quinta-feira, 28 de junho de 2012

Do alcoolismo à santidade

         No ano de 1925 em Dublin um jornal publicou a seguinte notícia: "Um homem idoso perdeu os sentidos na Gramby Lane. No hospital descobriram que estava morto; não trazia consigo nenhum documento."

          Tratava-se de Matt Talbot, que de alcoólico inveterado, se tornou um verdadeiro santo.
          Era o segundo de 12 irmãos, e nasceu numa família pobre de Dublin (Irlanda) em 1856.
          Terminada a instrução primária, Matt Talbot empregou-se na casa de um negociante de vinhos, como moço de recados, aos doze anos de idade
           Aí aprendeu a beber, infelizmente. E passados dois anos, era um miserável alcoólico.
           Os pais pensavam que mudando de emprego, o rapaz deixasse a bebida, e puseram-no a trabalhar como ajudante de pedreiro. Continuou  porém, preso ao álcool. No fim  de cada semana  gastava quase todo o ordenado nas tabernas.  
      Quando não bebia, Matt era amável, serviçal, simpático e acolhedor. Mas quando ficava embriagado, fazia-se valentão e metia-se em brigas.
           Durante 14 anos, Matt não passou de um pobre bêbado e jogador viciado.
           O jogo hipnotizava-o e a bebida atraía-o irresistivelmente.
           Aos sábados, dia de pagamento, ele ia esperar diante do portão da fábrica os companheiros que deixavam o trabalho com o ordenado da semana, esperando que o convidassem para beber um copo. Quase ninguém parava para falar com ele. Não era bem visto, obviamente.
          Numa tarde caiu em terrível abatimento físico e moral, como não lhe havia acontecido até então. Sentia asco, nojo de si mesmo e do seu vício degradante. Como se sucedessem esses estados com tanta freqüência, um dia disse à mãe, para surpresa dela:
           -- Hoje fiz um voto a Deus!
           -- Que voto meu filho?
           -- O voto de não beber durante três meses!
           No dia seguinte foi trabalhar normalmente na fábrica. Passou bem a semana inteira. No sábado imediato, os companheiros convidaram-no para ir beber um copo, o que raramente acontecia. 
         Por  delicadeza, aceitou o  convite. Mas os companheiros, arregalando os  olhos e sacudindo a cabeça, ficaram admirados quando o  viram beber apenas água mineral!
       Entretanto, a luta para cumprir o voto durante aqueles três meses foram para ele um terrível tormento. E dizia à sua mãe como forma de desabafo:
         -- Já não aguento mais, minha mãe! Tenho de voltar a beber!

        Mas resistia, e as lágrimas corriam-lhe pela face. Mais tarde confessou: "Foi então que me pareceu ouvir uma voz interior que dizia: -- A sobriedade é uma tolice. Você é totalmente incapaz de viver sem bebida. Nenhum homem viciado consegue viver sem álcool!
      Matt  reconheceu então que  era um  aviso do Céu a explicar-lhe  que por  suas próprias forças seria incapaz de abandonar para sempre o vício da bebida. Era preciso pedir essa graça a Deus Nosso Senhor.
        De seguida humilhou-se e suplicou a Deus que lhe concedesse forças para dominar e largar esse vício da embriaguez.
    A partir de então, dirigia-se toda manhã à Igreja dos Franciscanos para assistir Missa e receber humilde e devotamente a Sagrada Comunhão. 
           Passados os três meses, Matt renovou o voto por um ano. Aos poucos foi-se livrando da bebida até se tornar um homem livre dessa prisão alcoólica, embora de quando em quando tivesse que lutar contra a tentação de beber. Foi ele mesmo quem o disse:
         "Quando em certa manhã ia para a Igreja dos Franciscanos, assaltou-me um terrível desejo de tomar álcool. Não sabia como havia de resistir. Durante duas horas andei sem rumo pela cidade e parei diante de uma igreja. Entrei, coloquei-me de joelhos diante do altar, e de todo o coração supliquei a Deus:
     -- Senhor, não me deixeis cair novamente no vício da embriaguez, que desejo vencer com o vosso amparo e ajuda!" Fiquei ali não sei quanto tempo.
       Ao longo dos meses e anos, pouco a pouco Matt tornou-se outro homem. Sentiu-se completamente livre da tentação da bebida.
         De vez em quando era visto entrar numa e outra taberna com um envelope na mão. Levava o dinheiro para pagar as bebidas que no passado bebeu fiado.
         Daí por diante, entregou-se a uma rotina de muita oração e impressionante penitência, durante seus últimos 40 anos de vida.
         Levantava-se às 5 da manhã para assistir à Missa antes do trabalho e dava à oração todos os momentos livres de que dispunha.
         Quando caiu desmaiado ao dirigir-se para a Missa, e levado para o hospital, encontraram-lhe o corpo cingido por áspero cilício de pontas de arame mordentes, sinal da intensidade da mortificação que praticava. 
 
