segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O «santo» que foi para o inferno


O Padre Alonso Rodríguez, da Companhia de Jesus, conta a história de um monge chamado Heron, que era um homem de tanto recolhimento e abstinência, tão absorto em penitências e jejuns que mesmo no dia solene da Páscoa, quando  todos se juntavam na igreja e tomavam alguma recreação e comiam alguma coisa mais, ele não queria sair de sua cela, nem quebrar sua abstinência, comendo apenas algumas ervas além do simples pão e água que mesmo assim tomava com muita moderação e medida.
Suas orações eram fervorosas e prolongadas... passava horas diante do Santíssimo Sacramento em contemplação. Rezava por si mesmo, pelos outros e sobretudo por sua comunidade. Todos o consideravam um santo. Até milagres e expulsão de demônios o monge Heron fazia para os que o procuravam. 
Em todas as tentações que lhe assaltavam o demônio saía sempre perdedor, pois era motivo para que ele crescesse ainda mais nas virtudes e na prática da oração, do jejum e da penitência. 
Reuniram-se os demônios no inferno... «Não era possível permitir que este exemplo influenciasse tanto ao convento e à sociedade... era preciso fazer alguma coisa!» Mas todas as tentativas eram em vão. Até que um velho e experimentado tentador se ofereceu a derrubar o «santo». Esta arma, dizia ele, já derrubou muitas estrelas do céu e fez cair muitas colunas dos templos sagrados. É uma tática que aprendi daquele antigo «mestre» que, travestido de serpente, convenceu Eva a desobedecer a ordem de Deus. Todos estavam curiosos e calados para ouvir sua conclusão: que arma seria capaz de derrubar aquele «santo»? A soberba!
Mãos à obra, disse Lúcifer, não perca mais tempo! Vá à terra e use a soberba para trazer para nós este tal Heron que tantas perdas nos tem causado.
Discretamente, pouco a pouco, o velhaco tentador foi induzindo no pensamento de Heron a soberba e um juízo de si mesmo tão grande, que lhe convenceu, que era realmente um santo, a tal ponto que imaginou que todo o convento, ou melhor, toda a humanidade era sustentada por sua virtude e suas orações. Estava posto o «anzol» na alma do pobre monge e um dia, enquanto meditava em suas próprias virtudes, acreditou que já para ele não havia perigo nenhum nesta vida que o pudesse abalar. Mesmo que se lançasse em um poço, não sofreria dano algum, pois os anjos do céu o receberiam nas palmas de suas mãos, para que não lhe fizesse mal. Assim, em uma noite se lançou em um poço muito profundo, para provar sua virtude e grandes merecimentos, ferindo-se gravemente.
Acudiram logo os monges ao ruído e, com grande trabalho o retiraram meio morto e, vendo, claramente o dano que havia recebido, tentaram todos persuadi-lo de que se arrependesse. Não houve remédio que o fizesse crer que havia sido uma ilusão, e assim três duas depois morreu sem querer confessar-se pois dizia que não havia nenhum pecado de que arrepender-se. Tal foi a sua soberba que acabou miseravelmente.
O exemplo do monge Heron é importante para que entendamos o grande perigo que há em fiar-se de seu próprio juízo e não se render e sujeitar a quem deve, e isto por muito antigo e espiritual que seja a pessoa.
Assim, veio a dizer um santo e, com muita razão: «Quem se crê a si mesmo, não há necessidade de demônio que o tente; porque ele é demônio para si».

Cf.: RODRIGUEZ, Alonso, S.J., Exercícios de Perfeição e virtudes Cristãs, parte Terceira, Tratado Quinto, da virtude da obediência, Capítulo VII – Da obediência que se deve ter nas coisas espirituais, Pág. 237.

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