrasse a Sagrada Unção dos Enfermos. Assim ela se prepara para a passagem desta vida para a eternidade. Foram dias de muitas orações. Edwiges recebeu visitas de muitos Santos. Finalmente no dia 15 de Outubro de 1243 a Duquesa Edwiges da Silésia deixou este mundo, entrando no Reino dos Céus. Como no dia 15 de Outubro celebra-se Santa Teresa de Ávila, a comemoração de Santa Edwiges passou para o dia 16 de Outubro.
Partindo desta terra, Santa Edwiges mostrou a todos que, continuando a vida após a morte, a pessoa verdadeiramente santa faz por seus irmãos muito mais do que fazia na terra. Se em vida ela auxiliava os pobres, doentes, os desempregados e os endividados de seu reino, subindo aos céus ela continua auxiliando não só os de seu reino mas os de todo o mundo. Se temos alguma dificuldade em nossa vida, em nossa família, recorramos com confiança a Santa Edwiges e tenhamos a certeza de que ela será nossa aliada junto a Deus, por intermédio de Maria.

SE PREFERIR ASSISTA O VÍDEO CLICANDO NO LINK ABAIXO:

domingo, 9 de setembro de 2012

O Anjo que apagava os pecados


             S. João Clímaco foi Pai e Mestre do Mosteiro do Monte Sinai, no século VII.
           Naquele deserto viviam centenas de monges que passavam santamente a vida a rezar e a trabalhar. 
           Certo dia chegou ao Mosteiro um rapaz. Bateu e abriram-lhe aquelas portas que para ninguém se fechavam. Dirigiu-se ao Superior, a quem disse:             
         -- Meu Padre, sou um grande pecador, mas Deus tocou-me o coração. Venho arrependido, fazer penitência neste Mosteiro. Quero que o exemplo de tantos santos que aqui vivem me encoraje, a fim de me fazer santo também. Meu Padre, tenha pena de mim e receba-me no número dos seus servos. 
           -- Meu filho, - respondeu S. João Clímaco - bendito seja Deus que te abriu os olhos para conheceres a gravidade das tuas culpas. Entra neste santo abrigo e procura com a oração e a penitência reparar os antigos erros. 
           -- Meu Padre - acrescentou o jovem penitente - Deus lhe pague tanta caridade. Vou pedir-lhe um favor: quero que me dê licença de fazer uma confissão pública. Quero confessar todos os meus pecados diante destes piedosos monges. Ao ouvirem tantas misérias, terão compaixão de mim e rezarão pela minha perseverança.
             S. João Clímaco julgou conveniente satisfazer os desejos daquele jovem arrependido, e mandou que os frades se reunissem na sala do convento. Já estão todos sentados nos bancos de madeira, as cabeças cobertas com os capuzes e as mãos escondidas nas mangas dos hábitos. 
             O rapaz  pôs-se de joelhos no meio da sala, e quando dos olhos brotaram duas lágrimas, começou a declarar os seus enormes desvarios.
              Havia naquele grande salão um altar e sentado ao seu lado encontrava-se um velho frade a quem todos veneravam como santo. Enquanto o pecador ia dizendo as suas faltas, o santo velhinho tinha os olhos cravados no altar, como se estivesse a contemplar alguma cena. E sorrindo com muita suavidade, dava sinais de grata surpresa .
           Acabada a confissão pública, os piedosos monges voltaram para a vida diária dando graças a Deus pela sua misericórdia, que assim convertia os corações afundados no negro abismo dos pecados, fazendo brilhar neles a luz da santidade.  
          S. João Clímaco chamou à parte aquele santo velho que tinha estado todo o tempo a contemplar qualquer coisa no altar com os olhos radiantes de gaudio. E perguntou-lhe se o Senhor Deus o tinha favorecido com alguma visão.
              -- Sim, meu Padre - respondeu o velhinho - enquanto aquele jovem penitente ia declarando suas faltas confessando-as com tantas lágrimas, contemplei um Anjo no altar. Tinha um livro na mão no qual estavam escritos todos os desmandos daquele jovem. À medida que ele os ia declarando, vi que o Anjo os apagava com a sua mão bendita. E o livro ficou limpo e branco, como a alma daquele pecador arrependido.
          S. João Clímaco chamou o rapaz e contou-lhe aquela graça, para que assim aumentasse a sua consolação e a confiança na misericórdia de Deus. E concluiu:-- Coragem, meu irmão! Agora és santo. Tens a alma branca como no dia do teu Batismo. Persevera na oração e na penitência para agradeceres ao Senhor a sua infinita bondade.                
              Jesus veio ao mundo, como Ele próprio disse, “não para condenar, mas para salvar o mundo” (Jo 3, 16).