   Introduzindo o processo de beatificação em 1947, foi declarado Venerável em 1975. A sua conversão foi tão sincera que dificilmente se encontrará nestas terras um exemplo de tanta oração e penitência como a deste carregador das docas de Dublin.
         Matt Talbot morreu a caminho da Missa na Igreja dos Franciscanos, depois de ter completado 69 anos de idade.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Carta de São Luís Gonzaga a sua mãe


A graça e a consolação do Espírito Santo estejam sempre convosco. A vossa carta encontrou-me ainda vivo na região dos mortos; mas agora espero ir em breve louvar a Deus eternamente na região dos vivos. Pensava mesmo que a esta hora já teria dado esse passo.
Se a caridade, segundo São Paulo, ensina a chorar com os que choram e a alegrar-se com os que estão alegres, muito grande deve ser a alegria de Vossa Senhoria, pela graça que Deus Vos concede na minha pessoa, chamando-me à verdadeira alegria e dando-me a segurança de O não poder perder jamais.
Confesso-vos, ilustríssima Senhora, que me perco e arrebato na contemplação da divina bondade, mar sem praia e sem fundo, que me chama a um descanso eterno por um trabalho tão breve e pequeno; que me convida e chama ao Céu para aí me dar aquele soberano bem que tão negligentemente procurei, e que me promete o fruto daquelas lágrimas que tão parcamente derramei.
Por conseguinte, ilustríssima Senhora, considerai bem e ponde todo o cuidado em não ofender esta bondade de Deus, como certamente aconteceria se viésseis a chorar como morto aquele que vai viver na contemplação de Deus e que maiores serviços vos fará com as suas orações do que em esta terra vos prestava.
A nossa separação será breve; lá no Céu nos tornaremos a ver; lá seremos felizes e viveremos para sempre juntos, porque estaremos unidos ao nosso Redentor, louvando-O com todas as forças da nossa alma e cantando eternamente as suas misericórdias. Se Deus toma novamente o que nos tinha dado, não o faz senão para o colocar em lugar mais seguro e ao abrigo de qualquer perigo, e para nos dar aqueles bens que acima de tudo desejamos.
Digo tudo isto para que Vós, Senhora minha Mãe, e toda a família, aceiteis a minha morte como um dom precioso da graça. A vossa bênção de mãe me assista e me ajude a alcançar com felicidade o porto dos meus desejos e esperanças. Escrevo-vos com tanto maior prazer quanto é certo que não me resta outra ocasião para vos testemunhar o respeito e o amor filial que vos devo.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Vida de São Luis Gonzaga

          


         Este grande santo foi modelo de pureza e castidade para nossos jovens. Sua vida e sua história, que você pode conhecer neste vídeo é um verdadeiro exemplo neste mundo que busca apenas o gozo e o prazer, desvirtuando muitas vezes o verdadeiro sentido da vida.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Jovem chinesa é obrigada a abortar



Ela não tinha 5.000 euros para comprar o «direito» ao segundo filho
LVL
15 de junho de 2012




A jovem chinesa Feng Juanmei, de 27 anos, foi forçada pelas autoridades comunistas de seu país a abortar em seu sétimo mês de gravidez. As fotos da pobre mãe com seu bebê assassinado está chocando o mundo inteiro.
A mãe, Feng Jianmei, declarou aos meios de comunicação locais que foi injetado um produto químoco letal para matar seu filho, contra a sua vontade e a inocente vítima saiu à luz já morta 36 horas depois.
Ela já tinha um filho e as autoridades de controle de natalidade locais ordenaram-lhe que devia pagar uma multa de 5.000 euros. Como ela não tinha esse dinheiro (quase 15.000 Reais) foi presa pela polícia de Shannxi, agredida e levada a um hospital para ser submetida a um aborto forçado.
Feng recorda com horror que argumentou diante do departamento de «planificação familiar» expondo que não podia pagar a multa porque sua sogra necessitava de dinheiro para um tratamento contra o câncer.
Feng Jianmei disse que pelo menos 20 empregados do departamento chegaram à sua casa e a levaram presa. A caminho do hospital ela tentou resistir e foi brutalmente espancada, mesmo gestando uma criança de 7 meses.
No hospital ela foi amarrada e então injetaram uma substância letal no feto, não sendo permitida a presença de nenhum membro da família durante o traumático momento. 
A mesma lei chinesa que determina este assassinato proíbe o aborto após o sétimo mês de gestação, o que caracteriza o crime contra a humanidade como também um crime contra as leis da própria China.
Feng disse que seu sogro, quando soube que ela havia sido presa e levada ao hospital, correu em sua ajuda, porém foi impedido de entrar na sala de obstetrícia.


    O mundo inteiro está chocado com as tristes imagens desta infeliz mãe com seu filho morto ao seu lado, enquanto a cada dia milhares de mulheres na China são castigadas pela infame «lei do filho único».Medios locales informaron que lo más probable es que a Feng le fuera inyectada una sustancia denominada Lifannuo –un bactericida de gran efectividad-, usada a finales de los años 80 y principios de los 90, cuando las autoridades impusieron el límite de un solo hijo.

