sábado, 20 de agosto de 2011

O Culto à Virgem Maria







Beato Papa João Paulo II
   Caríssimos Irmãos e Irmãs:

1. Na Exortação Apostólica Marialis cultus o Servo de Deus Paulo VI, de venerada memória, apresenta a Virgem como modelo da Igreja no exercício do culto. Essa afirmação constitui como que um corolário da verdade, que indica em Maria o paradigma do Povo de Deus na via da santidade: «A exemplaridade da bem-aventurada Virgem Maria, neste campo, é consequência do facto de Ela ser reconhecida como modelo excelentíssimo da Igreja, na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo, isto é, daquelas disposições interiores com que a mesma Igreja, Esposa amadíssima, intimamente associada ao seu Senhor, O invoca e, por meio d’Ele presta o culto ao eterno Pai» (n. 16).
2. Aquela que na Anunciação manifestou total disponibilidade ao projecto divino, representa para todos os crentes um modelo sublime de escuta e de docilidade à Palavra de Deus.
Ao responder ao anjo: «Faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38), e ao declarar-se pronta a cumprir de modo perfeito a vontade do Senhor, Maria entra a justo título na bem-aventurança proclamada por Jesus: «Felizes os que escutam a Palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 11, 28).
Com essa atitude, que abraça a sua existência inteira, a Virgem indica a via-mestra da escuta da Palavra do Senhor, momento essencial do culto, que se tornou típico da liturgia cristã. O seu exemplo faz compreender que o culto não consiste, antes de tudo, em exprimir os pensamentos e os sentimentos do homem, mas em pôr-se à escuta da Palavra divina para a conhecer, assimilar e tornar operativa na vida quotidiana.
3. Toda a celebração litúrgica é memorial do mistério de Cristo na Sua acção salvífica para a inteira humanidade, e quer promover a participação pessoal dos fiéis no Mistério pascal, expresso de novo e actualizado nos gestos e nas palavras do rito.
Maria foi testemunha dos eventos da salvação no seu desenvolvimento histórico, culminado na morte e ressurreição do Redentor, e conservou «todas estas coisas, ponderando-as no seu coração» (Lc 2, 19). Ela não se limitava a estar presente em cada um dos eventos, mas procurava captar o seu significado profundo, aderindo com toda a alma a quanto neles se cumpria de modo misterioso.
Maria mostra-se, portanto, como supremo modelo de participação pessoal nos mistérios divinos. Ela guia a Igreja na meditação do mistério celebrado e na participação no evento de salvação, promovendo nos fiéis o desejo de um íntimo envolvimento pessoal com Cristo, para cooperar na salvação universal com o dom da própria vida.
4. Maria constitui, além disso, o modelo da oração da Igreja. Com toda a probabilidade Maria estava recolhida em oração, quando o anjo Gabriel entrou na casa de Nazaré e a saudou. Esse contexto de oração certamente sustentou a virgem na sua resposta ao anjo e na generosa adesão ao mistério da Encarnação.
Na cena da Anunciação, os artistas quase sempre representaram Maria em atitude orante. Recordamos entre todos o Beato Angélico. Daí provém para a Igreja e para cada crente a indicação do clima que deve presidir ao desenvolvimento do culto.
Podemos depois acrescentar que Maria representa para o Povo de Deus o paradigma de toda a expressão da sua vida de oração. Em particular, Ela ensina aos cristãos como se dirigir a Deus, para d'Ele invocar a ajuda e o apoio nas várias situações da vida.
A sua intercessão materna nas bodas de Caná e a sua presença no Cenáculo ao lado dos Apóstolos em oração, à espera do Pentecostes, sugerem que a oração de súplica é uma forma essencial de cooperação no desenvolvimento da obra salvífica no mundo.
Seguindo o seu modelo, a Igreja aprende a ser audaz ao pedir, a perseverar nas suas intercessões e, sobretudo, a implorar o dom do Espírito Santo (cf. Lc 11, 13).
5. A Virgem constitui, além disso, para a Igreja o modelo na participação generosa no sacrifício.
Na apresentação de Jesus no templo e, sobretudo, aos pés da cruz, Maria faz o dom de si que a associa, como Mãe, ao sofrimento e às provas do Filho. Assim, tanto na vida quotidiana como na Celebração eucarística a «Virgem oferente » (Marialis cultus, 20) encoraja os cristãos a «oferecerem sacrifícios espirituais que serão agradáveis a Deus, por Jesus Cristo» (1 Pd 2, 5).

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