 Revista Cruzada - Braga – Portugal

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Festa de Nossa Senhora Rainha

Plinio Corrêa de Oliveira (excertos de conferência de 31 de maio de 1975)

[...] Eu gostaria de dizer uma palavra a respeito do Sapiencial e Imaculado Coração de Maria.
Em primeiro lugar, eu devo lembrar aos Srs. que hoje não é propriamente a festa do Imaculado Coração de Maria. Hoje é a festa de Nossa Senhora Rainha.
Entretanto, eu creio que com toda legitimidade nós podemos festejar o Imaculado Coração de Maria no dia de hoje. E isto por uma razão muito simples, é que um dos modos pelos quais Nossa Senhora torna efetivo o seu domínio na terra é exatamente o seu Coração Imaculado e Sapiencial. E há até uma invocação muito bonita de Nossa Senhora, Regina Cordium, Nossa Senhora Rainha dos Corações, que pode ser vista na perspectiva desses dois atributos ou invocações de Nossa Senhora. Primeiro, Nossa Senhora Rainha e em segundo lugar o Imaculado e Sapiencial Coração de Maria.
Como é que tudo isso se coloca, como é que tudo isso se vê e se entende?
Nós sabemos que Nossa Senhora, de direito, é a Rainha do Céu e da terra. Ela o é de direito por duas razões: em primeiro lugar porque Ela é a Rainha-Mãe de toda a criação, Ela é Mãe de Deus e Ela tem, portanto, na criação, uma situação parecida com a que tem as rainhas-mães nos países de estrutura monárquica. Mas de outro lado também, porque Deus Nosso Senhor entregou a Nossa Senhora a regência efetiva do Céu e da terra. Nossa Senhora manda — porque Ele entregou esse poder — Nossa Senhora manda sobre os Anjos, Nossa Senhora manda sobre os santos, Nossa Senhora manda sobre todas as almas que estão no Purgatório, Nossa Senhora manda sobre todos os homens que estão no mundo. Ela manda até sobre o inferno.
Tudo está completamente e inteiramente sujeito a Ela pela vontade de Deus.
Uma rainha-mãe não é propriamente uma rainha reinante. Ela tem as honras da realeza, mas ela não é a rainha reinante. A rainha Mary, da Inglaterra, por exemplo, é rainha-mãe. Ela foi rainha, esposa — ela nunca foi rainha reinante, ela nunca exerceu a realeza, ela teve as honras da realeza, foi esposa do rei Jorge VI, depois faleceu o rei, a realeza passou para a filha dela, a rainha Elisabeth II e ela passou a ser a rainha-mãe. Ela passou a vida inteira, portanto, cercada das honras da realeza, não portanto do mando da realeza. A rainha Elisabeth II é a rainha reinante, porque na pequena medida de poder que tem uma rainha da Inglaterra, nessa medida ela reina. De maneira que ela é a rainha reinante.
Nossa Senhora não é só a Rainha-Mãe porque é Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas Ela é Rainha reinante porque Deus Nosso Senhor confiou a Ela esse poder.
Agora, esse poder que Ela tem, de direito, como é que ela exerce? Como Ela transforma em fatos esse poder de direito que Ela tem?
No Céu Ela exerce de dois modos: em primeiro lugar, porque Ela tem o direito de mandar e sendo todas as almas que estão no Céu confirmadas em graça, elas não fazem senão a vontade de Deus. De maneira que é certíssimo que Nossa Senhora mandando nelas em nome de Deus, Nossa Senhora tem o direito de se impor a elas e elas obedecem.
Mas é também verdade que ainda que Deus não tivesse mandado, elas quereriam obedecer a Nossa Senhora. E quereriam pelo extremo amor que elas tem a Nossa Senhora, pelo conhecimento que elas tem de todas as virtudes de Nossa Senhora, da superioridade de Nossa Senhora. Porque toda superioridade confere um mando, ainda que não houvesse essa ordem de Deus, eu estou certo que todos os Anjos e todos os Santos do Céu pela expressão de uma leve, tênue vontade de Nossa Senhora, eles se moveriam todos nessa direção.
E aí é um império que é o império de um Coração sobre corações. Em que sentido isso?