A mais famosa ovelha perdida do “ottocento” italiano


Racionalista e frívola, Alessandra di Rudini converteu-se em Lourdes


        “O abismo abre-se diante de mim, o humano despenca-se, já se despencou. O horror deste vazio atroz não se pode explicar com palavras humanas. Por quê vivemos? É afortunado quem pode responder com segurança a esta eterna pergunta”. Estas palavras, escritas por Alessandra di Rudini expressam a luta desta  mulher entre a atração dos prazeres mundanos e o chamado de Deus, de Quem ela procurava fugir com todas as suas forças.
               Alessandra di Rudini é uma das figuras mais fascinantes da alta sociedade italiana do século XIX, famosa “ovelha perdida” daquela época racionalista que deixava a Deus de lado, mas que no fundo, não queria abandoná-lO definitivamente, e somente viver como se não existisse. Até o dia em que de fato fizesse falta, para então voltar-se a  Ele em situações desesperadas.      
             Alessandra nasce a 5 de Outubro de 1876 em Roma, no seio de uma família da alta aristocracia siciliana. É filha de Antonio Starabba, marquês de Rudini, que foi Administrador de Palermo aos 25 anos, depois do golpe de Garibaldi sobre a Sicília dos Bourbons. Mais tarde, foi Prefeito de Palermo e de Nápoles, chegando a ser também Primeiro Ministro do novo  Estado italiano de 1891 a 1892 e de 1896 a 1898. Fundou o Partido da Jovem Direita com o qual triunfou para ocupar o cargo em seu primeiro mandato. Entre seus logros políticos está o de ter assinado, em 1896, o Tratado de Adís Abeba, que pôs fim às pretensões italianas sobre a Etiópia.
           O marquês tinha idéias racionalistas e politicamente revolucionárias, e compartilhava a hostilidade do rei Víctor Manuel II em relação à Igreja Católica. Sua esposa, Maria de Barral, a mãe de Alessandra, não participava das idéias revolucionárias do  marido, mas por causa de sua delicada saúde, pouco pôde influenciar na educação da filha.
             Alessandra tinha um irmão maior, Carlo, que seria esposo da filha do político britânico Henry Labouchere, e que também seria conhecido na alta sociedade daquele tempo. A família do marquês de Rudini levava em si as contradições próprias da época em que seus personagens viveram: o anticlericalismo próprio do “Risorgimento” italiano, fortemente influenciado por esse espírito revolucionário e a idiossincrasia(maneira própria de ver, sentir, reagir) daquele país que faz com que até os maiores inimigos da Igreja tenham amigos entre os eclesiásticos, inclusive na alta hierarquia, e mais cedo ou mais tarde lembram-se de Deus, por se acaso...
             Desde criança mostra um carácter inquieto, impetuoso e perspicaz. Em vez de brincar com casinhas e bonecas , prefere cavalgar no seu “pônei”(cavalinho) ou então correr pelos campos com os cães de caça à procura de presas.
           Por influência da mãe, que queria assegurar um bom colégio religioso para a filha, aos 10 anos ingressa no internato do Sagrado Coração de Trinità dei Monti, no alto da “escalinata” da Piazza di Spagna, em Roma. Sem dúvida, uma das escolas de melhor reputação naqueles tempos. Sua mãe tinha a esperança de que as religiosas ajudassem-na a corrigir seu caráter independente, mas não sòmente não o conseguiram, como, por causa de seu mal comportamento, tiveram que expulsá-la no fim do curso escolar. Seu pai usou tal episódio como pretexto para inscrevê-la numa escola de espírito liberal, onde Alessandra encontrar-se-á mais a gosto, muito diferente à das religiosas. De fato, naquele colégio a diretora deixava-lhe em liberdade e assim a jovem desfrutou de sua inclinação favorita: a leitura. Por influência das idéias liberais do colégio, sem a proximidade de sua mãe, aos 13 anos já estava cheia de dúvidas sobre a fé, que a acompanharam durante muitos anos.         
      Aos 16 anos, quando terminou os estudos, volta à residência familiar. Alessandra dá-se conta da ausência de sua mãe, cuja enfermidade levou a se recolher num asilo. E a jovem assume as tarefas da organização da casa, e passa a acompanhar o pai, chefe do Conselho de Estado, em viagens e recepções de gala. Foram seus primeiros contatos com a alta sociedade romana, na qual logo terá êxito graças a seu bom caráter e a sua firme resolução.
     E no entanto, encontra-se dividida interiormente, pois à sua felicidade externa acompanhava-a o vazio de alma: “Era como se tudo se afundasse em minha volta, e procurava com paixão desesperada um ponto seguro de apoio fora de mim mesma. Lembro-me de algumas noites de ansiedade e de dor indizível. Não existe pior dor que a da alma que busca e não consegue alcançar a verdade”. A leitura da “Vida de Jesus”, de Ernest Renan – que recebeu o epíteto de “blasfêmo europeu” por parte de Pio IX – , obra que negava o sobrenatural, vendo em Jesus sòmente um homem extraordinário, foi fatal para a vacilante fé de Alessandra.
        Tendo só 18 anos, já estava tomada pela vida social, ombreando-se com a nata de sua época. Realizou um cruzeiro no yate pessoal do imperador da Alemanha, Guillermo II, e estabeleceu estreitas relações com a rainha Margarita da Italia.
            Aos 19 anos recusa o casamento com o Grão Duque Sérgio, parente do Czar da Russia, porque não é católico, mas ortodoxo. Naquele mesmo ano surpreende a todos casando-se com Marcello Carlotti da Garda, marquês de Riparbella, dez anos mais velho que ela. Os recém-casados instalam-se na extensa e luxuosa propriedade que os Carlotti possuiam à beira do Lago de Garda. Mas pouco durou esta felicidade familiar, que poderia ter trazido equilíbrio pessoal a Alessadra. Em breve, Marcello manifesta sintomas de tuberculose. A partir de 1900, sente-se perdido e esforça-se em enfrentar a morte como adepto das teorias materialistas. A enfermidade do marido serviu a Alessandra para se voltar tímidamente à fé, procurando um prelado de Verona, Monsenhor Serenelli, para que assistisse espiritualmente a seu marido. Quase nada se pôde fazer, já que o marquês Carlotti recusou todo auxílio religioso e morreu a 29 de abril de 1900, sem manifestar sinal de abertura às realidades eternas. Alessandra fica viúva aos 24 anos, com dois filhos.
              A vida de Alessandra fica marcada por duas tendências contraditórias: a de ser boa mãe e cuidar dos filhos, e a de voltar à vida social que tanto a atraía. A amizade com Mons. Serenelli por ocasião da enfermidade do marido, será agora uma constante em sua vida, se bem que o prelado não tenha conseguido frear algumas das excentricidades da viúva.
               Durante o inverno de 1900-1901, Alessandra deixa  seus filhos aos cuidados de um instituro de previdência social e parte para uma perigosa viagem de exploração  por Marrocos, na qual fica impressionada com a religiosidade dos guias muçulmanos. De volta à Itália, para satisfazer o desejo do pai, regressa à vida mundana, se bem que confessa a algumas pessoas seu desconcerto e sua busca espiritual. Alessandra vê-se sacudida pelas instáveis marés da dúvida. Mons. Serenelli dá-se conta disto,  e recomenda-lhe que seja mais humilde em sua busca da Verdade. Após as exortações desse prelado, em fevereiro de 1902, confessa-se e comunga, mas perseverará pouco tempo nessa disposição.
               Em 26 de Maio de 1903, no Teatro Scala de Milão, Alessandra é apresentada ao ímpio poeta e romancista Gabriel d’Annunzio (1863-1938), amigo de seu irmão Carlo. D’annunzio, famoso por seus costumes libertinos, tinha naquela época como amante a Eleonora Duse, a mais famosa atriz de teatro italiano. Logo enamora-se de Alessandra, a quem foi-lhe difícil conquistar, porque a fama de mulherengo do escritor não lhe agradava. A persistência de D’Annunzio vence a resistência da jovem viúva, que apesar dos protestos de familiares e amigos acaba convivendo escandalosamente com o escritor no seu belo palácio perto de Florença. Assim, deixou seus filhos práticamente abandonados.
                Não muito tempo depois, a sua vida de luxo e de diversões desenfreadas é sacudida por uma grave doença que a surpreende na primavera de 1905, levando-a às portas da morte. É transladada para uma clínica, onde sofre duas intervenções cirúrgicas.
                Ao sair da clínica seu aspecto físico está ressentido e ela nota que D’Annunzio já não é tão carinhoso como antes. Durante a convalescença, o escritor havia feito uma nova conquista, a Condessa de Mancini. Em fins de 1906, dá-lhe a entender que estava demais em sua mansão e Alessandra tem que voltar a sua residência do Lago de Garda, dolorida e humilhada.

