Filho de Martinho de Bulhões e
Teresa Taveira, defamílias ilustres, recebeu o nome de Fernando no Batismo. Aos
15 anos, entrou no convento da Ordem dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho,
nas proximidades de Lisboa. Aí ficou dois anos e pediu para ser transferido
para o mosteiro de Santa Cruz em Coimbra, porque eram tantas as visitas de
parentes e amigos, que perturbavam sua paz. Em Coimbra fez filosofia e teologia
e foi ordenado Padre.
Nesse mosteiro de Coimbra, se
hospedaram os frades Franciscanos do convento de Santo Antônio dos Olivais,
quando viajavam para converter os muçulmanos em Marrocos, na África. Pouco
tempo depois, os restos mortais desses frades, martirizados em Marrocos,
voltaram a Portugal, para o sepultamento desses heróis em Coimbra, onde morava
o Rei de Portugal. Nessa ocasião, Santo Antônio sentiu grande desejo de
evangelizar Marrocos e imitar os mártires. Por isso, no verão de 1220, entrou
para a Ordem dos Franciscanos, mudou seu nome para Antônio.
Pouco antes de sua morte, São
Francisco de Assis apareceu em um testemunho silencioso à obra do seu glorioso
filho, Antônio de Pádua. Durante os últimos dias do mês de Setembro os frades
se reuniram em Arles. Antônio pregou, tendo como texto, "Jesus de Nazaré,
Rei dos Judeus". No meio do sermão de Antônio, um dos frades notou a
presença de São Francisco na sala. O Santo Seráfico, suspenso no ar, estava com
as mãos levantadas em bênção sobre os frades. Naquele momento todos os presentes
foram preenchidos com uma paz tão grande, que elas se perguntaram o que tinha
acontecido. Quando o frade contou a visão que ele tinha visto, eles sabiam que
São Francisco tinha vindo especialmente para abençoar a obra de Antônio. Ele
seria verdadeiramente a Arca do Testamento e o Martelo dos Hereges.
Santo Antônio foi pregar na
cidade de Rímini, onde dominavam os hereges que resolveram não ouvi‑lo em
hipótese alguma. Frei Antônio subiu ao púlpito e quase todos se retiraram e
fugiram. Não esmoreceu e pregou aos que tinham ficado. Inflamado pela
inspiração Divina, falou com tal energia que os hereges presentes, reconheceram
seus erros e resolveram mudar de vida. Mas o Santo não estava contente com o
resultado parcial Retirou‑se para orar em solidão, pedindo ao Altíssimo que
toda a cidade se convertesse.
Saindo do retiro, foi direto
às praias do Mar Adriático e, em altos brados clamou aos peixes que o ouvissem
e celebrassem com louvores ao seu supremo Criador, já que os homens ingratos
não queriam fazê‑lo. Diante daquela voz imperiosa, apareceram logo os
incontáveis habitantes das águas, e se distribuíram ordenadamente, cada qual
com os de sua espécie e tamanho. Os peixes ergueram suas cabeças da água e
ficaram longo tempo imóveis, a ouvi‑lo.
Alguns hereges resolveram
matar Santo Antônio, envenenando‑o. Convidaram‑no para comer com eles, dando
como pretexto debater sobre alguns pontos da Fé. Santo Antônio sempre aceitava
comparecer a esses debates e polêmicas. Os hereges puseram diante dele, entre
outros pratos, um que continha veneno mortal. Antes que o tocasse, Deus revelou‑lhe
a cilada e o Santo, conservando toda a calma, repreendeu os hereges pela
traição.
Vendo revelado o intento
perverso, os hereges não se abalaram e responderam cinicamente: "É verdade
que esse prato tem veneno, mas nós o colocamos aí porque desejamos fazer uma
experiência: no Evangelho está escrito que Jesus Cristo disse aos seus
discípulos que ainda que tomassem veneno mortal nenhum mal sofreriam e estamos
querendo saber se és de fato discípulo de Cristo".
Santo Antônio fez o sinal da
Cruz sobre aquele prato e o comeu com apetite, saboreando a comida envenenada
como se fosse alimento saudável, e nada sofreu, deixando mais uma vez os
hereges confusos e assombrados.
