quinta-feira, 28 de junho de 2012

Do alcoolismo à santidade

         No ano de 1925 em Dublin um jornal publicou a seguinte notícia: "Um homem idoso perdeu os sentidos na Gramby Lane. No hospital descobriram que estava morto; não trazia consigo nenhum documento."

          Tratava-se de Matt Talbot, que de alcoólico inveterado, se tornou um verdadeiro santo.
          Era o segundo de 12 irmãos, e nasceu numa família pobre de Dublin (Irlanda) em 1856.
          Terminada a instrução primária, Matt Talbot empregou-se na casa de um negociante de vinhos, como moço de recados, aos doze anos de idade
           Aí aprendeu a beber, infelizmente. E passados dois anos, era um miserável alcoólico.
           Os pais pensavam que mudando de emprego, o rapaz deixasse a bebida, e puseram-no a trabalhar como ajudante de pedreiro. Continuou  porém, preso ao álcool. No fim  de cada semana  gastava quase todo o ordenado nas tabernas.  
      Quando não bebia, Matt era amável, serviçal, simpático e acolhedor. Mas quando ficava embriagado, fazia-se valentão e metia-se em brigas.
           Durante 14 anos, Matt não passou de um pobre bêbado e jogador viciado.
           O jogo hipnotizava-o e a bebida atraía-o irresistivelmente.
           Aos sábados, dia de pagamento, ele ia esperar diante do portão da fábrica os companheiros que deixavam o trabalho com o ordenado da semana, esperando que o convidassem para beber um copo. Quase ninguém parava para falar com ele. Não era bem visto, obviamente.
          Numa tarde caiu em terrível abatimento físico e moral, como não lhe havia acontecido até então. Sentia asco, nojo de si mesmo e do seu vício degradante. Como se sucedessem esses estados com tanta freqüência, um dia disse à mãe, para surpresa dela:
           -- Hoje fiz um voto a Deus!
           -- Que voto meu filho?
           -- O voto de não beber durante três meses!
           No dia seguinte foi trabalhar normalmente na fábrica. Passou bem a semana inteira. No sábado imediato, os companheiros convidaram-no para ir beber um copo, o que raramente acontecia. 
         Por  delicadeza, aceitou o  convite. Mas os companheiros, arregalando os  olhos e sacudindo a cabeça, ficaram admirados quando o  viram beber apenas água mineral!
       Entretanto, a luta para cumprir o voto durante aqueles três meses foram para ele um terrível tormento. E dizia à sua mãe como forma de desabafo:
         -- Já não aguento mais, minha mãe! Tenho de voltar a beber!

        Mas resistia, e as lágrimas corriam-lhe pela face. Mais tarde confessou: "Foi então que me pareceu ouvir uma voz interior que dizia: -- A sobriedade é uma tolice. Você é totalmente incapaz de viver sem bebida. Nenhum homem viciado consegue viver sem álcool!
      Matt  reconheceu então que  era um  aviso do Céu a explicar-lhe  que por  suas próprias forças seria incapaz de abandonar para sempre o vício da bebida. Era preciso pedir essa graça a Deus Nosso Senhor.
        De seguida humilhou-se e suplicou a Deus que lhe concedesse forças para dominar e largar esse vício da embriaguez.
    A partir de então, dirigia-se toda manhã à Igreja dos Franciscanos para assistir Missa e receber humilde e devotamente a Sagrada Comunhão. 
           Passados os três meses, Matt renovou o voto por um ano. Aos poucos foi-se livrando da bebida até se tornar um homem livre dessa prisão alcoólica, embora de quando em quando tivesse que lutar contra a tentação de beber. Foi ele mesmo quem o disse:
         "Quando em certa manhã ia para a Igreja dos Franciscanos, assaltou-me um terrível desejo de tomar álcool. Não sabia como havia de resistir. Durante duas horas andei sem rumo pela cidade e parei diante de uma igreja. Entrei, coloquei-me de joelhos diante do altar, e de todo o coração supliquei a Deus:
     -- Senhor, não me deixeis cair novamente no vício da embriaguez, que desejo vencer com o vosso amparo e ajuda!" Fiquei ali não sei quanto tempo.
       Ao longo dos meses e anos, pouco a pouco Matt tornou-se outro homem. Sentiu-se completamente livre da tentação da bebida.
         De vez em quando era visto entrar numa e outra taberna com um envelope na mão. Levava o dinheiro para pagar as bebidas que no passado bebeu fiado.
         Daí por diante, entregou-se a uma rotina de muita oração e impressionante penitência, durante seus últimos 40 anos de vida.
         Levantava-se às 5 da manhã para assistir à Missa antes do trabalho e dava à oração todos os momentos livres de que dispunha.
         Quando caiu desmaiado ao dirigir-se para a Missa, e levado para o hospital, encontraram-lhe o corpo cingido por áspero cilício de pontas de arame mordentes, sinal da intensidade da mortificação que praticava. 
 
   Introduzindo o processo de beatificação em 1947, foi declarado Venerável em 1975. A sua conversão foi tão sincera que dificilmente se encontrará nestas terras um exemplo de tanta oração e penitência como a deste carregador das docas de Dublin.
         Matt Talbot morreu a caminho da Missa na Igreja dos Franciscanos, depois de ter completado 69 anos de idade.

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