O sofrimento ilumina sua alma, cegada pelas paixões

               Mas tal humilhação foi a ocasião para se abrir à graça de Deus. Profundamente  desgostada e decepcionada, Alessandra torna-se cada vez mais consciente de que as vaidades e as  felicidades mundanas são falsas e passageiras. No seu coração surge impetuosamente o problema da fé. Volta-se então para o estudo da Religião e entra em contacto com Mons. Serenelli, sacerdote culto e piedoso, em fins de 1907. O bom prelado não recusa em receber a filha pródiga, cuja confissão escuta com solicitude. Na primavera de 1908, Alessandra faz um retiro espiritual de Santo Inácio. Ela experimenta nessas circunstancias como Deus trata com misericórdia os corações aflitos e abandonados.
               Mas sua conversão definitiva estava ainda por chegar. Tendo voltado às suas obrigações maternas, pede a um sacerdote francês, o Padre Gorel, que se fizesse preceptor de seus filhos, e ao referido eclesiástico expõe seus tormentos interiores e suas dúvidas de fé. O bom sacerdote recomenda-lhe uma peregrinação a Lourdes, onde ficaria curada interiormente. Ele não sabia até que ponto suas palavras iam se tornar realidade.
             Em sua viagem, iniciada com muito ceticismo em agosto de 1910, providencialmente ela estava presente no momento de um prodígio: uma senhora francesa é milagrosamente curada  de sua enfermidade.  O Dr. Boissaire, médico encarregado de verificar tais curações, comprova seu caráter inexplicável para a ciência.
             Depois de longos anos de atormentada busca, reencontra a fé e tem a certeza de que Deus a chama para a doação total da sua vida. Para agradecer à Virgem Imaculada a preciosa graça recebida, manda esculpir uma estátua do cego curado por Jesus, que ainda hoje se venera naquele santuário. Pretende assim expressar que também ela, cega pela paixão, foi ali curada da cegueira espiritual.
             Alessandra volta a Itália totalmente transformada, depois de ter feito um profundo ato de fé em Lourdes: “Pensei muito sobre o milagre que presenciei em Lourdes, e alegra-me reconhecer que não atuei levada por um movimento de emoção religiosa, mas por um ato voluntário e pensado, preparado ao longo de muitos anos de estudo e meditação”.

Radical mudança de vida

               A partir de então começa uma ascensão espiritual que se traduzia na volta a uma antiga idéia da juventude, antes de ser sacudida pelas paixões: a da vida religiosa, rumo à qual se dirige sob a guia de seu novo confessor.
             Percebe entretanto, que uma decisão desta natureza vai contra tudo quanto o mundo pensa. Está porém decidida a não voltar atrás, embora sabendo que terá de deixar os dois filhos.
            Depois desta experiência, a marquesa Alessandra muda radicalmente o seu comportamento. Entrega-se a uma vida de penitência e oração com tal intensidade que espanta os seus familiares e conhecidos. Ela sente no seu  interior que o Senhor Deus a chama para a vida austera das Carmelitas Descalças..
              Aconselhada pelo Padre Gorel em julho de 1911, a marquesa empreende o caminho do Mosteiro das Carmelitas em Paray-le-Monial, localidade célebre pelas aparições do Sagrado Coração de Jesus. Uma luz interior lhe faz ver que está ali o lugar que a Providência preparou para ela. Convence-se que o Coração de Jesus a encaminha para uma vida de amor e reparação, tal como Ele a pediu para Santa Margarida Maria Alacocque.
             Ademais, escolheu a França porque na Itália era muito conhecida.
              Antes de partir para o convento, Alessandra procura com solicitude que tudo para seus filhos fique em ordem e bem encaminhado.
             Por medida de prudência não revela a sua decisão a ninguém. Ao filho Antonio que a interroga acerca desta nova viagem, responde apenas: --Filho, conforma-te em saber de momento, que a tua mãe não fará nada contra a honra e as tradições da nossa família.
             Pouco dias depois os filhos Antonio e André escolhem a carreira militar.