Durante uma pregação, cujo tema
era a Eucaristia, levantou‑se um homem dizendo: AEu acreditarei que Cristo está
realmente presente na Hóstia Consagrada quando vir o meu jumento ajoelhar‑se
diante da custódia com o Santíssimo Sacramento@. O Santo aceitou o desafio.
Deixaram o pobre jumento três dias sem comer. No momento e lugar pré‑estabelecido,
apresentou‑se Antônio com a custódia e o herege com o seu jumento que já não
agüentava manter‑se em pé devido ao forçado jejum. Mesmo meio‑morto de fome,
deixou de lado a apetitosa pastagem que lhe era oferecida pelo seu dono, para
se ajoelhar diante do Santíssimo Sacramento.
No domingo de Páscoa enquanto
pregava na Catedral, Santo Antônio lembrou‑se de que fora designado para entoar
a Alleluia na Missa que se celebrava naquele momento na Igreja do Convento
franciscano. Não querendo faltar com a obediência e não podendo descer do
púlpito, parou um pouco, calou‑se como se estivesse retomando a respiração e,
nesse momento, foi milagrosamente visto no Coro de seu convento, entoando a
Alleluia. Esse prodigioso milagre de bilocação foi assistido e certificado por
muitas testemunhas, espalhando‑se a notícia em todos os locais.
Imediatamente depois da tomada
de seus deveres novos na ordem em Limoges, um fato chamou a atenção de Antônio,
um dos principiantes pensava em deixar a comunidade. Deus revelou a tentação do
principiante de modo que Antônio pudesse o ajudar na hora de sua necessidade. O
novo franciscano foi chamado à presença de seu superior. Antônio abraçou‑o com
toda a afeição de um pai. Então ele revelou o que lhe estava incomodando.
Quando terminou, Antônio assoprou no principiante e disse, " Receba o
Espírito Santo! " De repente a tentação incômoda de retornar ao mundo
tinha desaparecido completamente. O principiante tomou seus votos e perseverou
na vocação religiosa que com a ajuda de Santo Antônio.
Santo Antônio pregava em
Briba, quando uma senhora, apressada para assistir seu sermão, deixou sobre o
fogo um caldeirão com água, sem se lembrar de que seu filho pequeno ficara só
em casa. Ao chegar da pregação, viu com horror que o menino havia caído dentro
do caldeirão e que a água estava fervendo. Bem se pode imaginar os gritos de
desespero que deu a pobre mãe! Não ousava aproximar‑se, certa de que
encontraria a inocente vítima horrivelmente queimada e morta. Mas, cheia de fé
em Santo Antônio, invocou‑o e quando aproximou‑se seu filho estava são e salvo,
brincando e pulando na água fervente, sem que esta lhe queimasse.
Certa vez Santo Antônio
pregava em uma plataforma improvisada na praça da cidade. Mas antes que começou
seu sermão, Antônio pausou por um momento para advertir sua audiência, "
Enquanto eu lhe estou falando, o diabo fará com que esta plataforma desmorone.
Mas ninguém se machucará." O sermão mal tinha começado quando a predição
de Antônio foi cumprida. Com um grande ruído a plataforma desmoronou. Ninguém
desanimou por sua queda. Antônio escovou a sujeira de seu hábito, e foi fazer o
seu sermão. Satanás teria que fazer muito mais do que isto para impedir que um
Franciscano zeloso como Santo Antônio de Pádua pregasse a palavra de Deus.
Santo Antônio passava muito
tempo no confessionário. Eram problemas estranhos e dolorosos de todos os
tipos. Um penitente encontrou e quando se ajoelhou nos pés do padre
Franciscano, era incapaz de confessar seus pecados. A amargura que encheu seu
coração era tão grande que simplesmente não conseguia falar. Antônio leu seu
coração e soube que o arrependimento era sincero. Sendo assim disse ao homem,
" Vá para casa, escreva seus pecados em um pedaço de papel, a seguir traga
o papel de volta para mim." Assim fez o homem. Santo Antônio mandou‑o ler
a lista, obedientemente o penitente começou com o primeiro. Admirado viu que,
cada pecado dito, desaparecia do papel. Quando o último pecado tinha sido
confessado, o papel estava perfeitamente em branco.