O coração é o órgão físico que é símbolo da mentalidade. Quer dizer, do modo pelo qual a pessoa vê as coisas, e do modo pelo qual quer as coisas.
O Sapiencial e Imaculado Coração de Maria é uma expressão da mentalidade sapiencial e imaculada de Nossa Senhora. E exprime, entre outras coisas também, a sua bondade inefável, sua doçura inefável, sua misericórdia inesgotável.
Por todas essas razões, os Anjos e Santos do Céu, considerando Nossa Senhora, a amam com toda a intensidade — abaixo de Deus, mas a amam. Amam tanto quanto é dado a eles amar, mas a amam. E o resultado é que esse amor é tal que Ela reinaria sobre eles — o Coração dEla sobre o coração deles, — quer dizer a mentalidade dEla sobre a mentalidade deles. Quer dizer, o modo dEla ver as coisas super sapiencialmente seria uma regra de sabedoria para eles. A vontade dEla, santíssima, sem mancha, imaculada, seria uma regra para a vontade deles ainda que não houvessem as ordens de Deus.
Quer dizer, simplesmente, de Coração a coração, Nossa Senhora domina o Céu. Domina o Céu e domina o Purgatório, porque as almas que estão no Purgatório também elas já não pecam mais. Também elas já estão garantidas de irem ao Céu. Não há perigo de uma alma no Purgatório, por exemplo, revoltar-se com os padecimentos extremos que no Purgatório se sofrem. Por quê? Porque elas estão confirmadas em graça e elas vão para o Céu. E por causa disso elas pensam como Nossa Senhora pensa, querem o que Nossa Senhora quer, vivem para Nossa Senhora. E por isso, quando Nossa Senhora de vez em quando aparece no Purgatório, há para elas uma alegria sem nome. Elas todas cantam, satisfeitíssimas, de dentro de seus tormentos. E Ela leva sempre um número enorme de almas para o Céu. E às que Ela não leva para o Céu, Ela espalha em torno de Si como que um orvalho que diminui as penas, aumenta a esperança de chegar ao Céu e alivia os padecimentos daquelas almas.
Mas é também de Coração a coração que Nossa Senhora domina aquelas almas e reina. E não só pela vontade de Deus.
Na terra, como é que são as coisas? Nós temos na terra, se os Srs. quiserem, a triste liberdade — que é de fato uma servidão, — a triste liberdade de não fazer a vontade de Deus. Em outros termos, nossas paixões nos arrastam. Elas são tiranas que nos levam muitas vezes a fazer o que nós não quereríamos, por pecado nosso, mas nos levam a fazer o que nós não quereríamos. E elas nos dão, assim, a triste liberdade de dizer “não” para Deus.
Uma triste liberdade que é uma escravidão porque se nós fossemos livres em nossas paixões nós nunca diríamos “não” a Deus. Mas essas paixões existem. E nós temos que lutar contra elas. De maneira que, em última análise, há essa servidão nossa: as paixões, que só com a graça de Nossa Senhora nós conseguimos sacudir, conseguimos limitar, e extinguir até. Sem isso, nós seríamos escravos de nossos defeitos.