Pedido público de perdão

               Alessandra sente também a necessidade de pedir perdão pelo escândalo dado por ela na povoação do falecido marido, Marcelo Carlotti.
             Numa Missa de domingo na Igreja Paroquial repleta de fiéis, depois da proclamação do Evangelho, inspirada pela loucura dos santos, levanta-se do seu lugar e como pobre pecadora pede perdão a todos pelos maus exemplos da sua vida passada.
             Esta atitude heróica permanecerá viva na lembrança do povo de Garda, durante muitas décadas.
                Entrada no Carmelo
              A 28 de Outubro de 1911, depois das últimas recomendações aos filhos, a Marquesa Alessandra di Rudini, elegantemente vestida, cruza o portão do Carmelo de Paray-le-Monial, que se fecha atrás dela sôbre um mundo que deixa sem saudades.
             Ali recebe o nome de Irmã Maria de Jsus e abraça com heroica fidelidade a vida austera das carmelitas totalmente voltada para a oração, reparação e imolição de si.

Encontra finalmente a paz de alma que tanto ansiava.

     Para Alessandra di Rudini a vida religiosa foi-lhe muito penosa, especialmente dura no Carmelo que ela mesma havia escolhido, por querer fazer penitência dos pecados da vida passada.
          Durante o noviciado recebe a notícia de que o filho André se encontra gravemente doente com tuberculose. Com o consentimento da superiora vai visitar o filho. E para dissimular aos olhos dos familiares a sua nova vida religiosa, veste outra vez a roupa elegante, põe as jóias de quando era marquesa e vai a uma cabeleireira dar um arranjo ao cabelo de modo a não chamar demasiado a atenção.  Em Roma confia André à solicitude da fiel servidora Ana e interna-o num luxuoso sanatório da Suíça.
         Começa então a revelar gradualmente aos familiares a nova orientação da sua vida, o que provoca neles repulsa e incompreensão. Oito dias depois está de regresso ao convento.
      Um pouco mais tarde também o filho Antonio, tuberculoso, irá juntar-se a André no Sanatório.
       Em 1913 a Irmã Maria de Jesus faz a profissão religiosa com um ligeiro atraso à data prevista. Isso porque num gesto de admirável caridade pede autorização para interromper o retiro espiritual preparatório da profissão, para poder tratar de uma irmã doente com tuberculose.
       Enquanto a trata fere-se com uma seringa infectada, o que lhe acarreta graves danos à saúde.

As provações
             
       Às durezas da observância da regra, às quais pouco a pouco se acostuma, unir-se-á a morte por tuberculose de seus dois filhos, Andrea e Antonio, em 1916, o que a leva a uma profunda crise de conciência por reconhecer que havia sido uma péssima mãe ao ter abandonado seus filhos. 
            Amadurecida pelo sofrimento e pela ação da graça em tão pouco tempo, Maria de Jesus ganha a estima e a confiança de tôdas as irmãs. Primeiro é eleita Mestra das Noviças e depois Superiora, a 1 de Junho de 1917. Soprepõe-se a tudo com sua grande força de vontade e desejo de santificar-se.
            Entretanto, com a infecção contraída, a saúde piora. E estende-se por todo o corpo incluindo os dentes.

Na agonia, inteiro desprendimento

        Apesar disso não duvida em gastar os bens herdados dos pais e do marido em obras da Religião. Conclui a construção do Mosteiro de Paray-le-Monial e funda três outros mosteiros em França: Valenciennes (1924), Montmartre (1928) ao lado da Basílica do Sagrado Coração de Jesus e por último, a rehabilitação da antiga Cartuxa de Le Reposoir, num solitário cume da Alta  Saboya, lugar ideal para a vida eremítica e contemplativa. Aí consegue que o Estado reabra um colégio fechado em 1919.
          A sua alma totalmente imersa no amor eterno só conhece duas formas de descanso: o descanso em Deus na mais intensa actividade e o descanso de se dar inteiramente ao próximo.
       Em Março de 1930 sua saúde piora repentinamente como consequência da infecção que invade todo o organismo, padecendo sobretudo do fígado e dos rins. É submetida a três cirurgias, sem resultado.
             Com admirável serenidade vai ao encontro da morte. A 2 de Janeiro de 1931 abandona-se nos braços do Pai com ilimitada confiança, humildade e intimidade, dizendo: “Pai, em vossas mãos entrego o meu espírito”. Alguns dias antes havia declarado, resumindo uma vida turbulenta e, desde muitos pontos de vista, fascinante: “Diante da proximidade da morte, senti algo que nunca havia experimentado:a atração de Deus, a sede de Deus; e comprendi até que ponto era fácil e bom ir até Ele”.
   