Em Arezzo vivia um homem
nobre, mas tão colérico que quando se irritava parecia perder o juízo. A
esposa, senhora de muito siso e prudência, teve um dia a infelicidade de
proferir umas palavras que irritaram o marido a tal ponto que ele se atirou
sobre ela espancando‑a cruelmente, chegando a lhe arrancar os cabelos. Com os
gritos da infeliz, os vizinhos correram para acudi‑la, encontrando‑a quase
morta na cama. O marido, depois de serenar, envergonhou‑se do que tinha feito e
lembrando‑se da fama de Santo Antônio, foi procurá‑lo arrependido, pedindo que
o ajudasse.
O piedoso Santo foi logo
procurar a senhora, abençoando‑a e, fazendo o sinal da Cruz sobre ela, começou
a rezar. Pouco a pouco ela foi recuperando o antigo vigor e, milagrosamente,
quando se ajoelhou aos pés do Santo, renasceu todo o cabelo.
Os últimos dias de Santo
Antônio foram passados com seu amigo, o conde Tiso, em Campo Sam Piero. Lá, na
propriedade arborizada do nobre, Antônio viu uma árvore de noz gigante e lá
iria descansar. Seus irmãos de fé, Roger e Luke Belldi, construíram uma pilha
com os galhos da árvore como um abrigo para o Santo. As pessoas vinham ouvir
Santo Antônio e para isso tinham que passar pela propriedade de um fazendeiro
vizinho que tinha plantado um campo de grãos. A compressão de muitos pés de
trigo arruinava a plantação quase madura. O fazendeiro queixou‑se ao Santo que
o consolou, e falou-lhe para voltar no dia seguinte para colher seus grãos. O
fazendeiro fez como foi dito. Quando retornou no dia seguinte, viu com
perplexidade cada bocado da grão completamente ereto e inteiramente maduro para
a colheita.
Uma mulher de Pádua foi
procurar gravetos um dia para que ela pudesse fazer um fogo em sua casa. No
caminho de volta, a mulher passou por uma lagoa na beira da estrada. Ela olhou
para o lago deu um grito de horror. No fundo da lagoa estava o corpo de sua
filha. De alguma forma, a menina tinha caído na água e se afogou. A mãe entrou
na lagoa e arrastou o corpo até à estrada. Mas era tarde demais. Na angústia da
mãe lembrou‑se de Santo Antônio e os milagres que tinha feito de seu túmulo.
Cheia de confiança no poder do Santo, ela prometeu deixar uma lembrança para a
Basílica do Santo se a vida de sua filha fosse restaurada. Logo que a mãe tinha
acabado a sua oração e fez seu voto, a filha começou a dar sinais de vida. Com
os devidos cuidados a jovem se recuperou completamente em um tempo muito curto.
Um senhor nobre de Ferrara era
tão ciumento com sua esposa que recusou reconhecer sua primeira criança como
sua. O marido insensato não tinha nenhuma razão para duvidar da fidelidade de
sua esposa mas ele não queria saber de seu filho. Em seu desespero a esposa foi
pedir ajuda a Santo Antônio. O Santo falou ao nobre por horas e finalmente conseguiu
fazer com que ele visse a irracionalidade de seu ciúme. Só aí então a
enfermeira trouxe a criança. Por um instante, sua velha irracionalidade
retornou, então Antônio virou para a criança e disse, "Em nome de Jesus
Cristo, fale e diga quem é seu pai!" A criança apontou para a nobre e, com
voz de uma criança mais velha disse: este é, meu pai!" Com isso o pai
pegou e tomou a criança em seus braços. Santo Antônio tinha ajudado a conservar
uma família e um casamento.
