domingo, 6 de novembro de 2011

A finalidade última


Por Mons. João S. Clá Dias

A finalidade última do homem está no Céu. O dinheiro e as riquezas podem ser apenas meios - efêmeros, instáveis e dispensáveis - para alcançar esse supremo fim. Assim, é legítimo acumular bens e deles usufruir, desde que sejam adquiridos de forma lícita e seu uso esteja subordinado à glória de Deus.

Nesta linha se insere o comentário feito por São Clemente de Alexandria a esta passagem do Evangelho: "A parábola ensina aos ricos que não devem descuidar-se de sua salvação eterna, como se de antemão dela se desesperassem, não que seja preciso jogar ao mar a riqueza, nem condená-la como insidiosa e inimiga da vida eterna. O que importa é saber qual a maneira de valer-se dela para possuir a vida eterna".
Com efeito, quantos reis, príncipes ou simples pessoas abastadas que, administrando o que tinham com inteiro desprendimento, encontramse hoje no Céu como atesta o catálogo dos santos?
Por outro lado, quantos pobres há que se recusam a praticar a virtude! Bem fariam estes em ouvir a conclamação de São Cesário de Arles: "Ricos e pobres, escutai o que diz Cristo. Falo ao povo de Deus. Em vossa maioria, sois pobres ou deveis aprender a sê-lo. No entanto, escutai, pois podemos inclusive nos vangloriarmos de ser pobres; tende cuidado com a soberba, não aconteça que os ricos humildes vos superem; acautelai-vos contra a impiedade, não aconteça que os ricos piedosos vos deixem para trás".

O problema não está, portanto, na quantidade de bens materiais possuídos por alguém, mas no uso que deles se faz. Para poder entrar no Reino dos Céus, é preciso não ter apego algum a eles. A pobreza de espírito consiste em nos compenetrarmos que somos criaturas contingentes, que dependem de Deus. Pode-se lutar para se ter recursos, mas com vistas a espalhar o Reino de Deus, e fazer com que Ele reine de fato em todos os corações.
Por nosso simples esforço, jamais conquistaremos o Céu
"Eles ainda mais se admiravam, dizendo a si próprios: ‘Quem pode então salvar- se?'. Olhando Jesus para eles, disse: ‘Aos homens isto é impossível, mas não a Deus; pois a Deus tudo é possível'".
Não é de estranhar o espanto dos discípulos perante a força da comparação usada por Nosso Senhor. Mas essa mesma perplexidade os leva a considerar melhor a própria contingência e a fixar no espírito o duplo ensinamento do Divino Mestre: pelos seus simples esforços, o homem jamais conseguirá conquistar o Céu; mas aquilo que para o homem é impossível, não o é para Deus.
Deus é onipotente, ama-nos desde toda a eternidade e está desejoso de abrir-nos as portas Do Céu. Para nele entrar, é preciso apenas que sejamos humildes e reconheçamos nossas misérias, pedindo o auxílio divino, sem desanimar.
A salvação, como a própria vida, é uma dádiva de Deus. É Sua graça que nos dá forças para praticar os Mandamentos e nos torna dignos de entrar no Seu Reino. Não façamos, pois, como o moço rico, mas confiemos humildemente na Sua bondade, como ensina São Paulo na segunda leitura deste domingo: "Aproximemo-nos confiadamente do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e achar a graça de um auxílio oportuno" (Hb 4, 16).
Ainda sobre estes dois versículos, convém notar, com Maldonado, que a pergunta "quem pode então salvar-se?", os Apóstolos a fizeram "a si próprios", isto é, somente eles puderam ouvi-la. Cristo, entretanto, olhou para eles e deu-lhes a resposta, mostrando assim que "lia seus pensamentos e ouvia suas conversas, por mais reservadas que fossem".

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