 *       *       *
               Morre assim uma das mulheres que mais se destacou pela sua cultura, riqueza e atractivo pessoal na soiedade italiana dos princípios deste século. Nela o Senhor Deus se dignou fazer resplandecer os infinitos tesouros do seu Amor Misericordioso.
               Madre Maria de Jesus, antes Marquesa de Rudini e Marquesa de Riparbella, recorda-nos de forma viva que quanto maior é o abismo da nossa miséria, tanto mais Deus vem ao nosso encontro se, com humildade e confiança nos abandonarmos a Ele, que tudo pode, tudo vence e nunca desilude a nossa fé.

Obs.: “ottocento”italiano = os anos do século XIX, na Itália
http://www.historiadelaiglesia.org/2011/12/la-mas-famosa-oveja-perdida-del.html

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Milagres de Santo Antônio



Filho de Martinho de Bulhões e Teresa Taveira, defamílias ilustres, recebeu o nome de Fernando no Batismo. Aos 15 anos, entrou no convento da Ordem dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho, nas proximidades de Lisboa. Aí ficou dois anos e pediu para ser transferido para o mosteiro de Santa Cruz em Coimbra, porque eram tantas as visitas de parentes e amigos, que perturbavam sua paz. Em Coimbra fez filosofia e teologia e foi ordenado Padre.
Nesse mosteiro de Coimbra, se hospedaram os frades Franciscanos do convento de Santo Antônio dos Olivais, quando viajavam para converter os muçulmanos em Marrocos, na África. Pouco tempo depois, os restos mortais desses frades, martirizados em Marrocos, voltaram a Portugal, para o sepultamento desses heróis em Coimbra, onde morava o Rei de Portugal. Nessa ocasião, Santo Antônio sentiu grande desejo de evangelizar Marrocos e imitar os mártires. Por isso, no verão de 1220, entrou para a Ordem dos Franciscanos, mudou seu nome para Antônio.
Pouco antes de sua morte, São Francisco de Assis apareceu em um testemunho silencioso à obra do seu glorioso filho, Antônio de Pádua. Durante os últimos dias do mês de Setembro os frades se reuniram em Arles. Antônio pregou, tendo como texto, "Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus". No meio do sermão de Antônio, um dos frades notou a presença de São Francisco na sala. O Santo Seráfico, suspenso no ar, estava com as mãos levantadas em bênção sobre os frades. Naquele momento todos os presentes foram preenchidos com uma paz tão grande, que elas se perguntaram o que tinha acontecido. Quando o frade contou a visão que ele tinha visto, eles sabiam que São Francisco tinha vindo especialmente para abençoar a obra de Antônio. Ele seria verdadeiramente a Arca do Testamento e o Martelo dos Hereges.
Santo Antônio foi pregar na cidade de Rímini, onde dominavam os hereges que resolveram não ouvi‑lo em hipótese alguma. Frei Antônio subiu ao púlpito e quase todos se retiraram e fugiram. Não esmoreceu e pregou aos que tinham ficado. Inflamado pela inspiração Divina, falou com tal energia que os hereges presentes, reconheceram seus erros e resolveram mudar de vida. Mas o Santo não estava contente com o resultado parcial Retirou‑se para orar em solidão, pedindo ao Altíssimo que toda a cidade se convertesse.
Saindo do retiro, foi direto às praias do Mar Adriático e, em altos brados clamou aos peixes que o ouvissem e celebrassem com louvores ao seu supremo Criador, já que os homens ingratos não queriam fazê‑lo. Diante daquela voz imperiosa, apareceram logo os incontáveis habitantes das águas, e se distribuíram ordenadamente, cada qual com os de sua espécie e tamanho. Os peixes ergueram suas cabeças da água e ficaram longo tempo imóveis, a ouvi‑lo.
Alguns hereges resolveram matar Santo Antônio, envenenando‑o. Convidaram‑no para comer com eles, dando como pretexto debater sobre alguns pontos da Fé. Santo Antônio sempre aceitava comparecer a esses debates e polêmicas. Os hereges puseram diante dele, entre outros pratos, um que continha veneno mortal. Antes que o tocasse, Deus revelou‑lhe a cilada e o Santo, conservando toda a calma, repreendeu os hereges pela traição.
Vendo revelado o intento perverso, os hereges não se abalaram e responderam cinicamente: "É verdade que esse prato tem veneno, mas nós o colocamos aí porque desejamos fazer uma experiência: no Evangelho está escrito que Jesus Cristo disse aos seus discípulos que ainda que tomassem veneno mortal nenhum mal sofreriam e estamos querendo saber se és de fato discípulo de Cristo".
Santo Antônio fez o sinal da Cruz sobre aquele prato e o comeu com apetite, saboreando a comida envenenada como se fosse alimento saudável, e nada sofreu, deixando mais uma vez os hereges confusos e assombrados.
Durante uma pregação, cujo tema era a Eucaristia, levantou‑se um homem dizendo: AEu acreditarei que Cristo está realmente presente na Hóstia Consagrada quando vir o meu jumento ajoelhar‑se diante da custódia com o Santíssimo Sacramento@. O Santo aceitou o desafio. Deixaram o pobre jumento três dias sem comer. No momento e lugar pré‑estabelecido, apresentou‑se Antônio com a custódia e o herege com o seu jumento que já não agüentava manter‑se em pé devido ao forçado jejum. Mesmo meio‑morto de fome, deixou de lado a apetitosa pastagem que lhe era oferecida pelo seu dono, para se ajoelhar diante do Santíssimo Sacramento.
