terça-feira, 6 de setembro de 2011

Chamado universal à santidade


por Mons. João S. Clá Dias


Nós cristãos, enquanto batizados, temos a obrigação de não perder o estado de graça. Se, por fraqueza ou maldade, dele nos vejamos privados, com diligência devemos procurar recuperá-lo. Essa é a chamada perfeição mínima.
No Sermão da Montanha, Jesus não nos impõe a obrigação de sermos perfeitos. Porém, manifesta o desejo de que o aspirar a esse estado constitua um dos pontos essenciais da nossa existência. Além disso, tantos foram os tesouros por Ele deixados à humanidade - o Batismo, a Confirmação, a Eucaristia, etc. - que, só por gratidão a tão imensos benefícios, já seria uma obrigação da nossa parte nos colocarmos a campo para atingir a meta enunciada por Jesus.
Com muita razão, a respeito da universalidade desse dever de santidade, assim se expressa João Paulo II: "É preciso redescobrir, em todo o seu valor programático, o capítulo V da Constituição Dogmática Lumen Gentium, intitulado ‘Vocação Universal à Santidade'. (...) O dom [de santidade concedido à Igreja] gera, por sua vez, um dever que há de moldar a existência cristã inteira: ‘Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação' (1 Tes 4,3). É um compromisso que diz respeito não apenas a alguns, mas ‘os cristãos de qualquer estado ou ordem são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade' (...) Como explicou o Concílio, este ideal de perfeição não deve ser objeto de equívoco, vendo nele um caminho  extraordinário, percorrível apenas por algum ‘gênio' da santidade. Os caminhos da santidade são variados e apropriados à vocação de cada um" (3).
São Paulo é incansável em frisar a necessidade da perfeição sem limites, como substância da vocação do cristão: "Bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda a bênção espiritual do Céu em Cristo, assim como n'Ele mesmo nos acolheu antes da criação do mundo, por amor, para sermos santos e imaculados diante d'Ele ..." (Ef 1, 3-4). É comum, ao longo de suas Epístolas, encontrarmos uma verdadeira sinonímia entre os termos "cristão" e "santo", tal era o seu empenho neste particular (4).
Deus é infinito. Portanto, quem é chamado a amá-Lo tem por fim último um Ser ilimitado. O amor nosso é uma potência criada com aspiração por Deus, e por isso diz Santo Agostinho: "Nossos corações foram criados para Vós e só em Vós repousam", ou seja, a própria potência do amor em si mesma visa o infinito. Por isso afirma São Francisco de Sales: "A medida de amar a Deus, consiste em amá-Lo sem medida".
O próprio Jesus, com divina radicalidade, assim reforça o Mandamento dado a Moisés: "Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças" (Mc 12, 30). Daí se conclui termos o dever de buscar o fim em toda a sua amplitude, e de empregar, para atingi-lo, todos os meios ao nosso alcance.

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