Ocupado na província de
Veneza, foi nessa época que um cavalheiro florentino morreu e seus parentes
planejavam um elaborado funeral para o defunto. Antônio estava no bairro e foi
convidado a pregar o sermão fúnebre. Mal sabiam os enlutados qual seria o
sermão que Antônio realmente faria. Como texto Antônio escolheu: "Onde
está o teu tesouro aí está o teu coração também.@ No meio do sermão, ele fez
uma pausa brusca. Depois, em tom solene, ele continuou: "Este homem está
morto, e sua alma está enterrada no inferno! Vamos! Abra seus cofres, e vocês
vão encontrar o seu coração!" Os parentes surpresos fizeram como o Santo
Antônio ordenou‑lhes. O baú foi aberto. Lá, no meio de todas as peças de ouro,
havia o coração do homem que, embora rico em tesouros terrestres, morreu pobre
nas coisas do Céu.
Certa vez, Santo Antônio
precisou de alojamento em Pádua e um senhor nobre, da família dos Condes de
Campo Sam Piero, teve a honra de o acolher em sua casa. Uma noite, vendo do
lado de fora do quarto de Frei Antônio alguns raios de luz, aproximou‑se e viu
o Santo segurando nos braços um gracioso Menino. Ficou cheio de espanto por tão
extraordinária maravilha.Compreendeu que se tratava do Menino Jesus que se
tornara vísivel ao Santo para recompensá‑lo com celestes consolações pelas
fadigas sofridas. Enquanto ainda observava, o Menino desapareceu. Saindo do
êxtase, Frei Antônio deixou o quarto e dirigiu‑se ao dono da casa, dizendo que
sabia que ele o havia observado durante a aparição. Pediu então com insistência
que não revelasse o que tinha visto. O senhor cumpriu a palavra, somente
revelando o fato depois da morte do Santo. A história o tocara profundamente e
todas as vezes que a relatava, não conseguia reter as lágrimas.
Um rapaz foi assassinado perto
da casa de Martinho de Bulhões, pai de Santo Antônio. Os assassinos levaram o
corpo para o quintal de Martinho e ali o enterraram, sem que o proprietário do
terreno soubesse. Mais tarde, foi descoberto pela Justiça o corpo na casa do
infeliz fidalgo e este foi acusado pelo crime. Diante dos gravíssimos indícios
de sua culpa, permaneceu quinze meses preso e, finalmente, estava sendo julgado
e seria com certeza condenado à morte. Frei Antônio foi misteriosamente avisado
do perigo que ameaçava seu pai. E foi imediatamente pedir ao Guardião do
convento que o deixasse ausentar‑se de Pádua por pouco tempo. Assim que foi
autorizado, viu‑se transportado num instante à Lisboa, indo direto ao tribunal
e, depois de beijar a mão de seu pai em sinal de respeito, tomou a sua defesa.
Os juízes ficaram impressionados com o aparecimento daquele inesperado advogado
e com a segurança com que ele falava, mas não se convenceram da inocência do
réu, tantas eram as provas que tinham de sua culpa.
Faltando testemunhas de
defesa, Santo Antônio apelou para o depoimento da vítima. Os assistentes, surpresos
com a estranha proposta, começaram a rir. Mas Frei Antônio insistiu e os juízes
levados pela curiosidade, consentiram que ele chamasse o morto como testemunha
da defesa. Chegados à sepultura do falecido, o Santo ordenou que a abrissem e
chamou o frio cadáver em voz alta, ordenando‑lhe em nome de Deus que dissesse
aos juízes a verdade sobre o seu assassinato. Imediatamente o morto levantou‑se
como se estivesse vivo e respondeu com voz sonora que Martinho de Bulhões era
inocente e não estava manchado pelo seu sangue. Em seguida, deitou‑se na
sepultura.
Santo Antônio, depois de se
despedir do pai, desapareceu. Ficaram os juízes e a assistência assombrados com
o milagre que acabavam de presenciar. O nobre Martinho de Bulhões, graças ao
seu santo filho, teve sua vida salva. Os verdadeiros culpados foram
descobertos.
Em 1231, seu sermão alcançou o
ápice de intensidade, porém, foi neste mesmo ano que o Santo foi acometido de
uma doença inesperada, e ele veio a falecer em Arcella, no dia 13 de junho, aos
36 anos de idade.
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