No domingo de Páscoa enquanto pregava na Catedral, Santo Antônio lembrou‑se de que fora designado para entoar a Alleluia na Missa que se celebrava naquele momento na Igreja do Convento franciscano. Não querendo faltar com a obediência e não podendo descer do púlpito, parou um pouco, calou‑se como se estivesse retomando a respiração e, nesse momento, foi milagrosamente visto no Coro de seu convento, entoando a Alleluia. Esse prodigioso milagre de bilocação foi assistido e certificado por muitas testemunhas, espalhando‑se a notícia em todos os locais.
Imediatamente depois da tomada de seus deveres novos na ordem em Limoges, um fato chamou a atenção de Antônio, um dos principiantes pensava em deixar a comunidade. Deus revelou a tentação do principiante de modo que Antônio pudesse o ajudar na hora de sua necessidade. O novo franciscano foi chamado à presença de seu superior. Antônio abraçou‑o com toda a afeição de um pai. Então ele revelou o que lhe estava incomodando. Quando terminou, Antônio assoprou no principiante e disse, " Receba o Espírito Santo! " De repente a tentação incômoda de retornar ao mundo tinha desaparecido completamente. O principiante tomou seus votos e perseverou na vocação religiosa que com a ajuda de Santo Antônio.
Santo Antônio pregava em Briba, quando uma senhora, apressada para assistir seu sermão, deixou sobre o fogo um caldeirão com água, sem se lembrar de que seu filho pequeno ficara só em casa. Ao chegar da pregação, viu com horror que o menino havia caído dentro do caldeirão e que a água estava fervendo. Bem se pode imaginar os gritos de desespero que deu a pobre mãe! Não ousava aproximar‑se, certa de que encontraria a inocente vítima horrivelmente queimada e morta. Mas, cheia de fé em Santo Antônio, invocou‑o e quando aproximou‑se seu filho estava são e salvo, brincando e pulando na água fervente, sem que esta lhe queimasse.
Certa vez Santo Antônio pregava em uma plataforma improvisada na praça da cidade. Mas antes que começou seu sermão, Antônio pausou por um momento para advertir sua audiência, " Enquanto eu lhe estou falando, o diabo fará com que esta plataforma desmorone. Mas ninguém se machucará." O sermão mal tinha começado quando a predição de Antônio foi cumprida. Com um grande ruído a plataforma desmoronou. Ninguém desanimou por sua queda. Antônio escovou a sujeira de seu hábito, e foi fazer o seu sermão. Satanás teria que fazer muito mais do que isto para impedir que um Franciscano zeloso como Santo Antônio de Pádua pregasse a palavra de Deus.
Santo Antônio passava muito tempo no confessionário. Eram problemas estranhos e dolorosos de todos os tipos. Um penitente encontrou e quando se ajoelhou nos pés do padre Franciscano, era incapaz de confessar seus pecados. A amargura que encheu seu coração era tão grande que simplesmente não conseguia falar. Antônio leu seu coração e soube que o arrependimento era sincero. Sendo assim disse ao homem, " Vá para casa, escreva seus pecados em um pedaço de papel, a seguir traga o papel de volta para mim." Assim fez o homem. Santo Antônio mandou‑o ler a lista, obedientemente o penitente começou com o primeiro. Admirado viu que, cada pecado dito, desaparecia do papel. Quando o último pecado tinha sido confessado, o papel estava perfeitamente em branco.
Em Arezzo vivia um homem nobre, mas tão colérico que quando se irritava parecia perder o juízo. A esposa, senhora de muito siso e prudência, teve um dia a infelicidade de proferir umas palavras que irritaram o marido a tal ponto que ele se atirou sobre ela espancando‑a cruelmente, chegando a lhe arrancar os cabelos. Com os gritos da infeliz, os vizinhos correram para acudi‑la, encontrando‑a quase morta na cama. O marido, depois de serenar, envergonhou‑se do que tinha feito e lembrando‑se da fama de Santo Antônio, foi procurá‑lo arrependido, pedindo que o ajudasse.
O piedoso Santo foi logo procurar a senhora, abençoando‑a e, fazendo o sinal da Cruz sobre ela, começou a rezar. Pouco a pouco ela foi recuperando o antigo vigor e, milagrosamente, quando se ajoelhou aos pés do Santo, renasceu todo o cabelo.
Os últimos dias de Santo Antônio foram passados com seu amigo, o conde Tiso, em Campo Sam Piero. Lá, na propriedade arborizada do nobre, Antônio viu uma árvore de noz gigante e lá iria descansar. Seus irmãos de fé, Roger e Luke Belldi, construíram uma pilha com os galhos da árvore como um abrigo para o Santo. As pessoas vinham ouvir Santo Antônio e para isso tinham que passar pela propriedade de um fazendeiro vizinho que tinha plantado um campo de grãos. A compressão de muitos pés de trigo arruinava a plantação quase madura. O fazendeiro queixou‑se ao Santo que o consolou, e falou-lhe para voltar no dia seguinte para colher seus grãos. O fazendeiro fez como foi dito. Quando retornou no dia seguinte, viu com perplexidade cada bocado da grão completamente ereto e inteiramente maduro para a colheita.