E há na terra uma luta entre os que obedecem e os que não obedecem a Nossa Senhora. Nossa Senhora tem o direito de ser obedecida por todo o mundo. E nesse sentido, “de direito”, ela é Rainha do mundo inteiro. Mas o mundo tem a possibilidade — se bem que não o direito — de desobedecer a Nossa Senhora. De onde, um número enorme de pessoas que desobedecem a Nossa Senhora.
Então, o Sapiencial e Imaculado Coração de Maria como é que torna efetiva a sua autoridade jurídica e indiscutível sobre todo mundo? Torna efetiva de uma forma muito simples. Nossa Senhora, pelo seu Coração, Ela toca os corações, Ela toca as almas, e faz com que as almas recebendo graças muito abundantes, sigam a Ela.
É claro que isto não é automático. Uma pessoa pode resistir à graça. Mesmo a uma graça muito abundante, a pessoa pode resistir. Peca, mas pode resistir. Está bem, mas muitos não pecam por causa da abundância da graça. E por esta forma, recebendo graças caudalosas, servem a Nossa Senhora. Mas essas graças como é que são? É a graça que Ela dá a nossos corações de vermos o Coração dEla. De conhecermos e amarmos a sabedoria dEla, de conhecermos e amarmos a nota de Imaculada que existe em toda a Pessoa dEla. E é por esta forma que Ela se torna obedecida por nós.
De maneira que o Coração dEla é um cetro com o qual Ela governa todos aqueles que Lhe obedecem no mundo.
É claro que também, Nossa Senhora manda nos maus. O demônio obedece, absolutamente. E por isso também muitas vezes, na história, acontecem coisas desconcertantes para os bons ou para os que defendem o lado do bem, acontecem coisas desconcertantes em última análise porque Nossa Senhora mandou. E neste sentido, Ela pode também mandar. Mas não é um mandar que force o livre arbítrio pelo qual a pessoa diz “sim” à graça de Deus. Isso não. Força qualquer outra coisa, esse ponto não força.
Quer dizer, Nossa Senhora tem um império de direito sobre todos. Que às vezes Ela torna efetivo e ninguém pode resistir. Mas que muitas vezes é efetivo não por um império dEla mas pelo amor que Ela comunica às muitas almas.
Aí os Srs. tem a razão pela qual tantas pessoas se dedicam, tantas pessoas se imolam, tantas pessoas lutam etc., etc. É por causa do Sapiencial e Imaculado Coração de Maria.
Então, nessas condições eu tenho a certeza de que a festa de Nossa Senhora Rainha é a festa do Coração dEla. O que, aliás, está escrito em Fátima: Nossa Senhora disse “por fim o Meu Imaculado Coração triunfará”. Triunfará quer dizer reinar. O Coração de Nossa Senhora é um Coração régio. Se eu pudesse representar o Imaculado Coração de Maria, eu gostaria de representá-lo encimado por uma coroa, para indicar bem o caráter régio do Coração Sapiencial e Imaculado de Maria.
A festa, portanto, tem toda a propriedade – ainda que seja a festa de Nossa Senhora Rainha – tem toda a propriedade para nós cultuarmos e venerarmos o Imaculado Coração de Maria.    
De que maneira? Fazendo nosso esse pedido: tornai meu coração semelhante ao Vosso. Semelhante não quer dizer vagamente parecido, não. Quer dizer parecido em tudo quanto está nos desígnios da Providência que pareça. “Tornai-me sapiencial, de uma sapiencialidade que seja uma participação da vossa; tornai-me puro de uma pureza que seja uma participação da vossa”. E, sapiencial e puro: é preciso ser contra-revolucionário.
Por que? Porque a Revolução é o auge da insensatez e da falta de pureza. É o contrário, de modo escandaloso, mas diretamente o contrário da sabedoria e da pureza, sobretudo da pureza imaculada de Nossa Senhora. Então, o Sapiencial e Imaculado Coração de Maria é Nossa Senhora da Contra-Revolução. É por onde a Revolução mais odeia Nossa Senhora, é por onde nós, filhos da Contra-Revolução, mais nos afirmamos filhos dEla.
Os Srs. compreendem quantas razões há para nós aproveitarmos os últimos minutos desta festa para pedirmos graças para nós. Sobretudo essa transformação por onde nosso coração seja confiscado por Nossa Senhora, seja tomado por Nossa Senhora. Isso nós podemos dizer: “Minha Mãe, eu não sou bastante forte para me dar a Vós: dominai-me. Entrai na minha alma com graças tais que eu praticamente não resistirei. Esta porta, minha Mãe, que eu por miséria não abro, arrombai-a. Eu vos espero atrás dela com meu sorriso, meu reconhecimento e minha gratidão”.
Aqui está uma boa oração para a festa de hoje.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

São Pio X


Por Alexandre de Hollanda Cavalcanti



 



Leão XII, um dos Papas que governou por mais tempo a Barca de Cristo, retornava à casa do Pai. Anunciado o Conclave. Todos os Cardeias dirigiram-se a Roma a fim de eleger o novo Papa. 



A tão esperada fumaça branca apareceu na chaminé da Capela Sistina, sob os aplausos entusiasmados do povo Cristo. O Patriarca de Veneza, Cardeal Giuseppe Sarto era eleito o 259° Sucessor do Apóstolo Pedro.


Italiano de origem humilde, Giuseppe desde pequeno demonstrou um grande fervor na oração.


Uma vez, durante a aula de catecismo, o professor levantou uma questão: Darei uma maçã para quem me disser onde Deus está.


Silêncio na sala. O pequeno Giuseppe levanta sua mãozinha e diz: “Professor. Eu darei duas se o Sr. disser onde Ele não está!”


Mesmo com dificuldades na família, o menino fez seus estudos em sua cidade natal e depois estudou em Castelfranco, onde entrou para o Seminário, sendo ordenado sacerdote aos 23 anos de idade. Aos 46 anos foi sagrado Bispo de Mântua e depois Patriarca de Veneza.


Naquela época o Imperador do Sacro Império tinha o direito de veto no Conclave e, sendo eleito o Cardeal Rampolla, este foi vetado. Nas votações seguintes, apesar de pedir humildemente que não votassem nele, o Cardeal Giuseppe Sarto foi eleito, escolhendo o nome de Pio X.