Uma mulher de Pádua foi procurar gravetos um dia para que ela pudesse fazer um fogo em sua casa. No caminho de volta, a mulher passou por uma lagoa na beira da estrada. Ela olhou para o lago deu um grito de horror. No fundo da lagoa estava o corpo de sua filha. De alguma forma, a menina tinha caído na água e se afogou. A mãe entrou na lagoa e arrastou o corpo até à estrada. Mas era tarde demais. Na angústia da mãe lembrou‑se de Santo Antônio e os milagres que tinha feito de seu túmulo. Cheia de confiança no poder do Santo, ela prometeu deixar uma lembrança para a Basílica do Santo se a vida de sua filha fosse restaurada. Logo que a mãe tinha acabado a sua oração e fez seu voto, a filha começou a dar sinais de vida. Com os devidos cuidados a jovem se recuperou completamente em um tempo muito curto.
Um senhor nobre de Ferrara era tão ciumento com sua esposa que recusou reconhecer sua primeira criança como sua. O marido insensato não tinha nenhuma razão para duvidar da fidelidade de sua esposa mas ele não queria saber de seu filho. Em seu desespero a esposa foi pedir ajuda a Santo Antônio. O Santo falou ao nobre por horas e finalmente conseguiu fazer com que ele visse a irracionalidade de seu ciúme. Só aí então a enfermeira trouxe a criança. Por um instante, sua velha irracionalidade retornou, então Antônio virou para a criança e disse, "Em nome de Jesus Cristo, fale e diga quem é seu pai!" A criança apontou para a nobre e, com voz de uma criança mais velha disse: este é, meu pai!" Com isso o pai pegou e tomou a criança em seus braços. Santo Antônio tinha ajudado a conservar uma família e um casamento.
Ocupado na província de Veneza, foi nessa época que um cavalheiro florentino morreu e seus parentes planejavam um elaborado funeral para o defunto. Antônio estava no bairro e foi convidado a pregar o sermão fúnebre. Mal sabiam os enlutados qual seria o sermão que Antônio realmente faria. Como texto Antônio escolheu: "Onde está o teu tesouro aí está o teu coração também.@ No meio do sermão, ele fez uma pausa brusca. Depois, em tom solene, ele continuou: "Este homem está morto, e sua alma está enterrada no inferno! Vamos! Abra seus cofres, e vocês vão encontrar o seu coração!" Os parentes surpresos fizeram como o Santo Antônio ordenou‑lhes. O baú foi aberto. Lá, no meio de todas as peças de ouro, havia o coração do homem que, embora rico em tesouros terrestres, morreu pobre nas coisas do Céu.
Certa vez, Santo Antônio precisou de alojamento em Pádua e um senhor nobre, da família dos Condes de Campo Sam Piero, teve a honra de o acolher em sua casa. Uma noite, vendo do lado de fora do quarto de Frei Antônio alguns raios de luz, aproximou‑se e viu o Santo segurando nos braços um gracioso Menino. Ficou cheio de espanto por tão extraordinária maravilha.Compreendeu que se tratava do Menino Jesus que se tornara vísivel ao Santo para recompensá‑lo com celestes consolações pelas fadigas sofridas. Enquanto ainda observava, o Menino desapareceu. Saindo do êxtase, Frei Antônio deixou o quarto e dirigiu‑se ao dono da casa, dizendo que sabia que ele o havia observado durante a aparição. Pediu então com insistência que não revelasse o que tinha visto. O senhor cumpriu a palavra, somente revelando o fato depois da morte do Santo. A história o tocara profundamente e todas as vezes que a relatava, não conseguia reter as lágrimas.
Um rapaz foi assassinado perto da casa de Martinho de Bulhões, pai de Santo Antônio. Os assassinos levaram o corpo para o quintal de Martinho e ali o enterraram, sem que o proprietário do terreno soubesse. Mais tarde, foi descoberto pela Justiça o corpo na casa do infeliz fidalgo e este foi acusado pelo crime. Diante dos gravíssimos indícios de sua culpa, permaneceu quinze meses preso e, finalmente, estava sendo julgado e seria com certeza condenado à morte. Frei Antônio foi misteriosamente avisado do perigo que ameaçava seu pai. E foi imediatamente pedir ao Guardião do convento que o deixasse ausentar‑se de Pádua por pouco tempo. Assim que foi autorizado, viu‑se transportado num instante à Lisboa, indo direto ao tribunal e, depois de beijar a mão de seu pai em sinal de respeito, tomou a sua defesa. Os juízes ficaram impressionados com o aparecimento daquele inesperado advogado e com a segurança com que ele falava, mas não se convenceram da inocência do réu, tantas eram as provas que tinham de sua culpa.
Faltando testemunhas de defesa, Santo Antônio apelou para o depoimento da vítima. Os assistentes, surpresos com a estranha proposta, começaram a rir. Mas Frei Antônio insistiu e os juízes levados pela curiosidade, consentiram que ele chamasse o morto como testemunha da defesa. Chegados à sepultura do falecido, o Santo ordenou que a abrissem e chamou o frio cadáver em voz alta, ordenando‑lhe em nome de Deus que dissesse aos juízes a verdade sobre o seu assassinato. Imediatamente o morto levantou‑se como se estivesse vivo e respondeu com voz sonora que Martinho de Bulhões era inocente e não estava manchado pelo seu sangue. Em seguida, deitou‑se na sepultura.
Santo Antônio, depois de se despedir do pai, desapareceu. Ficaram os juízes e a assistência assombrados com o milagre que acabavam de presenciar. O nobre Martinho de Bulhões, graças ao seu santo filho, teve sua vida salva. Os verdadeiros culpados foram descobertos.
Em 1231, seu sermão alcançou o ápice de intensidade, porém, foi neste mesmo ano que o Santo foi acometido de uma doença inesperada, e ele veio a falecer em Arcella, no dia 13 de junho, aos 36 anos de idade.