O Cardeal Sarto, de cabeça baixa, ouviu o resultado da votação. Segundo o costume, aproximou-se dele o Cardeal Decano e perguntou-lhe se aceitaria ou não a eleição à Sede Pontifícia. Com os olhos banhados em lágrimas, e a exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo, respondeu: “Se não for possível afastar de mim esse cálice, que se faça a vontade de Deus. Aceito o Pontificado como uma cruz”. Após cinco dias, teve lugar a grandiosa cerimônia de posse do sucessor de São Pedro, para a glória da Santa Igreja.


 

 Assumindo o Trono Pontifício, a primeira ação de São Pio X foi abolir o absurdo direito de Veto do Imperador, penalizando com excomunhão maior, todo aquele que, no futuro, “ousasse formular um veto no Conclave ou contribuíssem para fazê-lo.



Dois meses depois de sua posse, publicou a sua primeira encíclica. Dominado por um espírito renovador, São Pio X destinou todos seus esforços para renovar a Santa Igreja, cumprindo plenamente o seu lema: “restaurar tudo em Cristo”, por isso, a primeira preocupação de São Pio X foi a formação e santificação do Clero, através da piedade, do estudo e da obediência.


Em seguida, era necessário levar a doutrina católica, de maneira acessível, para todo o povo. Para isso, ele promoveu a edição de um novo Catecismo e providenciou que fosse ensinado a todos, desde as crianças até os idosos.


São Pio X tinha a certeza de que, por mais que os homens trabalhem, só Cristo, com sua graça, é capaz de produzir sinceras conversões. Por isso, este santo foi um valoroso propulsor da devoção ao Santíssimo Sacramento, facultando comunhão freqüente e até mesmo diária e a Primeira Comunhão para as crianças, tão logo sejam capazes de distinguir a diferença entre o pão alimento e a Sagrada Eucaristia.


Havia na época um poderoso inimigo a quem o Santo fora chamado a combater: a heresia modernista que procurava infiltrar no seio da Igreja o relativismo religioso, visando adulterar o Magistério tradicional e infalível da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, a fim de adaptá-lo aos “novos tempos”.


Mestre infalível da verdade, na memorável Encíclica “Pascendi Dominici Gregis” , São Pio X denunciou e reprimiu com o necessário essa heresia que era, na verdade, a  triste síntese de muitos os erros.


Amante de todos seus filhos espirituais, São Pio X tudo fazia para conseguir a conversão dos pecadores, mas uma vez esgotados todos os recursos pastorais, era sua obrigação combater, com íntegra severidade os lôbos, muitas vezes vestidos de ovelhas, que procuravam destruir o rebanho de Cristo.


O equilíbrio santo de sua alma destacava nele dois títulos dados a Jesus, Nosso Senhor: Cordeiro de Deus e Leão de Judá. São Pio X era ao mesmo tempo um exemplo de extremada bondade e um santo de indomável energia.


Uma vez ele foi procurado por dois embaixadores a quem recebeu com inestimável bondade. Porém, a proposta que eles traziam era gravemente ofensiva à Santa Igreja. São Pio X rejeitou a proposta com tal energia que, dando um murro na mesa, quebrou a pedra de seu “anel de pescador”.


São Pio X mantinha um absoluto senhorio de si e dominava os impulsos de seu ardente temperamento. Estava sempre disposto a considerar e aceitar a opinião de outros se isso não implicasse em risco para algum princípio da Igreja; mas, sem nenhuma debilidade, não hesitava em agir intrepidamente em defesa da Fé.


São Pio X reuniu todo o Direito Canônico num só texto e procedeu à revisão da tradução latina das Sagradas Escrituras. Criou o Instituto Bíblico, reformou o Breviário e orientou a música sacra para formas de expressão mais puras.


Não vencido pelo trabalho, mas esmagado de dor por causa da cruel guerra européia de 1914, começou a sentir-se mal a 15 de agosto, desse mesmo ano, vindo a falecer santamente no dia 20 de agosto.


A devoção ao Papa santo começou a correr logo após seu falecimento. Não se tardou em falar de milagres devidos à sua intervenção. Em 1923, os Cardeais residentes em Roma se reuniram em comissão a fim de promoverem sua Beatificação.


Houve até a cura de um bispo brasileiro, alcançada pela intervenção, ainda em vida, do Papa São Pio X.


Foi canonizado pelo Papa Pio XII em 1954 e é conhecido em toda a Igreja como“O Papa da Eucaristia”, o Papa da bondade e da doçura.


Peçamos ao ínclito Papa São Pio X o discernimento, a argúcia, a energia e a combatividade que ele teve ao enfrentar destemidamente as raízes dos erros de nossa época.